Curto por Ricardo Marques,
jornalista do Expresso. O título é sugestivo… sobre a conta que está na mesa da
pseudo União Europeia, bastião da pseudo democracia. Para saber o que diz… é
uma questão de ler e depois outra questão: fazer as contas à conta. Quem
imagina que vai pagar a conta a sobrevalorizar devido à pandemia covid-19?
Prepare-se: já a estamos a pagar e vamos pagar muito mais. Até com a própria
vida iremos pagá-la. Depois de mortes ainda pagaremos mais alguma coisa – nós ou
os nossos familiares. É sempre um fartote de “paga e não bufa”. Até apetece
balir… Mééééé.
Salte para o Curto. Ponha-se a
pau. Vai cair o Carmo e a Trindade sobre os portugueses excluídos e de menores
recursos. Cumprindo a conhecida “máxima” que nos fala do mar que bate nas
rochas e que acaba sempre por tramar o mexilhão. Pois.
Bom dia. Boas contas. Bom
desembolsar, bom vasto períoodo de miséria e fome. Pague e não bufe. Afinal são
as contas do costume, que apresentam para cobrança aos mémés cá do burgo e de muitos
outros burgos.
Sobre outros assuntos há mais, muito mais, no Expresso Curto. Vá ler.
MM | PG
A conta está na mesa
Ricardo Marques | Expresso
A cimeira extraordinária de
líderes europeus, que decorre hoje e amanhã em Bruxelas, pode muito bem ser um momento
histórico. Após cinco meses de fronteiras fechadas, em que cada país
europeu tratou de si como conseguiu, a União, em processo mais ou menos
lento de desconfinamento, volta a olhar-se ao espelho.
Muito mais do que o dinheiro
destinado a recuperar a economia (onde estão os tais muitos milhões de euros
para Portugal) e o resto do dinheiro (o do quadro financeiro plurianual para
2021-2027), o que parece estar em jogo é a solidez do projeto europeu -
que, convenhamos, não chegou sequer a recuperar da ressaca do Brexit. Sim,
porque há uns meses o Brexit era “a pior coisa que podia ter acontecido”.
A União nunca foi vista, ou
sentida, da mesma forma por todas as capitais europeias, mas a pandemia acentuou
as diferenças, algumas das quais chegam agora a parecer irremediáveis. Esse
será o grande teste: muito mais do que perceber quem paga quanto da conta, o
importante é saber quem está disposto a permanecer à mesa, com quem e em que
condições.
“Se houver vontade política
haverá acordo”, disse
António Costa, que ontem jantou com Emmanuel Macron.
Ontem, o
Banco Central Europeu anunciou que está disposto a aplicar na totalidade o
envelope de 1,35 biliões de euros concebido para o programa especial
de resposta à covid-19. “A não ser que haja surpresas positivas”,
sublinhou Christine Lagarde - e o mais interessante parece ser a
presidente do BCE admitir a possibilidade dessas surpresas.
A atividade económica na zona
euro “melhorou em maio e junho", disse Lagarde, mas a perspetiva continua
"altamente incerta tanto em termos da própria pandemia como no plano
económico”.
A cimeira de líderes europeus
vai decorrer com rigorosas, e até inéditas, medidas de distanciamento
social. Um autêntico baile de máscaras (Portugal vai
oferecer exemplares personalizados) organizado pelo anfitrião Charles Michel,
presidente do Conselho Europeu, numa enorme sala que estará preenchida apenas a
10 % - já que foi reduzido o número de pessoas de cada delegação.
Ouviremos falar de dinheiro,
a fundo perdido ou nem por isso, de fundos europeus, dos frugais (Holanda,
Suécia, Dinamarca e Áustria), da Hungria, de Macron e, entre
outros, de Angela Merkel.
Como escreve o The New York Times
- o artigo tem por título é “It’s
Merkel’s Last Rodeo. Will a Pandemic Rescue Deal Seal Her Legacy?” - a chanceler
da Alemanha, país que assumiu a presidencia da União Europeia a 1 de julho, tem
nesta cimeira o seu grande teste.
A sua última dança.
Outras notícias
Segue-se a habitual resenha
de outras notícias de que provavelmente vai ouvir falar esta sexta-feira.
Marcelo Rebelo de Sousa promulgou
ontem, poucas
horas depois da aprovação em Conselho de Ministros, o diploma que
autoriza o Estado a reforçar a posição na TAP para 72,5% pelo montante de
55 milhões de euros. Portanto, parabéns caro leitor: é oficialmente dono
de uma companhia aérea. Agora, pode
começar a abrir a carteira.
O Novo Banco suspendeu
os quatro trabalhadores que foram acusados pelo Ministério
Público no âmbito do processo relacionado com a derrocada do Grupo
Espírito Santo (GES).
Ontem, em direto na SIC Notícias, José
Maria Ricciardi, antigo presidente do Banco Espírito Santo de Investimento e
testemunha arrolada pelo Ministério Público, atacou
violentamente Mariana Mortágua, depois de a deputada do Bloco de Esquerda
ter dito que seria difícil Ricciardi não saber o que se passava no GES. A
resposta: “Mariana Mortágua devia ter vergonha, devia desaparecer de vez.”
O GES e Ricardo Salgado têm sido
o assunto forte dos últimos dias. Ontem, contudo, sem nada dizer ou fazer
para isso, foi Pedro Passos Coelho a figura do dia - com
várias figuras da direita a homenagearem o antigo primeiro-ministro pelas
decisões que tomou relativamente ao GES.
Mário Centeno começa
segunda-feira no novo emprego. O ex-ministro das Finanças vai ser Governador
do Banco de Portugal. Vale a pena ler, e espreitar a foto que
acompanha o artigo. Tlim, tlim…
O aumento
de capital da EDP, no montante de 1.020 milhões de euros, para comprar a
espanhola Viesgo, vai pagar em comissões, à banca e a vários consultores
envolvidos na operação, um total de 23 milhões de euros.
Era só uma questão de tempo.
Aconteceu ontem. A Polícia Judiciária anunciou
a detenção de três médicos e dois enfermeiros por alegado envolvimento
num esquema fraudulento de tratamento da covid-19, entre outros crimes.
Lá por fora, o assunto é
ainda mais sério, com o Centro
Nacional de Cibersegurança do Reino Unido a acusar grupos de hackers com
ligações ao governo da Rússia - um deles terá estado na origem da intrusão nos
email dos partido Democrata antes das presidencia norte-americanas de 2016 - de
atacarem instituições envolvidas no desenvolvimento de uma vacina para a
covid-19. O Kremlin já disse que desconhece qualquer ataque, mas especialistas
ouvidos pelo The New York Times admitem que é possível - e
bastante provável. Não é para atrapalhar, é só mesmo para roubar informação.
Sem qualquer espionagem, mas com
a certeza de que a informação é de segurança, pode
aproveitar para perceber em que ponto está a ciência no que diz
respeito a uma possível vacina. Candidatas há muitas.
Três mortes, 476 pessoas
internadas e 72 doentes em cuidados intensivos. É
este o estado da covid-19 em Portugal em 24 horas - haverá novos
dados no próximo boletim da Direção Geral da Saúde (DGS).
Parece estar para breve, para agosto,
a app de telemóvel de rasteio à covid-19. A Stayaway
Covid foi desenvolvida pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e
Computadores, Tecnologia e Ciência e os dados serão geridos pela DGS. Os
testes já começaram. A adesão é voluntária.
O Jornal de Notícias tem hoje em
manchete o excesso de mortalidade em julho. Calor e falhas nos cuidados de
saúde causam pico de mortes. São mais 673 óbitos não provocados pela covid-19.
Sobre uma outra doença - numa
altura em que parece existir apenas covid-19 - este artigo
conta a história de uma colaboração ibérica para desenvolver um
teste rápido para deteção de Alzheimer. Uma picada no dedo e trinta minutos.
Vai demorar muito mais até
que os aviões voltem a encher como enchiam antes da pandemia. Provavelmente
só em 2024, o que não é grande notícia para os donos das companhias aéreas…
Mas nem parece mau de todo para
quem estava a pensar viajar até Nova Iorque. Ultrapassada a fase mais
complicada da pandemia - ou pelo menos assim parece, ainda
que ontem o governador Cuomo tenha anunciado novas, e mais duras, medidas
para bares e restaurantes - a cidade está literalmente debaixo de fogo: há
cada vez mais tiroteios.
As chamas andaram perto,
demasiado perto, das casas em Cascais. O fogo, que começou numa zona de
mato em Alvide, atingiu os
telhados de dois prédios. Oito apartamentos ficaram inabitáveis.
Até domingo a situação
não vai melhorar, com condições meteorológicas favoráveis à ocorrência de
incêndios, e todo o território do Continente vai
estar em estado de Alerta.
É possível, assegura a agenda da
Agência Lusa, que entre hoje em funcionamento um dispositivo para
monitorizar comunicações na Guiné-Bissau. Sim, está a ler bem. Um dos países
mais pobres do mundo - onde fala
tudo e ainda mais um pouco - vai ter um dispositivo capaz de
controlar o que pessoas dizem ou escrevem. “O Estado terá a capacidade
para monitorizar os insultos sob a capa de anonimato nos órgãos de comunicação
social ou nas redes sociais. Quem prevaricar será chamado à justiça para
responder pelos seus atos”, garantiu o presidente Umaro Sissoco Embaló.
Está a tornar-se a novela do
verão: o mocinho Jorge
Jesus vai ou não cair nos braços do Benfica - o vilão, segundo os
adeptos do Flamengo?
O Real Madrid é campeão
de Espanha.
E hoje às seis da
tarde há uma missa, seguida de uma conferência, no Mosteiro de Santa Cruz
de Coimbra para assinalar os 500 anos da trasladação dos túmulos reais de
D. Afonso Henriques e D. Sancho I.
O que ando a ler
“Outrora é um lugar situado no
centro do Universo. Atravessar Outrora de norte a sul com passo acelerado
demora uma hora. O mesmo acontece de leste a oeste. E se alguém quiser dar
a volta a Outrora com passo lento, observando detalhada e reflectidamente todas
as coisas em redor, precisará de um dia inteiro. De manhã até ao entardecer.”
Começa assim “Outrora e
Outros Tempos”, de Olga Tokarczuk, Nobel da Literatura, e autora
também de “Viagens”, um livro extraordinário de que, há uns tempos,
falei aqui. Incompreensivelmente, demorei demasiado tempo a dar o passo
seguinte e foi só no último fim de semana que comecei, e acabei,
“Outrora…”
Outrora, que não existe, é uma
aldeia polaca por onde o tempo passa arrastando os ventos indomáveis da
História. Uma guerra mundial, uma crise financeira, outra guerra mundial, a
ocupação nazi, a invasão russa, o comunismo e o seu fim… Três gerações
agarram-se como podem ao que está por perto e a vida segue sempre, de
tempestade em tempestade, porque nada mais há a fazer e no fim de cada dia
está já o início do dia seguinte.
Olga Tokarczuk consegue escapar
ao tempo e ao espaço, mergulhando-nos num jogo interminável. “Outrora…” existe
entre o mundo muito real e o muito do mundo que parece real. As vidas dos
personagens caem lentamente, como pequenos grãos de café, no moinho de que é
feita a escrita da autora polaca. Depois de tudo ferver, o que fica no
fim, numa chávena bem cheia, é uma bebida complexa e a que é difícil resistir.
Se procura um livro para ler nas
férias, não é fácil encontrar melhor. A não ser, talvez, “Conduz o Teu
Arado Sobre os Ossos dos Mortos”. Ou, como digo a mim próprio, o
Tokarczuk que se segue.
Tenha uma excelente sexta-feira e
um fim de semana ainda melhor, com a edição impressa do Expresso que chega amanhã à
banca.
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