Portugal | Cuidado com os enormes passarões

Aos dias úteis a geringonça do tio Balsemão/Impresa oferece-nos o Curto… Bem, mas porquê a definição “dias úteis”? Será porque sábado e domingo são dias inúteis? Claro que não são. Tudo e todos os dias são úteis. Até os sábados e domingos, para descansar ou para folgar. 

Evidente que nos tempos atuais os sábados e os domingos são, para muitos, dias de trabalho. Nos centros comerciais, supermercados, restauração e em muitos outros setores do comércio e indústria é ver a exploração à solta e os bandulhos do patronato, assim como as suas famílias e as contas bancárias e offshores a engordarem candidamente graças aos resultados dessa exploração. Vêem? Esses dias de trabalho aos sábados e domingos são para muitos trabalhadores dia normal e no caso do comércio, nos centros comerciais e supermercados ainda trabalham mais porque há mais clientes para atender. Tantas vezes moles imensas de clientes que fazem do dia de descanso um passeio ao centro comercial e respetivas compras, porque nos outros dias (úteis?) não lhes sobra tempo para a família nem para mais nada a não ser para os patrões. Sobra que disso a legislação do trabalho está virada para o lado dos esclavagistas patronais. A agravar o panorama a fiscalização é quase inexistente ou até fecha os olhos a irregularidades do cumprimento da lei. Uns dizem que há corrupção também por aí, outros nada dizem, e existem os que negam, escandalizam. Onde está a razão e a verdade?

Avançando neste espaço que antecede o Expresso Curto, que usamos como pretexto para botar umas quantas palavras de nossa lavra, refira-se uma ínfima parte de como vai este país. Por exemplo: no setor da Justiça. Daqui del rei que as teias de aranha estão a ser destruídas na corporação dos mais poderosos! Mas não eram, nem são, as teias de aranha que nos privam de saber sobre a opacidade que abunda na Justiça e seus elementos profissionais. O que nos priva são os secretismos a que o setor sempre esteve habituado e impõe, como qualquer corporação opaca que “se preze”. Democracia na Justiça? Ora, ora. Democracia nas forças de segurança? Ora, ora. Há e haverá o dito “isto aqui não é uma democracia” nas Forças Armadas, nas policias – GNR incluída – e em muitos mais corporações. Até nas empresariais. E dizem-no, os superiores hierárquicos e outros parvalhões, com a maior das descontrações, podre descaramento e má-formação cidadã. É onde estamos, são as sociedades “livres” em que sobrevivemos… O que é feito para corrigir essa podridão cidadã? Nada. Os abusos de poder sobrepõem-se com uma pacata e descarada impunidade. Aos que esperam a prevalência e exercício da democracia, cada vez mais comem e calam por isto e aquilo de sua defesa. Para não perderem os empregos, para não deixarem má impressão e retardarem uma eventual promoção, etc…. Porque há famílias a sustentar, porque há contas a pagar… E então mandam para as calendas gregas o que é intrínseco da democracia: a defesa da lei, da cidadania, do que consta na Constituição e é para cumprir. A democracia que se lixe!

Do coronavírus, afinal algo que tem menor propagação (até agora) que a corrupção e os débitos de democracia por todo o mundo, sabemos que vai alastrando. Dispusemos no PG títulos sobre as últimas 24 horas anteriores. Verdade que a propagação do dito continua. Já é mais no resto do mundo que na China, segundo dizem. Será? E então? Já é pandemia ou têm aversão a assim declararem – a ONU/OMS, por exemplo. Por aqui julgamos que só não o fazem para conter o pânico global… As elites é que sabem. Pela parte dos governados é comer e calar. Democracia, não é?

Do que trata o Curto de hoje nem nos atrevemos a destinar uma linha nem um ai. Porque já estamos longos na prosa. Porque falar de tristezas que não pagam dívidas não é nada recomendável, porque é de esperar que contenha "quentes e boas" como as castanhas que antes se compravam em qualquer esquina das ruas da capital e noutras cidades e vilas. Isso e alcagoitas quentinhas. Uma maravilha.

Perguntarão: não referem nada sobre o futuro aeroporto do Montijo? 

Deixamos isso à consideração do constante no Curto com lavra de Martim Silva. Reservamo-nos à abordagem dessa negociata para mais tarde. Sabem? Somos de opinião que este governo está a deixar acumular tantos erros e empurrões ao Estado de Direito que vai levá-lo a talvez nem cumprir dois anos de mandato. Disso falaremos mais tarde, quando nos der na gana e seja muito mais propício. Deixem-nos acumular falsas democratizações, nas decisões e nos desempenhos. Então virão a talhe de foice.

Um bom dia para todos que se enchem de paciência e nos lêem nestas conjeturas e desabafos. Fiquem com o Martim Silva, trabalhador do Expresso na redação do mesmo. Jornalista, uma profissão apaixonante mas que envolve muitos rodriguinhos a superar. Contudo, são esses profissionais com a incumbência de desempenharem o cargo de mensageiros, melhor ou pior. Muito respeito por eles.

Apertem os cintos. Vamos levantar voo. Cuidado com os pássaros, principalmente os enormes passarões. Siga o Curto, nós também.

SC | PG

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Discutir eternamente onde fica o aeroporto. Eis o desporto favorito dos portugueses

Martim Silva | Expresso

Bom dia,

Este é o seu Expresso Curto desta quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2020, numa altura em que o coronavírus continua a dominar as atenções, cá dentro e lá fora, espalhando-se agora mais rapidamente fora da China do que no país onde tudo começou.

Ainda assim, hoje o meu destaque de abertura vai para um outro tema, que de repente aterrou em força na discussão pública e política nacional, e que não me cheira que vá abrandar tão depressa. Trata-se da discussão sobre a localização do novo aeroporto da região de Lisboa. Pois, todos pensávamos que o tema estava mais ou menos arrumado. Mas não, qual quê.

Discutir a localização de aeroportos tornou-se uma espécie de desporto nacional. É mais popular que fazer uma raspadinha.

Discutimos, discutimos, discutimos, e no final chegamos a uma conclusão. E a seguir, o que fazemos? Discutimos mais, claro. Nem que seja para discutirmos a própria discussão ou sobre quando é que vamos voltar a discutir a discussão.

(note-se que esta minha observação não implica nenhuma atitude de apoio ao Montijo ou de rejeição à Ota ou de simpatia por Alcochete. Nesta matéria sou agnóstico e a minha única convicção é que precisamos de um novo aeroporto em Lisboa. A minha observação é uma reacção de desagrado pela nossa incapacidade congénita de, perante um problema, encontrar uma solução de forma rápida e eficaz e executá-la. Só isso)

Adiante

O estado da arte é o seguinte:

Algumas câmaras comunistas da margem sul, como o Seixal e a Moita, já vieram dizer que são contra o aeroporto do Montijo. De acordo com a lei, o seu parecer é vinculativo. O Governo sugeriu uma alteração à lei para contornar este impedimento. O PSD veio ontem dizer, por David Justino, que nem pensar, por ser um entorse ao Estado de direito, apesar de reconhecer que a lei é estúpida. E a seguir, para quem tivesse dúvidas, Salvador Malheiro disse o mesmo numa conferência de imprensa.

Em resposta, no Parlamento, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, já veio garantir que não haverá dramas se a construção do aeroporto no Montijo não avançar.

À noite, na RTP, Fernando Medina disse que se o PSD não aceita alterar a lei para viabilizar o Montijo, tem de dar o passo seguinte e vir dizer qual o local em que defende o aeroporto de suporte ao Humberto Delgado.

No esgrimir de argumentos neste debate, os apoiantes da solução Montijo contaram com um precioso apoio quando José Sócrates decidiu vir a público apoiar a solução… Alcochete.

Ainda sobre Alcochete, que é bom lembrar esteve em cima da mesa quando a opção da Ota foi questionada há mais de uma década, pode perceber aqui quem são alguns dos seus principais defensores.

CORONAVÍRUS

O vírus continua a espalhar-se rapidamente, fazendo agora mais vítimas e mais vítimas mortais fora da China, o que significa uma alteração importante face ao ocorrido até aqui. Nesta altura Itália continua a ser o caso mais preocupante na Europa, e já há vários casos aqui ao lado, em Espanha. E pela primeira vez o vírus chegou ao Brasil.

Em Portugal, somaram-se oito casos suspeitos nas últimas horas, não confirmados, todos de pessoas que vieram recentemente de Itália.

As autoridades nacionais garantem estar preparadas mas a ministra da Saúde não evitou ontem um tropeção indesejado, ao falar em isolamento de possíveis infetados.

No desporto, começam a sentir-se a sério os efeitos. A Juventus e o Inter vão jogar sem espetadores nos estádios. Um jogo da Taça das Seis Nações envolvendo a Itália foi adiado. Campeonatos asiáticos de futebol estão interrompidos. E até já se fazem contas a quanto custaria adiar os Jogos Olimpícos de Tóquio.

E na economia, os efeitos nas bolsas sentem-se um pouco por todo o lado.

Aqui pode perceber como as gigantes tecnológicas como o Google e o Facebook estão a tentar travar fake news e campanhas de desinformação nos seus espaços.

Nos EUA, Donald Trump anunciou que será o vice-presidente Pence a liderar os esforços governamentais no combate ao vírus.

Há quase 40 países do planeta com casos registados de Covid-19. Que fazer em caso de estar a planear visitar algum desses Estados? Deve ou não manter a viagem? E que precauções tomar? Eis um precioso guia, AQUI.

Também aqui pode seguir a expansão do vírus, verificar como se propaga e quais são as regiões mais afetadas do planeta nesta altura.

Andamos agora a ouvir falar em ‘paciente zero’. Mas de onde vem esta expressão e como nasceu? E como é que os cientistas podem conseguir identificar o primeiro infectado na China? E o primeiro infectado que levou o vírus para a Europa ou para a Coreia do Sul?

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,

Operação Lex: Juiz Vaz das Neves arguido por corrupção e abuso de poder

O nome de Vitalino Canas, socialista, é um dos dois que vão a votos já amanhã no Parlamento para saber se são eleitos para o Tribunal Constitucional. Perante o chumbo pré-anunciado por vários partidos, Vitalino bem tentou argumentar, dizendo que anda há 40 anos a preparar-se para o cargo.

As várias propostas dos partidos para limitar as comissões bancárias vão estar hoje em discussão no Parlamento. Convém ir seguindo porque é uma daquelas discussões com impacto no seu bolso.

André Ventura, que no próximo domingo se prepara para lançar a sua candidatura presidencial, anda num braço de ferro com Ferro Rodrigues por causa do seu projecto de lei que prevê a castração química para certos casos de abusos sexuais.

Lá fora

Um tiroteio numa cidade do estado do Wisconsin, nos EUA, causou vários mortos.

Ainda nos EUA, o Colorado prepara-se para ser o 22º estado do país a abolir a pena de morte na sua jurisdicação interna.

Com a descoberta de trabalho infantil em plantações que dão origem ao café da Nespresso, quem veio a público manifestar surpresa e tristeza foi o há muito embaixador da marca, o ator George Clooney.

A violência religiosa na Índia está a assumir contornos preocupantes, com mais de 24 mortos nos últimos dias na sequência de confrontos entre muçulmanos e hindus.

Em Espanha, um corso carnavalesco com máscaras de oficiais nazis já valeu um valente protesto de Israel e o consequente pedido de desculpas.

Em França, foi retomado o julgamento do antigo primeiro-ministro Fillon, que responde por contratações fictícias e pagamentos indevidos a familiares com verbas públicas.

Crianças morrem ao frio no noroeste da Síria após ofensivas do regime de Bashar Al-Assad.

Agora que morreu Mubarak, fomos ver o que aconteceu aos outros líderes árabes que combateram a Primavera Árabe nos seus países.

No Chile, prepara-se o fim da constituição do tempo de Pinochet.

DESPORTO

Esta quinta-feira é dia de Liga Europa, com FC Porto, Benfica e Sporting a entrarem em campo. Os dois primeiros a terem de reverter derrotas, o último a ter de segurar uma vantagem.

Ontem, o Braga perdeu com o Glasgow Rangers e está fora da competição. Rúben Amorim não perde com ninguém cá dentro mas com os escoceses de Gerard perdeu duas vezes numa semana.

Na Liga dos Campeões, o Real Madrid perdeu em casa com o City de Guardiola. E a Juventus de Ronaldo perdeu frente aos franceses do Lyon.

No julgamento do caso Alcochete, o líder da Juve Leo disse que só soube do ataque pelas notícias.

Maria Sharapova disse adeus aos courts de ténis.

O QUE ANDO A LER

Anda a ser muitíssimo elogiada a conclusão da trilogia de Hillary Mantel iniciada com as obras “Wolf Hall” e “O Livro Negro”. “O Espelho e a Luz” chega a Portugal em Abril. Eis seguramente uma óptima sugestão de leitura para esta primavera, que conto não perder.

Na terça-feira lembrei aqui a morte de Vasco Pulido Valente. E ainda ontem à noite ouvi Pacheco Pereira elogiar o seu papel como historiador, nomeadamente com a escrita do relato da primeira República "O Poder e o Povo", que trouxe um novo olhar sobre esse período.

Entretanto, já peguei em "O Fundo da Gaveta", que junta dois ensaios seus sobre o século XIX, um à volta da tentativa de D. Miguel restaurar o absolutismo e um outro sobre o fracasso do radicalismo monárquico.

Finalmente, este domingo não esqueça que se vai 'gozar com quem trabalha'. É a estreia do novo programa de Ricardo Araújo Pereira na SIC.

Fico por aqui. Boas leituras e uma excelente quinta-feira.

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