Um conflito com a Assembleia e um
agravamento da má imagem da banca junto dos cidadãos era exactamente aquilo de
que o sector não precisava neste momento.
Manuel Carvalho | Público |
editorial
Faz parte das regras de um
mercado livre e aberto que os bancos sejam donos e senhores das comissões que
cobram aos seus clientes, como faz parte das regras de uma democracia que os
políticos se preocupem em defender os cidadãos face a eventuais excessos de
taxas da banca. Mas houve entre nós um momento em que esse equilíbrio se rompeu
e a defesa das posições de uns e outros se tornou mais difícil. Esta
quinta-feira, na Assembleia da República, os partidos que representam uma
maioria muito expressiva dos deputados votam
pela limitação as comissões que a banca cobra; a banca, entretanto, reagiu
avisando que a iniciativa política vai forçar o sector a eliminar balcões e
postos de trabalho e protestou garantindo que as propostas em discussão são “um
atropelo ao regime de livre concorrência”.
O problema é sério e não
recomenda as narrativas dos bons contra os maus, nem as histórias dos paladinos
das causas públicas contra os especuladores. Pelo contrário, implica
serenidade. Sim, numa economia de mercado aberta, o Governo não se deve meter
em questões comezinhas como as taxas dos bancos. Porém, o
nível das taxas cresceu de forma galopante nos últimos anos (mesmo que
fique abaixo dos níveis pré-crise, como alega a Associação Portuguesa de
Bancos) e tornou-se um problema para os consumidores que não pode passar ao
lado das atenções dos deputados.
Com uma maioria clara dos
deputados a defender limites para as comissões, a banca prepara-se para sofrer
um duro revés. Aos olhos dos cidadãos, o sector revela uma imagem de xerife de
Nottingham a precisar que o Robin dos Bosques da Assembleia intervenha. E, mais
grave, este revés surge num momento em que a banca se confronta com enormes
desafios, seja pelas actuais condições de mercado que afectam as suas margens
tradicionais, seja
pela concorrência da “nova banca” tecnológica, com estruturas mais leves e sem
comissões que lhes disputam os clientes.
Um
conflito com a Assembleia e um agravamento da má imagem da banca junto
dos cidadãos era exactamente o que o sector não precisava neste momento. Mas,
apesar de todos estes riscos, apesar das denúncias da Deco ou das ameaças
crescentes de partidos como o Bloco ou o PCP, a banca seguiu com indiferença e
soberba o seu rumo de carregar nas comissões. Agora que os partidos se preparam
para a travar, a banca protesta. Um pouco mais de prudência, de atenção aos
avisos do espaço público, de respeito pelos clientes e um pouco menos de foco
nos lucros imediatos teria seguramente evitado este problema que não interessa
a ninguém.
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