Quanto mais se aperta o cerco a
Higino Carneiro, mais este se torna ameaçador ao Presidente angolano. Ao
contrário do clã dos Santos, não dá sinais de recear as consequências da
campanha de Lourenço contra a corrupção.
Ao que tudo indica, o general
Higino Carneiro não se está a deixar intimidar pela ofensiva de combate à
corrupção de João Lourenço. É que supostas provas que comprometeriam o estadista
angolano foram divulgadas, deixando-o numa "saia justa".
Recentemente, o Novo Jornal
publicou um artigo sobre empresas que teriam confirmado que o Governo
Provincial de Luanda (GPL), gerido por Carneiro de 2016 a 2017, teria
patrocinado a campanha eleitoral de João Lourenço para as eleições de 2017.
Desde que foi aberto um processo
contra si, em meados de 2018, por suspeitas de corrupção, que Higino Carneiro
não hesitou em dar a entender que o dinheiro público não justificado nas contas
do GPL teriam beneficiado o próprio Lourenço.
Onde estão as provas?
Apesar das crescentes investidas
contra o Presidente, o analista Osvaldo Mboco entende que é preciso mais do que
isso.
"É fundamental que se prove
estas alegações, de que, de facto algumas empresas alegam que, de facto, houve
um financiamento do Presidente João Lourenço", defende o analista.
E Mboco prossegue: "Por isso
é que temos um processo de investigação que está a correr os seus tramites
normais sobre esta matéria. Agora, quanto ao depoimento do general Higino Carneiro
dar a entender ou não que houve de facto isso, também terá de provar".
Apertos de cercos
Parece que quanto mais a Justiça
angolana aperta o cerco a Carneiro, mais este se torna ameaçador a João
Lourenço. Em fevereiro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) aumentou
esforços para identificar e recuperar em Portugal bens de altas figuras
angolanas envolvidas em esquemas de corrupção, entre elas do general.
E a Justiça angolana merece, por
esse tipo de ações, um voto de confiança, entende Osvaldo Mboco: "E
parece-me que hoje as instituições judiciais começaram, de facto, a criar uma
nova dinâmica. E quero crer que, de facto, esses caso será tratado com outros
casos que temos assistido no país, porque se assim não for, tendo conta
dos argumentos de uma gestão danosa por parte do general Higino Carneiro e não
for tomada as devidas medidas poderemos entrar num ciclo que demonstra que
estamos perante uma justiça seletiva".
Isabel dos Santos não conseguiu
ir tão longe quanto Carneiro
Mas o general, considerado
"intocável", não foi o único a ameaçar o Presidente angolano em
situação de aperto, a filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos também o
fez recentemente. Numa entrevista ao Expresso, Isabel dos Santos também
ameaçou divulgar os contornos da caça ao voto envolvendo a petrolífera
Sonangol. Contudo, a justiça angolana asfixiou-a financeiramente com uma ação,
o que terá feito Isabel dos Santos fechar a boca, numa aparente medida de
prudência ou medo.
"Quanto as insinuações que
foram feitas pela engenheira Isabel dos Santos era fundamental que a engenheira
pudesse fundamentar ou apresentar alguns dados ou informações que interferem o
seu posicionamento ou que tem informações, que tem provas que possam
comprometer a imagem de João Lourenço", diz Mboco.
Lei admite que candidatos recebam
doações
Importa sublinhar que nas
eleições de 2017 João Lourenço foi o cabeça de lista do MPLA, partido que
governa, e na altura dirigido por José Eduardo dos Santos. O facto de ter sido
escolhido por eleição indireta dá ao atual Presidente margem para imputar
responsabilidades ao MPLA em caso de se apresentarem provas contra si?
Para Luís Jimbo é especialista em
eleições "este não é um problema, não é um facto, o facto é como é que o
dinheiro foi dado. Porque se foi dado nos termos da lei, como doação, não
importa se foi João Lourenço que recebeu ou se foi o partido que recebeu. A Lei
admite que os candidatos recebam doações."
Contudo, o especialista recorda
que não será fácil provar que foram doações ao candidato do MPLA, mas as
revelações das empresas comprometem politicamente uma elite no partido.
Consequências para João Lourenço?
E se o general Carneiro vier, de
facto, a comprometer o Presidente angolano, como tem estado a sinalizar, quais
seriam as consequências para a imagem de João Lourenço e para uma das maiores
bandeiras do seu Governo, a luta contra a corrupção?
"As consequências seriam
logo a partida a desacreditação por parte da população, porque vamos ter
elementos que vão contrariar o discurso do Presidente [de combate à corrupção].
Mas só as investigações é que poderão, de facto, determinar o curso dessa
pretensão", responde Mboco.
Higino Carneiro foi constituído
arguido em fevereiro de 2019. Mas o general é também deputado e por isso
coberto por imunidade. De qualquer forma o especialista em eleições Luís Jimbo
acredita que este caso não passará do nível da especulação e da querela
política.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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