Rui Sá* | Jornal de Notícias |
opinião
Na semana passada contei aqui o
drama de uma mãe com dois filhos menores que foi despejada pela Câmara do Porto
de uma habitação municipal na Ribeira do Porto.
Mãe que, em 2017, face ao
falecimento da sua progenitora, regressou a casa dos pais, onde tinha nascido e
vivido, para passar a viver com o pai que, com 89 anos, não podia ficar sozinho
- atitude que, felizmente, muitos filhos têm e a que apenas damos valor quando
sabemos daqueles que são abandonados em hospitais ou que morrem sozinhos em
casa sem ninguém dar conta...
Esta cidadã não tentou, em
momento algum, enganar a Câmara. Quando se autonomizou, pediu à Câmara para ser
"desarriscada" do agregado familiar. Tal como, quando regressou,
solicitou para ser reinscrita no agregado familiar (o que é regulamentarmente
possível, designadamente tendo em conta o motivo invocado de acompanhamento
familiar). E comunicou o posterior falecimento do pai, chegando a ter recibos
emitidos pela Câmara em seu nome. Não obstante esta situação, Rui Moreira e o
seu vereador da habitação decidiram fazer o despejo, deixando sem teto duas
crianças de 8 e 12 anos.
Numa primeira fase, Rui Moreira,
consciente do repúdio que a situação estava a causar (não apenas na Ribeira,
mas um pouco por toda a cidade) decidiu fazer o papel de "polícia
bom", apelando a que não se discutisse o caso individual, que reconhecia
como dramático, para se discutir a situação em abstrato de gestão do património
habitacional. Mas, face ao crescimento do repúdio, com o assunto a não esmorecer
na Comunicação Social, com a oposição a não calar o seu protesto e perante uma
manifestação com mais de uma centena de pessoas à porta da Câmara em
solidariedade com Joana, "fugiu-lhe o pé para o chinelo" e fez sair
um comunicado que é (mais) uma nódoa na história da sua presidência. Divulgando
dados pessoais que deviam estar protegidos (caso dos rendimentos da família e
das rendas que pagava), com mentiras de permeio (que a família não tinha pedido
reingresso, por exemplo). Mas o que é verdadeiramente escandaloso é que ensaia
um assassinato de caráter de Joana, insinuando que, no fundo, esta é uma
oportunista e que tinha ido viver com o pai por interesse, ou seja, para ficar
com a casa!...
Bastava olhar para ela para ver
que tal não é verdade! Mas o que verdadeiramente mexe comigo é esta tendência
dos poderosos de considerarem que os mais fracos são, sempre, presumivelmente
culpados até prova em contrário!... Os fins (justificar o despejo) não podem
justificar os meios (esta calúnia)! Pelo que tenho vergonha, como autarca e
como cidadão do Porto, deste comportamento que não se coaduna com a alma
tripeira!
*Engenheiro
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