Rui Pinto em entrevista
O autor de Football Leaks e
também uma das fontes de Luanda Leaks começa a ser julgado na próxima semana e
deu uma entrevista à revista alemã “Der Spiegel”. “Estou cá para lutar e para
mostrar a todos que sou um whistleblower e fiz o que tinha que
fazer”, afirma Rui Pinto
Rui Pinto começa a ser julgado na
próxima sexta-feira. O autor de Football Leaks deu à Der Spiegel a sua primeira
entrevista desde que deixou de estar em prisão preventiva. Remeteu para o
julgamento mais explicações relativas ao processo pelo qual está acusado de 90
crimes, mas manifestou a sua revolta com o que a investigação Luanda Leaks, da
qual foi denunciante, revelou. “É repugnante Portugal ter-se tornado a
lavandaria das elites angolanas”, afirma.
A entrevista à Der Spiegel aconteceu
no passado fim-de-semana, sob grande secretismo, repartida entre duas conversas
em sítios distintos, cujas localizações os jornalistas da revista alemã apenas
tiveram conhecimento pouco antes dos encontros. A segunda conversa decorreu no
dia da final da Liga dos Campeões, realizada num Estádio da Luz despido de
público. “O futebol vive dos adeptos, de um ambiente real, não destes eventos
com um ambiente de plástico dominados pelo dinheiro”, comentou Rui Pinto.
Questionado sobre se acha que
voltará para a prisão, Rui Pinto mostrou-se otimista. “Não creio”, declarou à
Der Spiegel. O autor do blog Football Leaks queixa-se de “tortura psicológica”
quando esteve detido em Budapeste (entre janeiro e março de 2019), mas
considera que quando esteve preso em Portugal (a partir de março do ano
passado) foi bem tratado.
Rui Pinto considera que a sua
vida está “em risco”, mas ao mesmo tempo, e apesar de estar acusado de 90
crimes, diz dormir bem à noite. “Obviamente o isolamento deixa sempre algum
tipo de marcas. Lembro-me que depois de deixar o isolamento [na prisão] por
vezes tinha problemas em concentrar-me, porque depois daqueles meses todos
abria-se uma grande porta à minha frente e tinha muitas pessoas diferentes à
minha volta e era difícil concentrar-me, porque tinha estado fechado tanto
tempo”, desabafa na entrevista à Der Spiegel.
“De certo modo, sinto-me
orgulhoso de ter conseguido lidar bastante bem com o isolamento. Eu sabia que
não podia perder a cabeça, tinha de me concentrar para preparar o julgamento, para
chegar fresco ao julgamento e mostrar que estou cá para lutar e para mostrar a
todos que sou um whistleblower [denunciante] e fiz o que tinha que
fazer”, acrescenta.
“Tive uma relação espetacular com
os guardas prisionais. Tiveram enorme respeito por mim”, diz ainda Rui Pinto na
entrevista, declarando que “estamos sufocados com corrupção”, e que, nesse
contexto, “ninguém pode esperar um futuro bom para si e para a sua família”.
O autor de Football Leaks e fonte
de Luanda Leaks foi entrevistado em Lisboa pela revista alemã Der Spiegel,
afirmando que provará em tribunal que não houve extorsão à Doyen e dizendo ter
sido ingénuo nos acontecimentos de 2015 que levaram ao processo em que é
acusado de 90 crimes
E A ACUSAÇÃO DE TENTATIVA DE
EXTORSÃO À DOYEN?
Entre os crimes de que é acusado
está a tentativa de extorsão à Doyen em 2015, então liderada por Nélio Lucas,
em que sugeriu ao fundo que investia no futebol um pagamento de 500 mil euros a
um milhão de euros para parar com a divulgação de contratos e documentos
daquela empresa no blog Football Leaks.
“Lamento em particular ter tido
este contacto com Nélio Lucas. Era ingénuo nessa altura. E estou contente por
ter recuado a tempo”, afirma Rui Pinto à Der Spiegel.
Na entrevista diz ainda estar
“absolutamente seguro” de que ficará provado em tribunal que não fez nenhuma
extorsão. “As provas mostram-o claramente. Mas a procuradora não quis olhar
para elas. Ela preferiu cortar as partes que me ilibavam das acusações de
extorsão”, refere.
Na imagem: Rui Pinto enfrenta uma
acusação de 90 crimes relacionados com o Football Leaks. // SONJA OCH / DER
SPIEGEL
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