Enquanto se aguarda pelo Supremo
Tribunal de Justiça, os advogados de Sissoco anunciam a criação de comissão
para a sua investidura como Presidente da Guiné-Bissau. 27 de fevereiro
continua a ser a data apontada.
A Guiné-Bissau está em modo
suspense, enquanto prossegue o debate jurídico sobre a segunda volta das
eleições presidenciais realizada a 29 de dezembro do ano passado. Uma corrente
da sociedade entende que com o pronunciamento do Supremo Tribunal da Justiça
(STJ), não há um Presidente eleito, até que a Comissão Nacional de Eleições
(CNE) cumpra com o Acórdão da instância máxima da justiça do país.
A outra corrente, defende que com
a insistência da CNE de que já fez tudo o que tinha para fazer e que o processo
eleitoral chegou ao fim, tendo declarado Umaro Sissoco Presidente eleito, só há
uma saída: a investidura de Umaro Sissoco Embaló como Presidente República.
O país está mais do que nunca
divido e com o extremar de posições há receios de que a situação venha a
descambar. Na Carta data de 17 de fevereiro, enviada à representação da
CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, em Bissau, a
CNE reafirmou ao representante da organização sub-regional residente na
capital guineenses, Blaise Diplo, de que já tinha "esgotado as suas
competências no processo eleitoral e que nada mais pode fazer”, perante a
insistência do Supremo Tribunal de Justiça, para que se faça o apuramento
nacional dos resultados, um procedimento que a CNE disse ter cumprido.
A situação torna-se insustentável
O editor do Semanário Guineense
"Última Hora" prevê que a situação possa ganhar outros contornos.
Para Sabino Santos, o processo político atual está a escapar a CEDEAO:
"A situação, neste momento,
acredito que já esteja a escapar o controlo da Comunidade Económica dos Estados
da África Ocidental e se eventualmente escapar a CEDEAO, de certeza que a União
Africana também não terá controlo e acredito igualmente, que por mais tarde que
seja as Nações Unidas vão ter alguma intervenção direta neste processo. Eu não
sei quais são os motivos que nos levaram a chegar ao ponto em que chegamos, mas
a meu ver não havia nenhuma necessidade de chegarmos onde chegamos”, disse.
Na quarta-feira (18.02), o
coletivo de advogados do Movimento para Alternância Democrática (MADEM G-15),
que suportou a candidatura de Umaro Sissoco Embaló, pediu a intervenção da
CEDEAO para que Embaló seja investido no dia 27 de fevereiro. Pela voz de
Florentino Fernando Dias, um dos advogados de defesa de Sissoco, os apoiantes
consideram que o último acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, que ordena a
realização do apuramento nacional dos resultados, é ilegal.
Supremo Tribunal "age fora
da lei"
"O acórdão é extemporâneo.
No acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 14 de fevereiro,
foram notificadas as partes 72 horas após o término do prazo das
contra alegações sobre o recurso apresentado, quando nos termos da lei
eleitoral, o STJ tinha que decidir e comunicar a decisão no prazo máximo de 48
horas, a contar do término do prazo para apresentação das contra alegações,
artigo 147 nº 1 da lei eleitoral. Tendo em conta o que ficou acima exposto,
pode concluir-se que o acordão número 03 de 2020 é ilegal”,
esclareceu Florentino Dias.
Para Sabino Santos, o atual braço
de ferro entre o Supremo Tribunal de Justiça e a Comissão Nacional de Eleições
prejudica a democracia guineense e a aplicação das leis no país.
"A Comissão Nacional de
Eleições, independentemente de não querer aqui imputar a maior responsabilidade
à CNE, acho que não geriu bem este processo. Da forma como fez o braço de
ferro com o Supremo Tribunal de Justiça, ao ponto de chegarmos a este bloqueio
total, um bloqueio que prejudica ambas as partes, a meu ver prejudica a
democracia e a aplicação das leis no nosso país”, entende o jornalista.
Povo exige solução
E nas ruas de Bissau, os
guineenses pedem a rápida resolução do impasse político. "Acho que já
é o momento desses órgãos se entenderem para permitir o país sair desta situação”,
disse um cidadão.
Para outro entrevistado, as leis
devem ser respeitadas. "Chegou a hora de cada qual assumir as suas
responsabilidades, porque o Supremo Tribunal é um órgão que todos nós devemos
respeitar. Por isso, a CNE deve acatar [a sua decisão] para resolvermos este
problema, porque não podemos ficar nesta puxa-puxa”.
A DW África tentou sem sucesso
obter a reação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC), sobre os últimos desenvolvimentos políticos.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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