Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias
| opinião
Numa crise, em que impera a
incerteza e o medo se impõe à racionalidade, resistir ao populismo é o único
caminho para não tornar a cura tão fatal como a doença. Não há razão nenhuma
para confiarmos nos que tudo criticam, porque eles serão os primeiros a criticar
quando fizermos o que eles pedem.
Descontando o Chega, com um
comportamento abutre, os restantes partidos da oposição, mais ou menos
assertivos na defesa dos seus pontos de vista, têm tido um comportamento
bastante elogiável. Rui Rio tem estado exemplar como líder da oposição. A
chefiar o governo, António Costa também tem revelado uma capacidade de
liderança essencial num tempo de combate e unidade nacional. Dispensava-se o
"excesso de entusiasmo" com que garantiu que não faltava nada nos
hospitais, porque era evidente para toda a gente que faltava. Isso retira
alguma confiança, numa altura em que precisamos de viver esta crise certos de
que nos estão a dizer a verdade toda.
São igualmente dispensáveis
protagonismos desnecessários de autarcas que até se têm revelado como um
exemplo de iniciativa e trabalho no combate à Covid-19. Rui Moreira e Salvador
Malheiro têm estado na linha da frente e merecem o nosso aplauso mas, ontem, o
autarca do Porto a desqualificar a DGS por ter cometido o erro de pré-anunciar
um cerco à cidade e, no passado, o autarca de Ovar ao antecipar-se a esse
anúncio não contribuíram para a tranquilidade que tanta falta nos faz por estes
dias.
Mau mesmo é a quantidade de gente
nas redes sociais, locais de muita irracionalidade e para onde se deslocaram a
totalidade das conversas dos cafés que agora estão fechados, se transforma em
profissional da desgraça. E não estão sozinhos, com eles estão muitos ilustres
comentadores e políticos. São os que criticaram por não termos avançado de imediato
com o Estado de Emergência e a paralisação de toda atividade económica não
essencial. E que agora criticam por não estarmos a despejar na economia o
dobro, o triplo ou quádruplo do anunciado. E que vão criticar, quando chegar o
momento de lançar a retoma, por não termos ainda mais milhares de milhões. E
que se vão indignar, quando chegar a hora de pagar a fatura, por não termos
sido capazes de perceber a irresponsabilidade de ter sido mãos largas sem
perceber que tinha de haver limites. Haverá depois um momento em que os
profissionais da desgraça não estarão todos juntos. Será o momento em que tudo
tiver que ser resolvido com austeridade para voltar a diminuir o valor da
dívida. Aí, os ilustres vão encher o peito de orgulho e fazer de conta que
avisaram contra os desmandos que eles queriam no dobro. Eles passarão a
concordar com o que tiver de ser feito, os que pagam sempre a conta é que não
vão achar piada nenhuma.
*Jornalista
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