sábado, 14 de março de 2020

Portugal | Corridas ao supermercado com o Covid-19. Sector garante abastecimento


Retalho garante ter capacidade de reposição dos produtos em lojas. Portugueses têm corrido às lojas e entregas online registam pico de procura.

À medida que o número de casos diagnosticados de Covid-19 sobe, a "corrida" dos portugueses aos supermercados aumenta. O sector do retalho alimentar assegura ter capacidade para manter sem falhas o abastecimento das lojas e responder ao "aumento de procura", mas ir aos supermercados e deparar-se com prateleiras inteiras vazias no final do dia é algo a que os consumidores se têm vindo a habituar. E nem o online parece estar a solucionar na totalidade o pico de procura dos portugueses. Os tempos de entrega estão a ficar dilatados e entregas em uma hora ou no próprio dia parecem estar fora de questão. Pingo Doce e Recheio vão ter horários reduzidos a partir de segunda-feira.

O Governo garante que não há razões para corridas aos supermercados. "Isso pode gerar um alarme que é injustificado", disse João Torres, secretário de Estado do Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, à saída da primeira reunião do grupo de trabalho entre o Governo, entidades públicas e associações do setor produtor agroalimentar, retalho, distribuição e logística das cadeias de abastecimento. O responsável afastou um cenário em que sejam impostos limites à quantidade de produtos com que os portugueses enchem o carrinho, afirmando que os operadores asseguram "que há todas as condições para repor os produtos em prateleira".

"Não estamos na iminência de ruturas de stock dos géneros alimentícios mais relevantes e essenciais", assegurou João Torres, pelo que "não se verificam necessidades (...) do estabelecimento de um número máximo de produtos que podem ser comprados, por tipologia". As empresas do setor, disse, estão a articular-se "para suprir as necessidades que se estão a verificar com a maior celeridade possível", para que "a rotação de produtos nas prateleiras seja feita".


A generalidade dos operadores tem vindo a registar um aumento da procura. "Temos assistido a um acréscimo significativo nas vendas de artigos de 1ª necessidade e também nos artigos de farmácia e básicos de saúde e higiene corporal. Algumas das nossas lojas já esgotaram o gel desinfetante", adianta fonte oficial do Intermarché ao DN/Dinheiro Vivo. E o mesmo admite o Lidl. A cadeia "tem registado um aumento de afluência às suas lojas, assim como do volume de compras em diversas categorias", tendo já definido "vários cenários possíveis" para responder a esta situação.

"Estamos há várias semanas a trabalhar com os fornecedores e os vários parceiros da cadeia de valor para garantir o fornecimento de bens através das lojas. Estamos empenhados em proporcionar uma normal experiência de compra aos portugueses", diz a cadeia alemã com mais de 250 supermercados pelo país.

Esta sexta-feira o grupo Jerónimo Martins anunciou que a partir de segunda-feira, a mesma data em que as escolas vão ser encerradas, os supermercados Pingo Doce e o cash & carry Recheio vão ter horários reduzidos. "Apartir da próxima segunda-feira, 16 de março, as lojas do grupo Jerónimo Martins em Portugal (Pingo Doce, Recheio, Bem-Estar, Hussel e Jerónymos) vão passar a ter um horário de funcionamento reduzido e metade dos colaboradores dos escritórios centrais passarão a trabalhar a partir de casa, de forma rotativa", adiantou Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins, em declarações à Lusa. As lojas Pingo Doce fecharão no máximo às 19h e as do Recheio às 16h.

Entregas online com prazos dilatados

Com mensagens das autoridades de saúde a instar os portugueses à contenção social, muitos têm recorrido às entregas online para abastecer a dispensa. Mas os prazos de entregas estão a dilatar. No Continente Online, uma simulação para uma entrega na região de Lisboa, dá prazo de entrega para 28 de março.

E o marketplace Mercadão, que no retalho alimentar assegura entregas do Pingo Doce, já está a informar os clientes que "há várias zonas em que o serviço já não consegue garantir entrega no dia seguinte ou seguintes." O marketplace tinha vindo a registar aumentos de 30% no seu volume de negócios, mas na última semana, adiantou Gonçalo Soares da Costa, CEO do Mercadão, tem registado uma subida de 10 pontos percentuais face a igual período do ano passado. "Crescemos em todas as zonas, mas os principais centros urbanos (Grande Lisboa e Porto) são os mercados mais relevantes", diz. "Tivemos um crescimento também do valor da cesta média. Mais do que a categoria A ou B, vemos os consumidores a aproveitar a ocasião para comprar em maior valor, pois as entregas são grátis acima dos 100 euros".

O marketplace garantia entregas no mesmo dia. Mas em 48h, a procura foi de tal ordem, que deixou poder de assegurar esse prazo de entrega. "Estamos a verificar um pico muito acentuado de procura no Mercadão, com os seguintes impactos: capacidade cheia para vários dias de entrega em algumas zonas; alguns atrasos pontuais, mais ruturas", informa o Mercadão numa mensagem no site.

E não são os únicos a sentir esse aumento de procura. "Esta semana tem-se verificado um aumento nas vendas online acompanhando a tendência verificada na loja física", diz fonte oficial do Intermarché. "Nas compras online temos tido picos de procura e os clientes são avisados dos eventuais condicionalismos na entrega inerentes à situação atual."

Os constrangimentos impostos pelo surto de Covid-19 está ainda a impor alterações na forma de funcionamento do serviço. No caso do Continente Online "as entregas ao domicílio passarão a ser efetuadas à porta do cliente não havendo entrada dos nossos funcionários no local", informa a marca da Sonae MC no site. O cliente irá "receber um SMS no dia anterior à data de entrega escolhida a relembrar o horário de entrega".

Ao contrário do habitual, "não será efetuada a recolha de sacos de plástico no âmbito da nossa política de reciclagem. Creditaremos o valor em Cartão Continente, considerando que efetuou a devolução total dos sacos da encomenda anterior." A cadeia recomenda ainda que os clientes paguem com cartão de Crédito, MB Way ou PayPal, "de forma a evitar o pagamento no ato da entrega."

Ana Marcela | Diário de Notícias

Ana Marcela é jornalista do Dinheiro Vivo

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