terça-feira, 21 de abril de 2020

Moçambique | Covid-19 vai continuar a impossibilitar a vida normal no país


“Aqui em Moçambique nós não vamos voltar à vida normal a partir do dia 30 de Abril”, Dr. Ilesh Jani

Embora tenha a expectativa “que todos os nossos 39 casos (de covid-19) serão casos que vão recuperar” o director-geral do Instituto Nacional de Saúde (INS) respondeu a pergunta do @Verdade que é a dúvida de todos os moçambicanos, voltaremos à vida normal no fim deste mês? O Dr. Ilesh Jani não podia ter sido mais claro: “Estou em crer que nós aqui em Moçambique nós não vamos voltar à vida normal a partir do dia 30 de Abril”. Entretanto mais quatro casos positivos do novo coronavírus foram diagnosticados no nosso país neste domingo (19), todos na Província de Cabo Delgado, elevando para 39 o cumulativo de casos. A boa notícia é que outros quatro doentes ficaram curados na Cidade de Maputo.

“Até hoje, 19 de Abril de 2020, em Moçambique, foram testados 1 037 casos suspeitos, dos quais 85 nas últimas 24 horas. Dos novos casos testados 81 revelaram-se negativos e 4 foram positivos para o coronavírus. Portanto, o nosso País tem, actualmente, 39 casos positivos, sendo 31 de transmissão local e 8 importados. Os novos casos positivos estão relacionados com a investigação em curso em Cabo Delgado, sendo 1 em Afungi e os outros 3 na cidade de Pemba”, actualizou a Directora Nacional de Saúde Pública que referiu que para o novo recorde de testes realizados pelo Instituto Nacional de Saúde 41 foram de casos suspeitos em Cabo Delgado, 13 em Inhambane, 28 na Cidade de Maputo, dois na Província de Gaza e um na Província da Zambézia.

Falando em conferencia de imprensa a Dra. Rosa Marlene precisou que: “O primeiro caso positivo é de um indivíduo do sexo masculino, de nacionalidade moçambicana, com mais de 40 anos de idade, residente em Afungi que esteve em contacto com um caso confirmado. O segundo caso é de um indivíduo do sexo masculino, de nacionalidade sul-africana, com mais de 30 anos de idade que esteve em contacto com casos confirmados em Cabo Delgado. Este caso registou-se na cidade de Pemba”.

“O terceiro caso, é de um indivíduo do sexo masculino, com mais de 40 anos de idade, de nacionalidade sul-africana, que esteve em contacto com casos confirmados em Cabo Delgado. Este caso registou-se na cidade de Pemba. O quarto caso positivo é de um indivíduo do sexo masculino, de nacionalidade norte-americana, com mais de 40 anos de idade que manteve contacto com um dos casos confirmados em Cabo Delgado. Este caso registou-se na cidade de Pemba”, detalhou a Dra. Rosa Marlene que esclarceu ainda que “todos os casos novos aqui descritos não apresentam sintomatologia e, por isso, encontram-se em isolamento domiciliar. Neste momento decorre o processo de mapeamento dos contactos destes casos”.

O @Verdade apurou que dos 39 infectados em Moçambique 26 são trabalhadores da petrolífera francesa Total que lidera o projecto Mozambique LNG, de exploração de gás natural na Área 1 da Bacia do Rovuma.

A boa notícia, divulgada pela Directora Nacional de Saúde Pública, é que, “em Moçambique, temos o registo de mais quatro recuperados. Assim, actualmente, temos um total cumulativo de 8 recuperados. Isto significa que, actualmente, o nosso país tem 31 casos activos”.

“A nossa expectativa é que todos os nossos 39 casos serão casos que vão recuperar”

Quatro semanas desde que foi diagnosticado o primeiro caso do novo coronavírus no nosso país o director-geral do INS fez um sumário epidemiológico: “Nós estamos, por enquanto, como uma pandemia igual a outros países da Região, salvo a África do Sul, mas o exemplo de outros países (SADC) mostra que a partir de certo momento o número de casos vai aumentado, como é o caso da Tanzânia que é muito similar a de Moçambique”, não descartando a existência de casos não diagnosticados.

O Dr. Ilesh Vinodrai Jani revelou aos jornalistas em Maputo que 82 por cento dos doentes da covid-19 são do sexo masculino, com idades entre os 10 e 49 anos de idade, 2/3 são de nacionalidade moçambicana e que nenhum tem sintomas graves, apenas 5 por cento tem sintomatologia ligeira.

“A partir dos 39 casos positivos diagnosticados foram identificados 440 contactos, cada caso teve em média mais de 10 contactos, é um número muito grande, destes contactos 314 estão em seguimento e 126 tiveram alta, são contactos que ou por falta de sintomas ou testagem se revelaram não estarem infectados pelo vírus que causa a covid-19”, explicou ainda o Dr. Jani indicando que “Como a maior parte dos nossos casos (positivos) ou estão assintomáticos ou tem sintomatologia ligeira o que vai acontecer nos próximos dias é que os nossos casos, a medida que o tempo for passando e as testagens forem realizadas nestes indivíduos quando chega o momento certo, vamos ter estes indivíduos todos a serem recuperados. Portanto a nossa expectativa é que todos os nossos 39 casos serão casos que vão recuperar”.

“Não vamos voltar à vida normal a partir do dia 30 de Abril”

Questionado pelo @Verdade se depois da meia noite de 30 de Abril o Estado de Emergência irá terminar e os moçambicanos poderão sair normalmente das suas casas regressando as actividades laborais e escolares o director-geral do Instituto Nacional de Saúde, que tem um Ph.D. em imunologia pela Universidade de Londres, não cria ilusões: “Eu penso que não. A nossa curva (epidemiológica) continua a registar casos, o Governo irá decidir em breve sobre que medidas de contenção serão implementadas durante o mês de Maio, mas nós não iremos voltar à vida normal”.

“Vejam o que acontece em muitos países depois de medidas de nível 3 ou são implementadas medidas de nível 4 ou continua-se a implementar medidas de nível 3. Em alguns países após várias semanas de medidas de nível 3 foram implementadas medidas um pouco mais ligeiras mas a vida não volta ao normal. Estou em crer que nós aqui em Moçambique nós não vamos voltar à vida normal a partir do dia 30 de Abril”, argumentou.
No entanto o Dr. Jani deixou a esperança, dependendo do respeito dos moçambicanos pelas medidas do Estado de Emergência, que não deverá haver um lockdown. “Entendamos que as medidas de nível 3 que foram decretadas dizem que cada um de nós deve limitar ao absolutamente essencial as suas deslocações, incluindo as deslocações inter-provinciais. Neste momento não temos nenhuma evidencia de transmissão comunitária do vírus, todos os casos que nós temos diagnosticados até agora são relacionados com cadeias de transmissão esporádicas, como por exemplo a cadeia de transmissão relacionada com o caso índex em Afungi, houve outras cadeias de transmissão esporádicas que nós identificamos e bloqueamos através de processos de quarentena e isolamento dos casos positivos”.

“Portanto neste momento continuamos a dizer a que as pessoas devem limitar as suas movimentações ao essencial para que evitemos a todo o custo que o país tenha de implementar medidas de nível 4. A implementação de medidas de nível 4 num país como Moçambique seria catastrófico para uma camada muito vulnerável da nossa população”, concluiu o responsável máximo dos epidemiologistas moçambicanos.

Adérito Caldeira | @Verdade

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