A antropóloga Loretta Lou disse à
Lusa que "a atitude obediente" da população de Macau ficou expressa
quando acatou o apelo para ficar em casa para combater o surto, o que contrasta
com "a rebelião" de Hong Kong.
"Sendo elogiada como a 'boa
criança' das duas regiões administrativas especiais, a atitude obediente dos
cidadãos de Macau contrasta fortemente com a rebelião de Hong Kong",
concluiu a investigadora da Universidade de Macau, especializada em meio
ambiente, bem-estar, movimentos sociais, moralidade e ética.
Afinal, "quando o novo chefe
do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, instou a população de Macau a
ficar em casa para ajudar a conter o vírus, a maioria das pessoas seguiu o
exemplo".
A docente, doutorada em Oxford e
que tem o foco de trabalho na China, incluindo Hong Kong, Macau e
Taiwan, sublinhou que "naturalmente, isso também é possível pelo facto de
a maioria das pessoas em Macau trabalhar na indústria de jogos".
"Enquanto muitas pessoas em Hong Kong
evitaram sair, outros que não podiam trabalhar tiveram de continuar a assegurar
os negócios como sempre", enquanto em Macau "quando os casinos estão
fechados muitas pessoas não têm motivos para deixar as suas casas",
sustentou a investigadora.
Em termos globais, analisou
Loretta Lou, "a sociedade de Macau está unida na luta contra o Covid-19".
E o facto de "as pessoas estarem satisfeitas em geral com as respostas e
medidas do Governo reforça o seu sentido de comunidade", sustentou.
A antropóloga encontrou pelo
menos uma exceção: "quando a primeira paciente que recebeu alta - uma
chinesa do continente - deixou Macau sem pagar sua taxa de tratamento, a
divisão entre residentes de Macau e os 'free-riders' do continente emergiu
rapidamente", numa alusão àqueles que beneficiam de recursos,
bens ou serviços, sem pagar o custo do benefício.
A discussão pública e nas redes
sociais surgiu quando a primeira paciente recebeu alta e saiu do território sem
pagar o respetivo tratamento, um custo exigido a outros pacientes que
entretanto tiveram alta.
Esta "é uma questão que o
governo de Macau precisa tratar delicadamente, trabalhando para encontrar
um equilíbrio entre humanitarismo, justiça e diplomacia", defendeu.
Uma das primeiras medidas do
Governo de Macau para combater o risco de contágio passou por suspender as
aulas, enviar milhares de alunos e funcionários públicos para casa.
O fecho dos casinos e a
paralisação económica 'empurrou' a esmagadora maioria das pessoas para os seus
apartamentos, com as autoridades a encerrarem mesmo parques, jardins públicos e
trilhos, desdobrando-se em apelos para que a população se mantivesse em casa e só
saísse à rua em casos de urgência.
Em Macau existem atualmente cinco
casos de pessoas infetadas com o novo coronavírus, depois de
outras tantas terem recebido alta hospitalar.
O número de mortos devido ao novo coronavírus na
China continental subiu hoje para 1.770 na China continental e o de infetados ascendeu
a 70.548.
Das 105 mortes registadas nas
últimas 24 horas, 100 ocorreram em Hubei.
Além de 1.770 mortos na China
continental, há a registar um morto na região chinesa de Hong Kong,
um nas Filipinas, um no Japão e um em França.
As autoridades chinesas isolaram
várias cidades da província, situada no centro da China, para tentar controlar
a epidemia, uma medida que abrange cerca de 60 milhões de pessoas.
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: © Lusa
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