quarta-feira, 1 de abril de 2020

Moçambique | Ataques em Cabo Delgado: Centenas de deslocados chegam a Pemba


Deslocados fogem da violência nos distritos de Mocímboa da Praia e Quissanga, na província moçambicana de Cabo Delgado. Chegados a Pemba, a capital provincial, contam horrores.

Há cada vez mais famílias a chegar a Pemba, fugindo dos ataques armados no norte. Só nos últimos dias chegaram à cidade centenas de pessoas provenientes de Mocímboa da Praia e de Quissanga, duas localidades atacadas pelos homens armados.

Alguns chegam a Pemba a pé, outros de barco. O local de desembarque é o bairro de Paquitequete.

À chegada, uma das pessoas que fugiu de Quissanga conta os horrores passados a 25 de março, quando o local onde vivia com a sua família foi tomado pelo grupo armado que aterroriza a região há cerca de três anos.

"Nenhuma casa eles deixaram lá. Acho que [os atacantes] têm umas bombas que lançam e produzem fogo. Entraram ali numa noite. Tive de correr de lá para as Quirimbas e, no dia seguinte, apanhei barco para aqui."

Crianças morrem pelo caminho

Na fuga para Pemba, à noite, "três crianças morreram no mar", conta o deslocado.

Sem casa, nem família para o acolher em Pemba, recusa regressar a Quissanga, pelo menos enquanto a violência continuar.

"Daqui a três ou quatro meses estou aqui. O problema é que a situação lá não é boa", afirma. "Deus é que sabe, mas onde eu estou não tenho nada. Se Ele vai conseguir alguma coisa para me ajudar, Ele vai ajudar."

O herói Ismail

No meio de todo o sofrimento, a DW África encontrou um herói: o marinheiro Ismail tem corrido muitos riscos e transportado os deslocados de Mocímboa da Praia e Quissanga para Pemba.

Acabado de chegar a Pemba, Ismail conta que saiu de Quissanga no domingo carregando 150 pessoas e que "muita gente que vivia em Mocímboa acabou por fugir. Uns foram para Nampula, Nacala e outras zonas".

O marinheiro assume que tem"medo" mas que precisa de "ajudar as pessoas, porque ainda não acabaram".

Alguns dos deslocados que chegam a Pemba conseguem acolhimento. No quarteirão C do bairro de Paquitequete, por exemplo, foram recebidas 250 pessoas, que depois foram encaminhadas a famílias de acolhimento.

Segundo Alifo Corrente, chefe do quarteirão, chegaram até agora 92 homens, 117 mulheres e 41 crianças."

Outras pessoas que não conseguiram alojamento tiveram de seguir para outros destinos.

Delfim Anacleto | Deutsche Welle

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