Segundo o professor universitário
venezuelano e ex-diplomata Ángel Rafael Tortolero, o autoproclamado presidente
interino do país "se veste como um gringo" e toda a sua personagem é
"made in USA".
Apesar de centenas de milhões de
dólares serem canalizados pelos EUA para a campanha de Juan Guaidó, o
autoproclamado presidente interino não cumpriu sua promessa de destituir o
presidente venezuelano Nicolás Maduro. O professor e ex-embaixador Ángel Rafael
Tortolero Leal explicou o que está por trás do fracasso da escolha americana e
para onde o dinheiro foi.
Em
conversa com a Associated Press na sexta-feira (21), o autoproclamado
presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, elogiou o apoio
"firme" do presidente norte-americano Donald Trump, e previu mais
duras sanções contra o governo de Maduro consequentes a comentários da sua visita de
fevereiro à Casa Branca e ao Fórum Económico Mundial.
No entanto, nem tudo é um mar de
rosas no campo de oposição de Guaidó em casa, apesar da bravata internacional
do autodeclarado presidente interino: em meados de janeiro de 2020, a jornalista
venezuelana Fania Rodrigues lançou luz sobre a suspeita de corrupção nas
fileiras da equipa de Guaidó, enquanto a oposição do país continua dividida
sobre a falta de transparência no que diz respeito à ajuda externa.
Fundos de Guaidó não são
transparentes
Segundo o Dr. Ángel Rafael
Tortolero Leal, professor da Universidade Nacional Experimental de los Llanos
Centrales Rómulo Gallegos, diplomata e ex-embaixador, aos olhos do povo
venezuelano, Guaidó é "um ladrão que em apenas um ano conseguiu acumular
uma grande fortuna com o saque de empresas [venezuelanas] no exterior".
Dias depois de Guaidó se declarar
o "presidente interino" do país, os EUA anunciaram ter lhe entregado
o controle das participações da Venezuela no Banco de Reserva Federal de Nova
York e nos bancos federais segurados. Mais tarde, o então presidente da
Assembleia Nacional ganhou o controle das empresas públicas venezuelanas que
operam fora do país.
Além disso, de
acordo com o site da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional (USAID, na sigla em inglês), desde o ano fiscal de 2017, os EUA destinaram mais de US$ 656 milhões (R$ 2,88
bilhões) em assistência humanitária e de desenvolvimento para enfrentar a crise
venezuelana. Em sua seção de perguntas e respostas, a USAID insiste que
"nenhum fundo é fornecido diretamente" ao governo de Guaidó.
No entanto, um memorando interno obtido pelo The Los Angeles Times em julho de 2019,
indica que fundos norte-americanos no valor de cerca de US$ 40 milhões (R$
175,6 milhões) foram alocados especificamente para pagar os salários do
"governo interino", tarifas aéreas, treinamento em boa governação,
etc.
Até agora, a equipa liderada por Guaidó não apresentou nenhum relatório abrangente sobre como está sendo gasto o dinheiro fornecido pela USAID e outras agências para o país,
e as receitas dos ativos extraterritoriais da Venezuela.
"Guaidó nunca relatou nada
sobre os fundos recebidos, e é por isso que mais de metade dos deputados da
oposição o abandonaram", explica o Dr. Tortolero. "A discrepância
entre o que é dito pela USAID e o que é revelado pelas investigações
jornalísticas nos permite ver claramente que existe uma guerra multifatorial na
Venezuela que afeta direta e criminalmente o povo venezuelano e os cidadãos
americanos comuns, que vêem como seus impostos são desviados pela classe
política que os governa".
A justiça na Venezuela é 'lenta,
mas segura'
Em 20 de janeiro, o presidente da
Assembleia Nacional, Luis Parra, anunciou a criação de uma comissão especial
que supervisionará uma investigação sobre o uso dos supostos fundos de ajuda
humanitária enviados pela USAID à oposição venezuelana.
Em entrevista ao Diário do Centro do Mundo, em
janeiro, Parra disse que a gestão de empresas públicas venezuelanas no exterior
também levanta suspeitas de possíveis desvios maciços, referindo-se, em
particular, à Monomeros da PDVSA, com sede na Colômbia, e à Citgo, com sede nos
EUA.
"Na Venezuela, a justiça é
lenta, mas segura", ressalta Tortolero. "Guaidó enfrenta um calvário
de processos e acusações da justiça e de pessoas enganadas pelas suas
promessas, pelas quais terá de pagar em breve. Lembre-se que, em nossa
legislação, os crimes contra o 'bem da comunidade' ['cosa pública'] não têm
estatuto de limitações, o que significa que a justiça levará seu tempo, e a
cada dia haverá mais crimes acrescidos ao processo judicial contra Guaidó por
seus atos".
De acordo com o ex-embaixador, há
provas suficientes da corrupção de Guaidó e seus associados, e não há dúvida
de que o Estado vai continuar as investigações sobre eles.
"Enquanto isso, os governos
da região que jogaram seu peso atrás dele e as figuras da oposição que
acreditavam que ele poderia tomar o poder por assalto, continuarão a retirar-lhe seu apoio, o que se evidencia na diminuição da resposta pública aos seus
apelos a marchas, reuniões e comícios", diz o professor.
Porque os venezuelanos devem apoiar
Maduro
Segundo o Dr. Tortolero, a figura
do Guaidó personifica "uma oposição sem liderança, sem um projeto
nacional, que abraçou os sinais e símbolos da suposta supremacia do império dos
EUA sobre o resto dos povos do mundo".
"O personagem que representa
o autoproclamado presidente Guaidó é 'made in USA'", opina o
ex-embaixador. "Ele cumprimenta pessoas como Obama; se veste como um
gringo e até posa em frente à câmara para obter imagens gráficas que
demonstrariam seu 'heroísmo'".
Mas, na realidade, Guaidó é
"um político de pouca importância, sem coerência nas suas ações, que
tentou causar o caos para derrubar o governo bolivariano [da Venezuela], e a
única coisa que pode conseguir é pulverizar a oposição que o seguiu",
destaca o diplomata.
Ele observa que o autoproclamado
presidente se torna insignificante quando comparado com o
legítimo líder do país, Nicolás Maduro.
"Se não fosse a forte
vontade do presidente Maduro e da equipe de patriotas que lealmente o
acompanham em todas as ações de defesa do Estado de Direito e Justiça
bolivariano, certamente estaríamos no caos".
"Não se trata de impulsionar
o ego do presidente, glorificá-lo, lisonjear seu poder e pecar como um
lisonjeador, mas, pelo contrário, reconhecer nele os valores de nossa
identidade venezuelana e a expressão de nossa forte vontade de permanecer
livres", disse.
Por isso, o apelo é à unidade
tática com o comandante-em-chefe Nicolás Maduro Moros, que sem dúvida
continuará a conduzir-nos no caminho da vitória. Juan Guaidó e a direita que o
apoia estão derrotados. Trump falhou com esta tentativa [de golpe], e nós
continuaremos superando as dificuldades".
Sputnik | Imagens: 1 - © AP Photo /
Fernando Llano; 2 - © AP Photo / Andrea Hernandez
Briceño; 3 - AFP; 4 - Carlos Garcia Rawlins / Reuters
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