Como
a luta antirracista sacudiu a arrogância e planos da ultradireita. As frestas
na cúpula do poder. As multidões pacíficas e o ataque a símbolos do sistema.
Negros e brancos juntos nas ruas. Trump, emblema de um capitalismo sociopata
Richard Greeman | no Counterpunch | em Outras Palavras | Tradução
de Antonio Martins e Simone Paz Hernández
Deflagrados
pelo assassinato de George Floyd pela polícia e alimentados pela relutância das
autoridades de Minneapolis em prender e processar os três cúmplices do
assassino, os protestos de multidões varreram os estados Unidos como intensidade
inédita desde os anos 1960. Em mais de 150 cidades, os afro-americanos e seus
aliados encheram as ruas, enfrentando a pandemia de covid-19 e a violência da
polícia. Desafiaram séculos de desigualdades de raça e classe, exigindo
liberdade de justiça para todos e colocando em xeque uma estrutura de poder
racista e corrupta, baseada em repressão violenta.
1.
Brechas nas defesas do sistema:
Depois
de dez dias seguidos na ruas, a indignação popular contra a injustiça
sistemática abriu diversas brechas no muro de defesa do sistema. As autoridades
legais do estado de Minnesota, onde Floyd foi morto, foram forçadas a prender e
indiciar todos os policiais envolvidos, por homicídio de segundo e terceiro
graus. Surgiu uma divisão na cúpula do poder nacional, onde secretário de
Defesa e diversos generais do Pentágono divergiram de seu comandante-em-chefe,
Donald Trump, que tentou mobilizar o exército contra os manifestantes.
O
levante histórico é um transbordamento da raiva acumulada dos negros, em
décadas de assassinatos policiais. Ele articula o luto acumulado de famílias e
comunidades, o ultraje diante da impunidade de policiais assassinos tanto no
Norte quanto no sul do país. Reflete a ira diante da traição do “sonho” de
Martin Luther King de uma revolução não violenta e o horror diante da volta de
uma era de linchamentos públicos, estimulada por Trump. A revolta demanda, com
impaciência, que os EUA enfim cumpram seus alegados ideais democráticos. Nas
palavras de um manifestantante negro, William Achukwii, de 28 anos, de São
Francisco: “Nossa Declaração de Independência fala de vida, de liberdade e de
busca da felicidade. Agora, estamos tratando da parte que diz respeito à vida.
É o primeiro passo. Mas é por liberdade que muitas pessoas estão marchando”.
2. Violência
e Não Violência:
Não
foi nenhuma surpresa que autoridades locais e estaduais, em todo o país,
reagissem a protestos muito majoritariamente pacíficos e espontâneos
desencadeando uma espiral de violência policial militarizada [1]. Há muitos
anos, a Casa Branca oferece silenciosamente, aos governos locais, enormes
volumes de material militar excedente – inclusive tanques de guerra. Os chefes
de polícia ansiavam por brincar com seus novos brinquedos letais, concebidos
para liquidar a contra-insurgência em lugares como o Afeganistão. Tanto sob
presidentes republicanos (Bush e Trump) quanto sob democratas (Clinton e
Obama), o Estado armou as forças da ordem para uma contrarrevolução preventiva.
É a isso, precisamente, que se referiu Trump, quando pediu “controle completo”,
por meio de repressão militar, detenções em massa e longas sentenças de prisão
em nome da “lei e da ordem”. Graças à determinação das multidões de
manifestantes, quase sempre não violentos, os militares dividiram-se e Trump
não foi capaz de executar sua ordem.
A
respeito da violência, temeu-se no início que os numerosos incidentes de
incêndios, destruição de vitrines e saques – especialmente à noite, quando as
grandes multidões de manifestantes haviam voltado para casa – pudessem de
alguma maneira distorcer o levante e oferecer u pretexto para a supressão
violenta de todo o movimento. E o que pediu Trump, que culpou um imaginário
grupo terrorista chamado ANTIFA (abreviação de “anti-fascismo”, na verdade uma
rede decentralizada). Ao mesmo tempo, relatos de gangues de racistas brancos
usando chapéus MAGA (“Make America Great Again – Faça os EUA grandes de novo”)
e cometendo atos de vandalismo; ou de “aceleracionistas” atiçando fogo em
comunidades negras para “provocar a revolução; ou de provocadores violentos da
polícia não podem ser menosprezados totalmente.
Tais
ações jogam água no moinho de Trump. Contudo, as vocês mais sensatas das
centenas de milhares de manifestantes não violentos, porém irados, talvez não
tivessem sido ouvidas pelas autoridades se não houvesse, nas bordas, a ameaça
da violência. Em vez de incendiar suas próprias comunidades, com ojá aconteceu
em rebeliões passadas,os militantes de agora estão atingindo estrategicamente
símbolos da repressão estatal e do capitalismo. Incendeiam e destroem aparatos
da polícia, jogam lixo nas lojas de corporações bilionárias e chegam a
pressionar as cercas da Casa Branca. De qualquer forma, já que se falou de
“saques”, a porta-voz dos Black Lives Matter lembrou, no funeral de George
Floyd, que brancos saqueiam a África e os afroamericanos há séculos. Reparações
são há muito necesssárias.
3.
Convergência de Antirracistas Negros e Brancos:
O
mais notável e comovente, ao ver as faces apaixonadas dos manifestantes, em
fotos, vídeos e relatos da TV e dos jornais, é perceber que ao menos metade dos
que gritavam “Black Lives Matter” eram brancos. Também aqui, abriu-se uma
imensa brecha no muro de racismo estrutural e institucionalizado que permitiu
por décadas, à classe dominante norte-americana, dividir e submeter as massas
trabalhadores. Ela aprendeu a jogar os escravos, e seus descendentes
discriminados, contra os escravos assalariados brancos, numa corrida
competitiva pra baixo. Agora, os oprimidos estão se unindo para lutar por
justiça e igualdade. Também é notável o papel de liderança das mulheres,
especialmente negras, tanto na fundação do movimento #BlackLivesMatter quanto
na Marcha das Mulheres diante da posse de Trump. A participação de jovens e
velhos, de LGBTs e de portadores de deficiência também dev ser destacada.
Esta
convergência de lutas pela liberdade, em meio a divisões étnicas profundamente
enraizadas promete abrir novas avenidas, assim que os movimentos sociais
emergirem do confinamento pela pandemia. Ainda mais notáveis, embora limitados,
foram os casos de policiais que se desculparam individualmente pela violência
policial, abraçando vítimas e se ajoelhando diante dos manifestantes.
Autoridades como o prefeito de Los Angeles foram obrigadas também a se
encontrar com os que estavam nas ruas e se desculpar por declarações racistas.
Mais ainda: como veremos a seguir, surgiram divisões importantes na unidade dos
militares norte-americanos, tanto em sua base – que é composta em 40% de negros
– quanto entre os altos escalões. É enorme a potência deste movimento inter-racial,
auto-organizado e massivo, que exige “liberdade e justiça para todos”, citando
as belas palavras do Juramento de Fidelidade à República.
4.
Divisões no interior do regime:
Depois
de dez dias em que os protestos cresceram sem parar, tanto numericamente quanto
na profundidade de seus sentidos, começaram a surgir divisões na defesa da
classe dos bilionários. Elas chegaram à Casa Branca, onde Donal Trump,
governante auto-iludido, ignorante e mentiroso patológico, foi finalmente
desafiado por seus próprios assessores de segurança.
Vale
dizer que a classe governante bilionária tem, em Trump, o representante que
merece; e a inépcia do presidente, visível para todos, é simbólica da
incapacidade desta classe para manter o direito a governar. A personalidade
cindida e autocentrada de Trump encarna os estreitos interesses de classe do
0,1%, que concentram mais de metade da riqueza do país. Seu egoísmo óbvio
expressa o dos bilionários que ele representa (e entre os quais finge figurar.
Do alto de sua ignorância intencional, Trump fala de uma classe capitalista
corporativa indiferente às consequências sociais e ecológicas de sua ânsia sem
limites em acumular, seu desprezo à verdade, à justiça – e, ao final de contas,
à própria vida humana.
O
governo patético de Trump embaraça o próprio Estado. Primeiro, veio o
espetáculo pueril do homem mais poderoso do mundo agachado no bunker do porão
da Casa Branca e determinando que as luzes fossem apagadas (para que ao
manifestantes não pudessem enxergar o lado de dentro?). Em seguida, veio a
ordem de atacar manifestantes pacíficos com armas químicas, para “limpar
terreno” a sua caminhada até a “Igreja do Presidente” (à qual ele nunca
comparece, e cujo pastor ele não se dignou a consultar), para que o
fotografassem agarrado a uma Bíblia branca e enorme (que, muito provavlemente,
ele nunca leu).
Trump,
cujo único êxito alcançado na vida foi o prolongado reality-show “O Aprendiz”,
aparentemente imaginou esta pirueta publicitária bizarra para entusiasmar sua
base política de cristãos de direita e mostrar quão “religioso” é. Mas o tiro
saiu pela culatra quando o bispo de Washington lembrou que Jesus pregou por paz
e amor, não por guerra e vingança. No dia seguinte, até mesmo demagogos como
Pat Robinson e a Coalizão Cristão, de ultradireita, falaram contra ele,
enquanto o New York Times, anti-Trump, destacava em triunfo:
“Popularidade de Trump cai onde ele não pode perdê-la: entre os evangélicos”.
Vale,
em pausa, notar que a cristiandade, como todos os outros aspectos da
civilização americana, é um nó de contradições, todas enrizadas no problema
fundamental da “linha de cor”. Embora a direita cristã – conservadora e
pró-Israel – tenha sido central no apoio a Trump, a Teologia da Libertação e a
Igreja Negra são há muito base do Movimento pelos Direitos Civis, em favor da
igualdade. Na verdade, George Floyd, o afro-americano assassinado (conhecido
como Big Floyd e Gigante Gentil) era, ele próprio, um apaziguador comunitário,
motivado pela religião. Também o são muitos dos manifestantes, negros e
brancos, que entoam: No Justice, No Peace.
Os
falsos gestos populistas de Trump podem ter ajudado a catapultá-lo ao poder em
2016 (graças a um sistema eleitoral fraudado pelos republicanos e apesar de ter
recebido três milhões de votos a menos que sua adversária). Mas, como Abraham
Lincoln certa vez notou, “é possível enganar parte do povo, o tempo todo; e
todo o povo, parte do tempo – mas não é possível enganar o povo todo, o tempo
inteiro”. Agora, o tempo de Trump acabou.
5.
Polícia, os cães ferozes da burguesia:
Para
mim, a imagem mais emblemática dos protestos é a de um Donald Trump
auto-iludido, agachado (como Hitlher) no seu bunker subterrâneo, com as luzes
da Casa Branca desligadas, tremendo de medo e de raiva diante dos manifestantes
do lado de fora e ameaçando atirar “cães ferozes (puramente imaginários) contra
eles. Trump tem a mentalidade de doberman de um proprietário de ferro-velho no
Queens. Ele é o descendente espiritual do capitão do mato Simon Legree, nos
calcanhares da escrava Eliza, com seus cães, em Uncle Tom ’s Cabin).
Cães
ferozes da burguesia. É o que a polícia é paga para ser. (Mesmo que alguns
políciais possam converter-se em pastores alemães amistosos, como aqueles que
ajoelharam com os manifestantes). Seus caninos são os dentes afiados do Estado
norte-americano. Junto com o exército, os policiais são a essêncial do Estado
profundo real, que Marx definiu como “corpos especiais de homens armados,
tribunais, prisões, etc”. (Opondo-os ao “povo armado” em guerrilhas
democráticos).
Embora
subserviente ao Estado burguês, este aparato policial, como a Máfia – com o
qual muitas vezes se entrelaça – tem uma identidade corporativa, baseada na
omertà, ou lealdade a um grupo estrito. Esta lei não escrita, de um notório
“Muro Azul de Silêncio” [orig,: “Blue Wall of Silence”], evita que policiais,
ao presenciarem abusos de seus “irmãos”, falem ou testemunhem contra eles. O
muro azul garante a impunidade policial, e é organizado por meio de
“sindicatos” policiais que, embora filiados à AFL-CIO, são violentamente
reacionários, anti-trabalhadores e pró-Trump. O presidente do Sindicato
Internacional de Policiais foi filmado usando um chapéu “Make America Great
Again” e apertando a mão de Trump num encontro político, enquanto os
manifestantes em Minneapolis exigem a remoção de Bob Kroll, o presidente do
sindicato local de policial, amplamente criticado por sua apoio inabalável a
colegas acusados de abusos.
O
Muro Azul de Silêncio estende-se a uma rede que inclui promotores e mesmo
prefeitos progressistas, como Bill Di Blazio, em Nova York. Ele
defendeu policiais que atiraram seus carros sobre uma multidão de
manifestantes, embora sua própria filha, mestiça, tenha sido presa por manifestar-se!
Di Blazio, como seu antecessor reacionário, Rudy Giuliani, hoje conselheiro de
Trump, sabe que seu futuro político depende da boa vontade do sindicato
policial (até mesmo proprietários de ferro-velhos têm medo de seus cães
ferozes).
Este
acobertamento contumaz da polícia atingiu mesmo a cobertura inicial do New York
Times sobre os violentos ataques da polícia contra a imprensa em Minneapolis e
outras cidades. Em seu relato, o jornal escondeu-se por trás de uma estranha
noção de “objetidade” (acuse ambos os lados) para evitar acusar policiais,
observando o “muro azul de silêncio”, mesmo quando os repórteres foram vítimas.
(Até agora, mais de mil ataques assim foram registrados). Usando a voz passiva,
ao invés de nomear os abusadores reais (policiais racistas brutais), o jornal
comparou um incidente isolado, em que um grupo de manifestantes atacou
jornalistas da rede pró-Trump FOX, com ataques sistemáticos e generalizados da
polícia contra membros da mídia [2].
Uma
semana depois, este sacrossanto Muro Azul está começando a ruir. O governador
de Minnesota foi forçado a ampliar as acusações contra Derek Chauvin, o
assassino de George Floyd, para assassinato em segundo grau (por que não
primeiro?) e a prender três de seus colegas cúmplices. Agora, eles começaram a
se acusar mutuamente. Ameaçado por uma sentença de 40 anos de prisão e uma
multa de ao menos US$ 750 mil, Tomas Lane e J. Alexander Kueng, ambos novatos,
estão acusando Chauvin, o oficial sênior presente à cena, enquanto Tou Thao, o
outro ex-oficial encarregado do caso, teria cooperado com as investigações
antes da prisão de Chauvin [3].
6.
Raça e Classe na história dos EUA
A
sociedade estadunidense tem enfrentado inúmeras contradições desde o início, e
essas contradições, enraizadas na raça e na classe, ainda hoje são disputadas
nas ruas de mais de 150 cidades dos EUA. As revoltas atuais, interraciais desde
o início, expressam a frustração popular de que, mesmo após séculos de luta
contra a escravidão, depois de uma Guerra Civil sangrenta e fratricida em 1860
e de uma “Segunda Revolução Americana”, mesmo depois do movimento pelos Direitos
Civis e das manifestações de rua dos anos 60, a vida dos descendentes de escravos negros
ainda não seja segura no primeiro país que proclamou o direito humano à “vida,
liberdade e busca da felicidade”.
A
Revolução Americana do século XVIII adotou o princípio universal, conforme
expresso na Declaração de Independência de 1776, de que “todos os homens são
criados iguais e dotados de certos direitos inalienáveis”. No entanto, essa
igualdade prometida foi simultaneamente contraditória ao incluir cláusulas na
Constituição dos EUA que não apenas institucionalizaram a escravidão negra na
República Americana, como também garantiram a predominância permanente dos
estados escravistas do Sul no governo federal.
O
sistema eleitoral criado pela Constituição dos EUA, com base nas populações
masculinas relativas de vários estados, permitiu que os sulistas incluíssem
seus escravos como “três quintos de um homem” (!). Assim, essa minoria de
proprietários de escravos do Sul poderia superar o Norte, que era mais
populoso, e dominar a União. Esse “compromisso” hipócrita foi o preço da
unidade nacional em uma nação “meio livre, meio escrava”. Do mesmo modo, dez
dos doze primeiros presidentes americanos eram proprietários de escravos, e
sucessivos “compromissos” favoráveis aos interesses dos proprietários de
escravos foram introduzidos à medida que novos estados foram adicionados à
União, espalhando o império de escravos do Sul cada vez mais a oeste. Esta
União Federal, precária e desigual, com base no domínio sulista, se manteve até
1860.
No
entanto, quando Abraham Lincoln, um moderado do Norte, se tornou presidente em 1861, a maioria dos estados
escravocratas se separou da União, formou uma Confederação rebelde e declarou
uma guerra nos Estados Unidos, buscando reconhecimento da Grã-Bretanha,
principal cliente de algodão escravo da Confederação. Com frequência, ouvimos o
argumento de que a guerra civil norte-americana — que durou quatro anos e
registrou taxas de vítimas mais altas até do que a Primeira Guerra Mundial —
não “dizia respeito à escravidão”. Mas dizia. Para esconder essa verdade
vergonhosa, os sulistas brancos ainda a chamam de “Guerra entre os Estados”. No
entanto, a guerra foi precipitada por abolicionistas brancos como John Brown,
que ajudaram e provocaram rebeliões de escravos. Além disso, o grande número de
jovens agricultores e mecânicos que se voluntariaram e até se alistaram para
lutar pelo Norte sabia que estavam lutando pela liberdade humana, como indicava
sua correspondência com as famílias e os jornais da cidade.
De
fato, a Guerra Civil, esse impasse longo e sangrento, só foi vencida pelo Norte
depois que Lincoln liberou o poder de luta dos escravos negros do Sul, ao
declarar, enfrentando muita resistência, a Proclamação de Emancipação. Os
escravos fugiram das fazendas e uniram-se aos exércitos da União, privando o
sul branco de grande parte de sua força de trabalho negra. O Exército da União
os alimentou, colocou-os para trabalhar de imediato e depois os matriculou em
regimentos negros que lutaram com bravura e eficácia para derrotar a
escravidão. De que maneira isso “não diz respeito à escravidão”?
Enquanto
isso, na Inglaterra, os trabalhadores têxteis contrários à escravidão vinham
boicotando a Confederação, exportadora de algodão. Karl Marx, em favor desse
movimento, enfatizou a base de classe para uma expressão idealista da
solidariedade inter-racial proclamando: “O trabalho na pele branca nunca poderá
ser livre enquanto o trabalho na pele negra for marcado”. Os trabalhadores
afro-americanos nos EUA não são mais “marcados” como seus ancestrais
escravizados, mas até hoje a cor de sua pele os marca e torna vítimas de
opressores, como chefes, proprietários e bancos, além da violenta polícia
racista que, até agora, tinham assumido que poderia maltratar, e até matá-los,
com total impunidade.
Assim,
enquanto a polícia continua atacando os manifestantes e enquanto Trump e seus
seguidores pedem a militarização do país em nome da proteção à propriedade, lei
e ordem, está claro que foi aberta uma brecha no Muro Azul do Silêncio. Ela
protege os privilégios da classe bilionária contra o poder das massas
trabalhadoras, que hoje enfrentam não apenas uma crise política, mas também a
crise de uma pandemia em curso — a crise da pobreza e do desemprego em massa e
a iminente crise climática da qual o Covid é um precursor sintomático.
Como
os trabalhadores britânicos nos dias de Marx, os manifestantes brancos
“privilegiados” de hoje, vítimas em menor grau do capitalismo americano, sabem
em seus corações que eles “nunca poderão ser livres” e nunca estarão a salvo da
violência do Estado até que as Vidas Negras realmente importem e as peles
pretas não sejam mais “marcadas”. Eles sabem que “Negros e Brancos unidos na
luta” (Black and White Unite and Fight) é a única maneira possível de frear o
governo autoritário, de impedir o fascismo, estabelecer a democracia, instituir
a igualdade de classes e enfrentar o futuro.
Notas
de rodapé:
1) https://www.nytimes.com/2020/05/31/us/police-tactics-floyd-protests.html Diante
de protestos contra o uso da força, a polícia responde com mais força. Vídeos
mostram policiais usando cassetetes, gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas
de borracha em manifestantes e espectadores. ↑
2)
O grito de um repórter na TV ao vivo: “Estou sendo baleado! Estou sendo
baleado!”
https://www.nytimes.com/2020/05/30/us/minneapolis-protests-press.html?
“De uma equipe de televisão agredida por manifestantes a um fotógrafo atingido nos olhos, os jornalistas se viram atacados nas ruas dos EUA. Linda Tirado, uma fotógrafa freelancer, ativista e escritora, foi baleada no olho esquerdo na sexta-feira enquanto cobria os protestos de ruaem Minneapolis. Tirado
é uma de tantos jornalistas em todo o país que foram atacados, presos ou
ameaçados — algumas vezes pela polícia, outras por manifestantes — durante a
cobertura dos levantes que ocorreram em todo o país após a morte de George
Floyd em Minneapolis. Certos
de que a mídia se atrasaria em reportar os casos, jornalistas foram
atingidos.” ↑
https://www.nytimes.com/2020/05/30/us/minneapolis-protests-press.html?
“De uma equipe de televisão agredida por manifestantes a um fotógrafo atingido nos olhos, os jornalistas se viram atacados nas ruas dos EUA. Linda Tirado, uma fotógrafa freelancer, ativista e escritora, foi baleada no olho esquerdo na sexta-feira enquanto cobria os protestos de rua
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