Diplomatas africanos estão
indignados e protestaram pela violenta discriminação e espancamentos de
africanos a residir na China. A antiga embaixadora da União Africana nos EUA,
Arikana Quao, na sua conta do Twitter, mostrou a sua profunda indignação
e apelou ao presidente Xi Jinping para tomar medidas urgentes.
De acordo com os testemunhos a
que tive acesso, por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus, os
africanos são obrigados a fazer quarentenas, apesar de não terem viajado, e são
“orientados” a sujeitarem-se a tomar vacinas, sabendo todos nós que ainda se
vive um período experimental.
Africanos espancados com barras
de ferro, murros e pontapés
Segundo vídeos e relatos
partilhados nas redes sociais, vários cidadãos de origem africana a residir na
China, muitos deles estudantes, têm sido sujeitos a discriminações de todo o
tipo, são impedidos de entrar em supermercados e em outros locais públicos.
Mas, muito pior, como demonstra o
vídeo, há espancamentos violentos contra africanos, uma situação lamentável que
também já foi denunciada pela Amnistia Internacional.
No vídeo observa-se um africano a
ser espancado na rua por 7 ou 8 chineses, em plena luz do dia.
Estudantes expulsos dos
apartamentos dormem nas ruas
Em Guangzhou (China), estudantes
negros foram obrigados a sair dos seus apartamentos, apesar de terem pago seis
meses de renda, acusados pela população chinesa de terem transportado o novo
coronavírus para a China. A revolta é enorme, através do vídeo (Facebook) é visível a
indignação dos estudantes ao referirem que “não são animais, não são cães”.
Arikana Chihombori protesta pelo
Twitter e apela ao presidente chinês
A antiga embaixadora da União
Africana nos EUA, Arikana Chihombori Quao, médica, conhecida mundialmente
por ser uma grande activista em prol dos mais indefesos, no dia 14 de Abril de 2020
publicou na sua conta do Twitter um veemente protesto contra a violação dos
direitos humanos na China contra africanos, uma “discriminação inaceitável”,
refere Arikana, com contornos xenófobos e racistas.
Para além de demonstrar a sua
indignação, Arikana Chihombori apelou ao Presidente Chinês, Xi Jinping (Facebook), para
que tome medidas urgentes no sentido de parar a violência e fomentar a
irmandade entre os povos de África e da China.
China e África, cooperação
comercial ou neocolonialismo?
A ideia do desenvolvimento de uma
cooperação entre a China e muitos países africanos ganhou força nos últimos
anos com detrimento para os EUA e os países da União Europeia.
Apesar de não haver ocupação
geográfica violenta como fizeram os países europeus durante a
colonização, nem derrubes de governos como bem sabem fazer os EUA na
América Latina e em alguns outros países, a questão colocada por muitos
intelectuais e políticos africanos é que esta nova realidade pode começar a
apresentar contornos de um novo neocolonialismo.
A relação da China com África
tem-se pautado pelo forte investimento da China neste continente sendo certo
que na última década esse investimento é superior a 250 bilhões. Os principais
países africanos a serem envolvidos incluem África do Sul, Angola, Burundi, Egipto,
Etiópia, Malawi, Nigéria, Quénia, RDC e Zâmbia.
Até 2016, segundo um estudo do
«Afrobarometer», uma rede pan-africana que avalia as atitudes públicas em
questões económicas, políticas e sociais em África, cerca de 65% da população
africana encarava o relacionamento da China em África como uma vantagem porque
estava a contribuir para o aumento da qualidade de vida, com a construção de
hospitais, edifícios públicos e estradas nos países africanos que referi.
Um dos maiores exemplos da
cooperação entre a China e África é o projecto «Standard Gauge Railway», a
construção de um sistema ferroviário que liga a Tanzânia aos países vizinhos do
Ruanda e Uganda e a partir destes a conexão do Burundi à República Democrática
do Congo, num total de 2.9 mil quilómetros de linhas férreas.
No âmbito da aproximação sino-africana
mais de um milhão de chineses vivem em África. Apesar da interrogação
«cooperação ou neocolonialismo?» , eu não acredito que vá haver um recuo no
relacionamento entre a China e África, contudo, se esta situação de violência
não for travada pelas autoridades chinesas poderá despoletar uma reacção
contrária e os cidadãos chineses, também eles, serem molestados de forma
violenta.
*PhD em Educação / Universidade de
Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário