Quem é Ming Hsu, a milionária
chinesa que doou 4,6 milhões de euros em equipamento médico a Portugal?
Não só doou recentemente milhões
em equipamento médico a Portugal, incluindo 80 ventiladores, como há duas
semanas ofereceu material ao Hospital de Santa Maria. Mas esta não é a primeira
vez que a sua “paixão filantrópica” se revela em Portugal. A Nova SBE é um dos
projetos com o seu nome, que também consta da base de dados dos Paradise
Papers, que o Expresso com o Consórcio Internacional de Jornalistas de
Investigação revelou
Nasceu em Taiwan, tem grande parte
das suas empresas sediadas em Hong Kong mas também investiu em imobiliário em
Portugal. É casada com um norte-americano e tentou comprar campos de golfe que
pertenciam ao Grupo Espírito Santo. A recente doação de 4,6 milhões de euros em
equipamento médico, incluindo 80 ventiladores, pela promotora imobiliária de
luxo Reformosa, foi notícia no sábado. A promotora é da empresária e filantropa
chinesa Ming Chu Hsu, mas afinal quem é ela?
O site “Macau Business” procurou,
em tempos, responder a essa questão, e um dos aspectos para o qual chamou logo
a atenção foi o facto de Ming Hsu ter doado uma quantia descrita como bastante
generosa para a Nova School of Business & Economics (Nova SBE). Foram dois
milhões de euros, lê-se no próprio site da universidade: “Temos orgulho em
anunciar que a empresária e filantropa Ming Chu Hsu doou dois milhões de euros
para apoiar este ambicioso projeto”. Segundo a faculdade, Ming Chu Hsu “é uma
empresária no setor imobiliário e dos bens de luxo que financiou muitas
empresas” e que tem “uma clara paixão filantrópica”.
A publicação da faculdade inclui,
aliás, um testemunho da própria empresária, em que esta assume “que está
continuamente à procura de projetos com impacto” e que o da construção do novo
campus da Nova SBE em Carcavelos (que inaugurou em 2018) inclui-se nessa
categoria. Esse novo campus, acrescenta ainda a empresária, “é um passo em
direção ao futuro que irá permitir uma nova abordagem num estabelecimento de
ensino superior que está cada vez mais comprometido com a sociedade e o mundo
corporativo”.
A informação disponível sobre
Ming Chu Hsu é escassa, tudo o que existe são pistas, mas pistas que não devem
ser descartadas. De acordo com o “Macau Business”, o nome da empresária chinesa
consta da base de dados de empresas ‘offshore’ do Consórcio Internacional de
Jornalistas de Investigação no que diz respeito à fuga de informações que ficou
conhecida como “Paradise Papers” (e que pode ser consultada no link em baixo) e
que o Expresso, em seu devido tempo, revelou.
Segundo o “Macau Business”, a
empresária chinesa criou a empresa, a Meformosa, através de outra ‘offshore’, a
Leslela Internacional, localizada nas Ilhas Virgens Britânicas.
E se o nome Reformosa - a
promotora imobiliário que fez agora a doação para a compra de equipamento
médico, no contexto da pandemia de covid-19 - pode soar pouco familiar, a
verdade é que já investiu milhões no setor imobiliário em Portugal. Exemplo
disso é o empreendimento de luxo Bloom Marinha, em Cascais, em que a empresa
investiu 100 milhões de euros, segundo o Expresso. Há também registo de muitos outros
investimentos em projetos no mesmo setor na capital portuguesa, Lisboa, através
de diferentes empresas. O Expresso sabe que Ming Hsu tentou também adquirir
alguns dos campos de golfe que pertenciam ao Grupo Espírito Santo, mas a
aquisição foi impedida por ordem judicial.
No site da Reformosa, a empresa
promete redefinir o conceito de luxo imobiliário, adiantando que possui
investimentos em locais como o centro de Lisboa, Cascais e Setúbal. Com sede na
Rua Miguel Lupi, faz publicidade a edifícios nos Restauradores, Avenida da
Liberdade e Avenida D. Carlos. O antigo Hotel Cidadela, também em Cascais, está
atualmente em obras para se tornar num condomínio de luxo intitulado Legacy.
DE TAIWAN PARA AS EMPRESAS E O
MUNDO
Informações biográficas de Ming
Hsu também escasseiam, mas a Columbia Business School dedica-lhe algumas linhas
no seu site. Nascida em Taiwan, a empresária chinesa saiu do país quando tinha
17 anos e passou os 20 anos seguintes em Nova Iorque, onde fez formação
superior na área da matemática e das finanças, na Universidade de Nova Iorque.
Em 1992, recebeu o seu MBA.
Trabalhou em Wall Street e depois
integrou a Texcomm, empresa de media e de produção de eventos fundada pelo
conhecido jornalista norte-americano e especialista em relações públicas Tex
McCrary. Depois dos seus estudos na Columbia Business School, criou a sua
própria empresa, a TRM, ligada ao setor imobiliário. Ocupou uma série de cargos
executivos noutras empresas em Inglaterra, Hong Kong e África do Sul, ligadas
às indústrias mineira e aeroespacial, publicidade e marketing, e imobiliário.
Mas a sua “paixão e motivação” não vêm tanto disso, de criar e espalhar
empresas, mas da “filantropia”.
Pelo menos até à data em que
Columbia Business School tornou públicas estas informações sobre a Ming Hsu, a
empresária chinesa vivia na China com o marido e os dois filhos. Informações
não confirmadas dão conta de também ter casa em Portugal. Em dezembro passado,
Ming Hsu visitou o Instituto do Plasmas e Fusão Nuclear, tendo conhecido os
projectos Pegasus e Voxel na companhia do presidente do Instituto Superior
Técnico, Arlindo Oliveira.
OS MILHÕES EM MATERIAL E
EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
No sábado, foi noticiado que a
sua promotora imobiliária Reformosa ofereceu equipamento médico a Portugal no
valor de 4,6 milhões de euros. O primeiro-ministro António Costa, em entrevista
a um canal de televisão português, há duas semanas, já havia mencionado uma
doação de ventiladores por parte de uma cidadã chinesa, sem contudo referir o
nome.
Em comunicado enviado à imprensa,
a promotora explica que entre o material oferecido pela empresa encontram-se
“cerca de 80 ventiladores topo de gama“, que chegaram a Lisboa neste domingo
“para suprimir necessidades de hospitais portugueses”. Além dos ventiladores,
foram doadas “ um milhão de máscaras, 22 mil fatos de proteção, 100 mil pares
de luvas, 100 mil óculos de proteção e 10 mil toucas”.
A ajuda em equipamento médico que
agora começa a chegar a Portugal destina-se, conforme explicou a empresa em
comunicado, a “profissionais de saúde de várias instituições hospitalares onde
está identificada a carência deste material, tendo sido organizada em
cooperação com o governo português, a embaixada de Portugal na China e a Câmara
Municipal de Lisboa”. “Todo o equipamento foi entregue ao embaixador português
em Pequim José Augusto Duarte, chegando a primeira parte a Lisboa já este
domingo de manhã e o restante durante a próxima semana.”
Ainda segundo o comunicado, ainda
há duas semanas a empresária ofereceu um conjunto de materiais de proteção
médica ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Além disso, “organizou um
consórcio de empresas luso-chinesas que já reuniram mais de 200 mil euros para
entregar a entidades oficiais portuguesas”.
Helena Bento | Miguel Cadete |
Expresso
Imagem em Expresso
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