segunda-feira, 24 de agosto de 2020

“Abram os olhos, mulas”


O desporto encabeça o Curto de hoje. Um vencedor português em motoGP, Oliveira, em tempos cristão novo (vá saber porquê se quiser), e o futebol na Luz com a Liga dos Campeões, a final à porta fechada(?), que o mesmo é dizer futebol pãozinho sem sal. Venceram os alemães. Boa. Leia tudo que está disposto no Curto que se segue. Avante, de adiante.

Por Avante (a festa): Há por aí os que continuam a bater na mesma tecla contra o Avante! Andar para a frente não é com esses. Preferem o Mourão de Oh Tempo Volta P’ra Trás e as touradas. Dizem os entendidos nas encarnações que na próxima reencarnação, os das touradas vão nascer touros… Depois é que vão ficar a saber o que dói aquelas estocadas e andarem a correr atrás de um duo cavalar de configuração 69 – como a GNR no longo inverno fascista (besta por baixo e besta por cima). Eh touro!

Pinto da Costa – acerca das touradas e do futebol pãozinho sem sal… Uma bestialidade acertada, parece. Rui Rio, talvez um dia do Chega, quando o PSD acabar e Rio se chegar à frente na mostra de quem sempre foi e continua a ser. Um democrata (como dizem)…

Em “outros assuntos” temos a pandemia nacional. Andam a matar os velhos. Já sabemos quase desde o principio da dita. Daqui por uns tempos pesquisem quanto o OGE fica aliviado de pensões e reformas, assim como de verbas poupadas na geriatria… Pois. Ainda veremos os que agitarão a bandeira do “que alívio”, em Portugal e por essa UE. Os pequenos Hitler andam por aí – uns eleitos e muitos outros nomeados. Talvez ainda fundem o regime do partido único. Democrata, já se vê. Decerto, com finalmente verdade, batizado “Partido da Sacanice”. É só continuarmos a olhar para o lado e fecharmos os olhos a pestanejar e zás! Eles crescem. As gerações novas vão levar com ultra-bons-sacanas. Fruto de agora andarem de barriga ao sol a “alimentarem” os atuais sacaninhas… e/ou sacanões.

Como a conversa está a descambar, vamos terminar esta abertura contida sobre o constante no bildeberguiano Curto. Ele próprio hoje um pãozinho sem sal por falta de acontecimentos, de matéria e daquilo com que se fazem as omeletas sem ovos: imaginação assente na realidade quotidiana do que realmente importa ao bem comum, a tal sociedade coletiva, cousa detestável para o neoliberalismo - antecâmara-fascista - em vigor.

E desta nos vamos. Como dizia o maioral do meu avô lavrador: “Abram os olhos, mulas. Deitem abaixo as malvadas ervas daninhas. Arredem, pragas parasitas".

Bom dia e um queijo, em vez da fome que não nos deixa vislumbrar a justiça nem a democracia de facto, mas sim a apalhaçada-mascarada-enganosa. Avante!

Obrigado Expresso.

MM | PG




Os campeões. E os alienados

Bom dia,

Vamos começar pelas boas notícias. Temos mais um campeão a acrescentar à lista de grandes feitos do desporto nacional, depois de Miguel Oliveira ter vencido este domingo a sua primeira corrida no Mundial de MotoGP, na Áustria, fazendo assim História para o motociclismo português.

O piloto já vinha a ameaçar atingir o topo e agora confirma-se que vai bem lançado. Numa entrevista ao Expresso a 5 de outubro de 2018, que pode ler aqui, disse ter a certeza de que acabará por ser campeão do mundo. E já lhe pedem que vença a etapa que vai decorrer em Portugal, na última corrida do campeonato, que se realiza a 22 de novembro em Portimão.

Portugal tem tendência para se concentrar em demasia no futebol, ignorando outros desportos e também por isso esta vitória de Miguel Oliveira é importante. Mas é também inevitável falar hoje aqui de futebol porque tivemos, no espaço de 11 dias, 8 dos melhores clubes de futebol europeus e alguns dos melhores jogadores do mundo em Portugal. A final da liga milionária jogou-se ontem e o Bayern de Munique conquistou o sexto título de campeão da Liga dos Campeões, impedindo o Paris Saint-German, que pela primeira vez chegou à final, de arrecadar o troféu. Com a ironia de ser um francês, Kingsley Comam, que passou pelo clube parisiense, a resolver o jogo a favor dos alemães (1-0).

O jogo decorreu no estádio da Luz, em Lisboa e não deixou de ser triste ter em Portugal a nata dos jogadores mundiais de futebol e ver os estádios da Luz e de Alvalade despidos de gente, como têm estado tantos estádios pelo mundo fora, por causa da pandemia de covid-19.

Expurgando o crime muitas vezes impune que grassa pelo mundo do desporto, e do futebol em particular, o desporto, quando vivido de forma saudável - e quando punidos os criminosos que nele se movimentam - pode ser um importante aliado para combater os extremismos que alimentam muitos dos alienados que por aí andam.

São ali difundidas mensagens contra o racismo e contra a discriminação; estão ali desportistas de todo o mundo a competir e a celebrar em conjunto; tivemos também ali por estes dias a difusão de mensagens de agradecimento aos profissionais de saúde que têm estado na linha da frente do combate à covid-19. E há sempre as emoções à flor da pele – os vencedores choram de alegria, os vencidos choram de tristeza, os primeiros consolam os segundos.

O governo ainda não decidiu se os jogos da Primeira e Segunda Liga de futebol, que deverão arrancar a 20 e 13 de setembro, respetivamente, vão ou não ter público. Os clubes de futebol têm pressionado – ficou célebre a comparação feita pelo presidente do FC Porto, Pinto da Costa, com as touradas – “para ver espetar facas em animais já se pode ir, para um jogo não pode ir ninguém”, disse a 30 de julho.

A discussão sobre o que ou não é permitido nos eventos é uma procissão que ainda vai no adro. Este fim de semana o presidente do PSD, Rui Rio, e o PCP voltaram a envolver-se numa troca de acusações por causa da Festa do Avante. Rio diz que a Alemanha está a organizar concertos com duas mil pessoas para testar o risco de contaminação e que “nós cá em Portugal estamos muito à frente. Vamos testar com 33.000 na Quinta da Atalaia”. O PCP respondeu dizendo que “o ridículo não tem limites” e explicando que o espaço onde se vai realizar a sua festa é muito maior do que o estádio alemão onde se realizaram os concertos.

E que impacto teve a Liga dos Campeões no turismo em Portugal? Para os hotéis de Lisboa foi uma festa, em especial para os que alojaram as equipas e comitivas mas foi naturalmente ‘sol de pouca dura’ e com efeitos muito limitados para o sector.

OUTROS ASSUNTOS

Balanço da pandemia O balanço feito este domingo sobre o avanço da covid-19 em Portugal aponta para mais 145 casos de infeção, duas mortes e 122 doentes recuperados. E foi na região Norte que se registou o maior número de infetados.

Itália registou mais 1.210 casos e sete óbitos, o maior aumento diário de infeções desde maio, o que estará relacionado com o regresso das férias.

No Reino Unido houve mais 1.041 infeções e seis mortes, sendo o quarto dia consecutivo em que o país notifica mais de mil infeções diárias.

Já houve mais de 805 mil pessoas a morrer devido ao novo coronavírus em todo o mundo, com mais de 23 milhões de casos de contágio.

Médicos contra Governo Continuam a dar que falar as declarações do primeiro-ministro na entrevista que deu ao Expresso. António Costa acusou a Ordem dos Médicos de ter ido além das suas competências na auditoria que realizou no Lar de Reguengos de Monsaraz, no grave e triste caso onde morreram 18 pessoas durante o surto de covid-19. O bastonário dos médicos, Miguel Guimarães, respondeu dizendo que a Ordem pode e deve auditar entidades dos sectores privado e social quando está em causa a qualidade dos cuidados de saúde.

Bielorrússia Na Bielorrússia é a insurreição contra o atual presidente que está a contagiar milhares de pessoas: dezenas de milhar de bielorrussos protestaram na capital, Minsk.

Rússia O líder da oposição russa, Alexei Navalny, foi visitado este domingo pela mulher e por um assistente no hospital onde está internado em coma, após suspeitas de envenenamento.

Revolução Liberal Passam hoje 200 anos sobre a Revolução Liberal do Porto que levou ao fim do absolutismo em Portugal e precipitou o regresso do rei Dom João VI que se tinha exilado no Brasil por causa das invasões napoleónicas. Foi graças a esse evento que o rei deixou de ter o poder absoluto e Portugal ganhou uma Constituição. O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, diz que “é na Revolução de 1820 que encontramos as raízes do nosso sistema político”.

FRASES

“É um feito extraordinário de um promissor piloto português, que muito orgulha Portugal e os portugueses” – Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, sobre a vitória de Miguel Oliveira no Grande Prémio de Estíria, Áustria

“Exprimo a minha solidariedade para com as famílias das vítimas que ainda hoje pedem justiça e verdade sobre o que aconteceu. O Senhor pedir-nos-á contas sobre todos os migrantes que morreram na sua viagem de esperança. Foram todos vítimas da cultura do descarte” – Papa Francisco assinalando os 10 anos do massacre de 72 emigrantes no México

“Há quase 20 anos que, no verão, todos os fins de semana era levantar cedo, ir para a festa e chegar a casa tarde. É uma rotina que se criou e já fazia parte da minha vida. Este verão é completamente diferente” – Lionel Eira, maestro da Banda Musical do Pontido, em Vila Pouca de Aguiar

O QUE ANDO A OUVIR

A 15 e 16 de junho de 2018 o festival Nordeste juntou a banda portuguesa First Breath After Coma à Banda de Música de Mateus e desse espetáculo resultaram outras apresentações ao vivo, nomeadamente em Leiria, no final do ano passado e em Vila Real (onde decorre o festival), no início deste ano.

Desses concertos, que foram a feliz junção de um grupo português que já tem uma legião interessante de fãs dentro e fora de Portugal (classificada como uma banda de estilo alternativo/independente), com a orquestra dirigida pelo maestro Carlos Pinto Pereira, resultou um disco lançado há poucas semanas.

O disco começa bem, com a música ‘The upsetters’, que pode ouvir aqui, e também termina bem, com Blup, que pode ouvir aqui, num total de 14 músicas.

O QUE ANDO A LER

Uma caixa de cartão cheia de objetos pessoais de antigos doentes do primeiro hospital psiquiátrico português, o Miguel Bombarda, em Lisboa, está na origem de Coisas de Loucos, da jornalista Catarina Gomes. Um livro que pretende resgatar do esquecimento “a vida dos doentes de um hospital psiquiátrico abandonado”.

São pessoas que antes de serem declaradas ‘loucas’ e forçadas ao internamento tiveram uma vida ‘cá fora’. Quando o hospital abriu, em 1848, chamavam ‘alienados’ aos loucos, o que já era uma evolução face às designações anteriores: dementes, mentecaptos e desassisados.

Foi depois de ter feito uma reportagem com os últimos doentes vivos do Miguel Bombarda que a autora decidiu escrever sobre alguns dos doentes que já tinham morrido. E foi enquanto percorria as páginas dos livros esburacados com os nomes daquelas pessoas que se deparou com uma caixa empoeirada cheia de objetos pertencentes a alguns deles. Lá encontrou medalhas de dupla face, postais eróticos, documentos pessoais, poemas, relógios, fotos, canetas e lápis, chaves, botões, óculos, binóculos, canivetes... Alguns dos objetos estavam identificados, outros não. O livro mostra imagens destas “coisas de loucos” que acompanham as histórias das pessoas a quem pertenceram - o que o torna ainda mais interessante.

Estas foram pessoas que tiveram uma vida antes de ficarem ‘alienadas’: “os objetos da caixa recordavam-me que a maior parte dos que sofrem de doença mental não são artistas nem criminosos, nem geniais, nem perigosos. São como nós. Somos nós”, escreve a autora, acrescentando que “a doença mental pode medrar depois da perda de um emprego, de um divórcio, de uma viuvez, de um acidente, de uma doença grave”.

Em tempos de pandemia, o número de potenciais ‘alienados’ tem tendência para aumentar. E há muitas formas de alienação - não apenas as que conduziram estas pessoas a um hospital psiquiátrico.

Atente-se por exemplo ao que diz Renato Miguel do Carmo, investigador do ISCTE que em conjunto com Marina Madalena d’Avelar escreveu o livro “A miséria do tempo - vidas suspensas pelo desemprego”: conseguir travar a desfiliação social e cívica de muitos dos desempregados de longa duração será o melhor antídoto para o recrudescimento do populismo. Fica o alerta.

Desejo-lhe um excelente dia, na nossa companhia - sempre em www.expresso.pt.

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