sábado, 14 de março de 2020

Portugal | Preparem-se para o combate


Inês Cardoso | Jornal de Notícias | opinião

A decisão de encerrar escolas, serviços e espaços comerciais era muito aguardada, mas é apenas o início de uma batalha gigantesca.

Será um erro alguém baixar a guarda ou criar a ilusão de que as medidas tomadas permitirão conter a epidemia. O objetivo é travar e ganhar tempo, mas sem falsas esperanças em relação ao que nos espera. E é aqui que os comportamentos individuais ganham importância acrescida.

Ainda há quem defenda que alterar rotinas é ceder ao medo ou que as restrições de liberdade são uma escolha. Nada de mais errado. Neste caso não há escolhas individuais. Há uma responsabilidade coletiva. Porque a questão não é apenas de autoproteção, mas sobretudo de percebermos que todos somos potenciais veículos de contágio. Nós, sem fatores de risco e relativamente jovens, temos de proteger os mais idosos ou vulneráveis. Cuidar efetivamente uns dos outros.

Já todos olhámos para Itália e ouvimos relatos dramáticos de médicos italianos. "Preparem-se!", têm repetido para os colegas em toda a Europa. Preparemo-nos todos, porque o serviço de saúde precisa que cada um de nós colabore. Precisamos de evitar que a curva de casos dispare ainda mais rapidamente e que haja uma necessidade simultânea de um número absurdo de internamentos.

Vamos ser muito claros. Há dois aspetos essenciais a reter nesta equação. Um, diretamente relacionado com os comportamentos, é de que a propagação deste vírus é muito rápida, razão para limitarmos contactos e seguirmos sem o menor desvio os cuidados recomendados. O outro, com consequências nos serviços e na assistência, é o facto de uma grande percentagem de doentes infetados precisar de assistência respiratória. Os equipamentos e recursos são limitados e não queremos que os nossos médicos se vejam confrontados com as escolhas dramáticas de Itália, decidindo que doentes deixam para trás. E também não queremos lançar as nossas equipas médicas, já de si expostas a tantos riscos, em quadros de exaustão e falência. Que ninguém deixe de interiorizar e partilhar esta mensagem: a responsabilidade é nossa. E este é mesmo o combate das nossas vidas.

*Diretora-adjunta

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