segunda-feira, 6 de abril de 2020

A Cruz que afinal não veio para Lisboa -- Expresso Curto


Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Pedro Lima | Expresso

Bom dia,

Eis-nos chegados à Semana Santa, celebração maior do mundo cristão e que este ano, à semelhança de tudo o resto no nosso dia-a-dia, vai decorrer de forma anormal, confinada, por causa da pandemia de covid-19. Este ano, o Domingo de Ramos, que assinala a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, ficou marcado por mais uma imagem histórica, a da Basílica de São Pedro vazia enquanto o Papa celebrava a missa. Já antes, a 27 de março, correram mundo as imagens de Francisco a rezar sozinho na Praça de São Pedro.

A Páscoa, além de representar um momento de retiro espiritual para muita gente, também era um período de férias para grande parte dos portugueses. Comecemos por isso, por lhe desejar uma boa Páscoa, a melhor possível, atendendo aos constrangimentos que todos vivemos.

Na homilia deste domingo, o Papa apelou à solidariedade para os que sofrem e estão sozinhos e exortou a Humanidade a centrar-se no que é essencial. Porque, como referiu, “o drama que estamos a atravessar impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não é para servir. Porque a vida mede-se pelo amor”.

Francisco anunciou também que a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude, que esteve dois anos no Panamá – país onde se realizaram as últimas jornadas – só será entregue a Lisboa no dia 22 de novembro. Esta Cruz simbólica, que foi entregue a jovens católicos pelo Papa João Paulo II, em 1984, e tem percorrido todos os continentes, saiu do Panamá a 23 de junho, com destino ao Vaticano, e deveria ter sido entregue este domingo a uma delegação portuguesa, para assinalar o facto de as próximas Jornadas Mundiais da Juventude se realizarem em Lisboa, em 2022.

Tal como muitos outros eventos, também este ato simbólico foi adiado. Tal como as nossas vidas, que continuam adiadas, à espera de melhores dias, à espera que tudo corra o melhor possível, que acabem as mortes, os medos – e que esta gigantesca crise económica que já estamos a viver seja devidamente atacada e os seus danos minimizados.

Posto isto, passemos então às notícias - relacionadas com a pandemia e não só - que têm estado a marcar Portugal e o mundo.

34 dias após ter sido conhecido o primeiro infetado em Portugal, os números mais atuais divulgados este domingo apontam para 11.278 casos confirmados, mais 754, ou 7,14%, do que no dia anterior, com 295 vítimas mortais. São números que vão no sentido de um abrandamento nas mortes e infeções no país e que parecem mostrar que as medidas tomadas na sequência da declaração de Estado de Emergência estão a funcionar – mas é precisamente por isso que é importante não baixar a guarda.

A nível mundial, o número de vítimas no mundo já chegava ontem a 65.600, com 1.184.481 infetados.

A ministra da Saúde deu uma entrevista à RTP onde admite que o uso de máscaras pode vir a ser recomendado. O Conselho de Escolas Médicas anunciou entretanto que defende o uso generalizado de máscaras.

Marta Temido admitiu que os grupos privados de saúde poderão ser chamados a aliviar o sistema público – já antes tinha dito que a pressão está a aumentar sobre o Serviço Nacional de Saúde.

A ministra garantiu também que Portugal duplicou a capacidade ventilatória dos hospitais e está previsto para breve a chegada ao país de mais 508 ventiladores. Mas admitiu também que a concorrência entre países por estes equipamentos não está a ser fácil – os Estados Unidos, por exemplo, têm estado a ser acusados de ‘desviar’ encomendas que eram para outros países. A propósito disso, pode ler aqui quem é Ming Hsu, a milionária chinesa que doou 4,6 milhões de euros em equipamento médico a Portugal.

Hoje o presidente da República vai reunir por videoconferência com os presidentes da CGD, BCP, Santander Portugal, Novo Banco e BPI. O objetivo é ver de que forma os bancos já estão e poderão ainda estar mais a apoiar as empresas e as famílias.
São várias as vozes que têm apelado para que banca retribua agora o apoio que recebeu do Estado aquando da anterior crise iniciada em 2007.

Os números mais atualizados, divulgados este sábado pelo governo, apontam para quase 32 mil empresas a recorrer ao lay-off, o que impacta cerca de 552 mil pessoas. E em quatro dias houve 102.708 recibos verdes a pedir ajuda à Segurança Social, perante a paragem total das suas atividades, segundo o Ministério do Trabalho.

A rainha britânica Isabel II dirigiu-se aos seus súbditos para incentivar o Reino Unido a lutar contra a pandemia apelando às virtudes do seu povo e aproveitando também para elogiar o pessoal de saúde.

Entretanto Boris Johnson deu ontem entrada no hospital por ter uma febre alta persistente. E na Escócia a diretora-geral de saúde demitiu-se após ter sido apanhada a furar o confinamento.

Em Espanha começam a ver-se alguns sinais de esperança, pois registaram-se os números mais baixos dos últimos nove dias. E em Itália, o número de mortos foi o mais baixo em três semanas. O grande foco de preocupação é os EUA, que têm o maior número de infetados. Pode encontrar todas as notícias relevantes no plano internacional, sobre a pandemia, aqui.

OUTROS ASSUNTOS

Luanda Leaks Isabel dos Santos contesta o arresto da sua participação na NOS, uma decisão que considera abusiva.

Radiações Um incêndio florestal atingiu a zona interditada da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, mas as informações sobre o aumento dos níveis de radiação não batem certo.

Futebol Depois de meio mundo do futebol europeu ter andado a comentar o prazo alegadamente dado por Aleksander Ceferin, líder da UEFA, a união das federações europeias de futebol, para que os campeonatos de futebol estejam concluídos até 3 de agosto, eis que afinal tudo não terá passado de um mal entendido.

FRASES

“Todos temos medo, mas este é o momento de equilibrar o medo com a coragem: a coragem de ficar em casa, a coragem de continuar a ajudar os outros, desde que devidamente protegidos, a coragem de pedir ajuda quando precisamos dela” – Marta Temido, ministra da Saúde

“Neste momento, muitos eventos estão suspensos, mas são visíveis os melhores frutos do desporto: resistência, espírito de equipa, fraternidade, dar o melhor de si” – Papa Francisco, sobre o Dia Internacional do Desporto ao serviço do Desenvolvimento e da Paz, que se assinala hoje

“A Europa não pode falhar desta vez, é tempo de a Europa proteger os europeus desta calamidade e desgraça. Houve resistências durante demasiado tempo a dar passos para avançar” – Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol

“Sinceramente, acho que, para algumas pessoas, a ideia dos eurobons se tornou tóxica desde a crise do euro” – Johannes Hahn, comissário europeu para o Orçamento

O QUE ANDO A LER

Nestes tempos de confinamento passou teoricamente a haver tempo para fazer coisas para as quais antes nunca havia tempo. Parecendo que não, isso é uma dádiva. O problema é quando aparecem muitas coisas que apetece fazer – pode-se cair numa espécie de frustração.

O livro que destaco hoje chama-se “Receitas vegetarianas”, uma edição Deco Proteste. Por questões de saúde e por questões éticas tem crescido o número de pessoas que reduz o consumo de carne, ou o abandona pura e simplesmente. Mas neste livro percebe-se que estas receitas não são necessariamente ‘modernices’, pois nele pode ler-se que “quando se fala de vegetarianismo, muitos pensam logo em pratos confecionados com tofu e seitan, alimentos distantes daquilo que é a tradição gastronómica portuguesa. No entanto, a cozinha vegetariana está bem mais próxima do que se imagina. Pode ser feita à base de fruta, vegetais, cereais e leguminosas presentes nas nossa cozinha desde sempre e que crescem há séculos nas quintas e hortas por esse país fora”.

O QUE ANDO A OUVIR

No dia em que a Hungria proclamou um Estado de Emergência sem prazo para terminar e com pesadas limitações dos direitos, liberdades e garantias dos seus cidadãos - que já levou muita gente a classificar este país como “a primeira ditadura da União Europeia” - um amigo fez-me recordar, através das redes sociais, a banda húngara Meszecsinka, que tenho estado a ouvir. O disco foi comprado em 2018 no Festival Músicas do Mundo (este ano cancelado devido à covid-19) após o concerto desta banda que toca uma espécie de ‘folk psicadélico’.

Outro disco em escuta chama-se “Cajarana” de André Henriques. O nome do disco é inspirado numa novela brasileira onde havia uma personagem chamada André Cajarana. Nesta sua estreia a solo o vocalista da banda Linda Martini brinda-nos com 12 canções. Numa delas - “Uma casa na praia” - pergunta “E se a gente fugisse para longe daqui?/ E a escola dos putos?/ E vivemos de quê?/ A cidade que fique a pousar para o turista/ Vamos desaparecer/ Uma casa na praia/ Tens os pés cheios de areia”.

Tenha um excelente dia na nossa companhia, sempre em www.expresso.pt. E proteja-se, evite ao máximo contactos desnecessários, entre em recolhimento, guarde a energia para os tempos que aí virão, após a pandemia.

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