Díli, 17 fev 2020 (Lusa) - O
Partido Democrático (PD), que controla cinco dos 65 lugares no parlamento
timorense, escreveu aos dois maiores partidos a propor um diálogo para resolver
a crise em Timor-Leste, disse à Lusa o secretário-geral.
"Enviamos duas cartas, uma
para a Fretilin [Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente] e outra
para o CNRT [Congresso Nacional da Reconstrução Timorense], para tentar reunir
com os dois maiores partidos para ver as perspetivas de como podemos
ultrapassar esta crise", disse António da Conceição.
"Nos esforços de promover um
entendimento, estes contactos servem para ver até que ponto podemos ter a certeza
desse entendimento", explicou.
As cartas enviadas à Fretilin,
maior bancada no parlamento com 23 e atualmente na oposição, e ao CNRT, da
coligação do Governo, são o primeiro passo formal de tentativa de diálogo entre
os partidos.
"O que pretendermos é
promover esse entendimento com os dois grandes partidos primeiro para podermos
ter estabilidade governativa, não ter apenas um Governo para governar, mas um
Governo que garanta estabilidade", frisou.
O PD quer evitar a realização de
novas eleições antecipadas, por considerar que a "confirmação dos votos já
foi dada nas eleições antecipadas" de 2018, com a vitória da coligação
Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) e a Fretilin a ser a segunda força
mais votada, afirmou o responsável.
Conceição explicou que há cartas
preparadas para outros partidos com assento parlamentar, especialmente para o
Partido Libertação Popular (PLP), do atual primeiro-ministro, mas que o PD vai
esperar pelas respostas dos dois grandes antes de enviar as restantes missivas.
"Depois iremos aos outros".
Outras fontes do PD ouvidas pela
Lusa insistem que uma das questões essenciais do processo é "construir a
confiança" deste partido, que sente que a sua dignidade não foi
respeitada, especialmente pelo CNRT, aquando da 'expulsão' do PD do V Governo
liderado pelo CNRT.
Em causa está encontrar uma
solução para a crise política que Timor-Leste vive há vários anos, agravada com
o 'chumbo' da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020.
O antigo Presidente timorense
José Ramos-Horta tem mantido nos últimos dias vários contactos, em separado,
com os principais líderes do país, incluindo o atual chefe de Estado, Francisco
Guterres Lu-Olo, o antigo Presidente e líder do CNRT, Xanana Gusmão, o
primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e o secretário-geral da Fretilin, Mari
Alkatiri.
Em cima da mesa tem estado uma
nova possível coligação governativa, liderada pelo CNRT de Xanana Gusmão e que
excluiria o PLP, segundo fontes partidárias ouvidas pela Lusa.
Esta possível coligação poderá
integrar o PD, o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), também da
atual coligação do Governo e os três deputados das forças mais pequenas no
parlamento, Partido Unidade e Desenvolvimento Democrático (um deputado), Frente
Mudança (um) e União Democrática Timorense (um).
Para que essa coligação avance,
Lu-Olo teria que recuar na decisão, que mantém desde junho de 2018, de não
nomear mais de uma dezena de membros indigitados do executivo, quase todos do
CNRT.
A decisão do Presidente ajudou,
desde o início do mandato do Governo, a criar instabilidade política,
prejudicou a relação entre os parceiros da AMP (CNRT, PLP e KHUNTO),
agravando-se depois do 'chumbo' da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE)
para 2020, com abstenções e votos contra de deputados do CNRT.
ASP // EJ
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