Após a agressão norte-americana e
dos seus aliados, e com a destruição do Estado unitário, a Líbia está dividida
entre duas administrações rivais, uma controlando zonas do Oeste, outra com
influência no Leste do país, cada uma delas apoiada por milícias armadas e por
governos estrangeiros. Para os EUA, a preocupação não são as desastrosas
consequências da sua intervenção, mas que a “Corporação Nacional do Petróleo
possa retomar a sua actividade vital.”
Quase uma década depois da
agressão militar dos EUA e da NATO à Líbia, em 2011, continua a violência no
país norte-africano, dilacerado pela guerra civil e por múltiplas ingerências
estrangeiras.
Segundo as Nações Unidas, no
último trimestre foi registado um aumento de 65 por cento no número de civis
mortos no conflito. Entre Abril e Junho, mais de uma centena de civis,
incluindo mulheres e crianças, foram vítimas dos combates terrestres, de
ataques aéreos e da explosão de munições abandonadas.
A maioria das vítimas pertence à
região ocidental da Líbia, cenário de confrontos entre forças do general
Khalifa Haftar (Exército Nacional da Líbia) e tropas do Governo de Acordo
Nacional, com sede em Trípoli e reconhecido pela ONU.
Após a agressão norte-americana e
dos seus aliados, e com a destruição do Estado unitário, a Líbia está dividida
entre duas administrações rivais, uma controlando zonas do Oeste, outra com
influência no Leste do país, cada uma delas apoiada por milícias armadas e por
governos estrangeiros.
Em Abril de 2019, as forças de
Haftar, ligado ao parlamento líbio com sede em Tobruk, lançaram ataques contra
a capital e zonas do Noroeste. O governo de Trípoli solicitou auxílio militar à
Turquia e rechaçou a ofensiva, havendo agora o perigo da intervenção armada do
Egipto, a pedido da facção que apoia Haftar.
Estando a guerra civil num
aparente impasse, do ponto de vista militar, multiplicam-se as iniciativas de
paz – da ONU, da União Europeia, da Rússia, da Turquia, do Egipto… e até dos
EUA, os principais responsáveis pela guerra e pelo caos na Líbia.
Com enorme hipocrisia e sempre
preocupado com os negócios petrolíferos, Washington pediu às partes envolvidas
que cheguem a um cessar-fogo sob os auspícios da ONU. «Apelamos a todas as
partes, aos responsáveis pela escalada actual e aos que trabalham para lhe pôr
fim, a que Corporação Nacional do Petróleo possa retomar a sua actividade
vital, com total transparência, e a implementar uma solução desmilitarizada
para Sirte e Al-Jufra, respeitar o embargo de armas imposto pela ONU e
concretizar um cessar-fogo no âmbito das conversações militares 5+5 dirigidas
pela ONU», afirmou Robert O’Brien, assessor de segurança nacional da Casa
Branca.
Sem pudor, esclareceu que está
«profundamente preocupado» com a escalada do conflito na Líbia e que os EUA
opõem-se a qualquer participação militar estrangeira, incluindo o recurso a
mercenários.
É de notar que a destruição da
Líbia pelos EUA e NATO provocou também a instabilidade no Sahel, onde alastrou
a vários países a guerra de rapina pelos recursos naturais dos povos da região.
Um desses países é o Mali, que
desde 2012 sofreu um golpe de Estado, movimentos separatistas, actividades
terroristas, conflitos inter-étnicos, a corrupção dos governantes e a chegada
de milhares de soldados estrangeiros, sobretudo franceses e das Nações Unidas,
tudo isso agravando as condições de vida do povo.
Nas últimas semanas, os malianos
manifestam nas ruas o seu descontentamento, pedem o afastamento do presidente
da República, exigem uma governação patriótica.
A crise maliana está rodeada de incertezas. Mas é certo que, tal como o povo da Líbia, o povo do Mali alcançará, com a sua luta, o fim da guerra, a paz e o direito a construir soberanamente o desenvolvimento.
Publicado em O Diário.info
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2436, 6.08.2020
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