A forma como Umaro Sissoco Embaló
se dirigiu ao Presidente João Lourenço e ao seu país não se enquadra nas
relações internacionais, alerta especialista em relações internacionais.
É a primeira vez que uma
"autoridade" política guineense ataca, publicamente, um homólogo
angolano e o seu país, desde o início das relações políticas e diplomáticas
entre os dois países, que já duram desde a luta armada para a independência dos
dois estados.
As declarações do dia 13 de
março, proferidas por Umaro Sissoco Embaló, declarado como Presidente da
Guiné-Bissau pela CNE, podem minar as relações entre os dois estados, observa,
Midana Pinhel, especialista em relações internacionais.
"Essas declarações com
certeza vão minar as relações com Angola, caso o poder que está instalado na
Guiné-Bissau venha-se consolidar. Como se sabe, Angola não é só um país
lusófono, mas é um país tradicionalmente amigo da Guiné-Bissau, que
independentemente disso, estamos num mundo globalizado em que os parceiros e as
relações internacionais devem ser cada vez mais próximos um do outro",
avalia Pinhel.
"Quando se trata de um poder
que ainda tenta afirmar-se e ter um reconhecimento internacional, eu acho que
este tipo de discurso não é recomendável por aquilo que se espera da
consolidação de um poder que ainda não se encaixa no quadro legitimo e nem num
quadro legal da ordem constitucional da Guiné-Bissau", diz o especialista.
Mas na opinião do comentador
político Françoal Dias, não deve haver motivos para alarme.
"A Guiné-Bissau e Angola são países irmãos e por declarações de
um ou de outro lado, ou qualquer que seja, não deve ser interpretado como
motivo para corte de relações entre os países. Vamos lembrar que as relações
são entre os estados e não entre os indivíduos", sublinha.
Na semana passada, proveniente de
um périplo a alguns países da Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental (CEDEAO), Embaló insurgiu-se contra uma alegada posição de Angola em
relação à situação na Guiné-Bissau.
"Disparou" contra
Angola e o seu Presidente João Lourenço, a quem acusa de ingratidão:
"Penso que o país mais violento que existe no século XX e XXI é Angola e
mataram-se entre eles irmãos. Podem imaginar eu, Umaro Sissoco Embaló, a pegar
no filho de José Mário Vaz e pô-lo nos calabouços ou pegar a família de Mário
Vaz e pô-la nos calabouços? Eu não sou ingrato. Mas o meu homólogo angolano
está a perseguir quem lhe deu o poder de bandeja, eu sou eleito pelo povo, mas
João Lourenço foi posto no poder por José Eduardo dos Santos, que é um homem
que deu paz a Angola."
Melhor é fazer sempre amigos
Perante essas declarações de
Umaro Sissoco Embaló, Midana Pinhel defende que, as autoridades em funções na
Guiné-Bissau devem procurar melhorar as relações com Angola, através do diálogo.
"Devem criar um fórum em que
se tente estabelecer e estreitar as relações, porque senão isto só pode
continuar a minar e dificultar um reconhecimento, a nível internacional deste
poder", sugere Pinhel.
E o especialista em relações
internacionais lembra o seguinte: "Em relações internacionais devemos
preocupar-nos sempre em ter mais amigos, porque só temos a ganhar,
independentemente de um Estado, por mais longe que esteja dos nossos
interesses, e sem relações históricas tradicionais, é sempre recomendável e
desejável os discursos de amizade, como fazem os diplomatas."
O apoio de Angola
Angola foi um dos países que
apoiou financeiramente o processo eleitoral na Guiné-Bissau, contribuindo, em
2019, para as eleições legislativas, com um milhão de dólares.
Entre 2010 e 2012, uma missão
técnica militar angolana esteve na Guiné-Bissau, para ajudar as autoridades na
implementação das reformas nos setores da Defesa e Segurança. Mas a equipa
acabou por ser descartada, depois do golpe de Estado que depôs o regime de Carlos
Gomes Júnior.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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