Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Jorge Araújo | Expresso
Era para ser um dos dias
mais felizes da sua vida. O traje vaidoso, a maquilhagem a preceito, penteado
com assinatura de cabeleireiro. Era o dia em que levaria o irmão ao altar.
Uma hora antes da cerimónia, o telefone tocou. Teve um mau pressentimento, a sua paz estremeceu. Deve ser isso que chamam de sexto sentido.
Ficouem sentido. E
o ouvido, alerta, ouviu a notícia que ninguém quer receber – estava
infetada com o novo coronavírus.
Num abrir e fechar de olhos, o sonho de braço dado com o pesadelo.
Uma hora antes da cerimónia, o telefone tocou. Teve um mau pressentimento, a sua paz estremeceu. Deve ser isso que chamam de sexto sentido.
Ficou
Num abrir e fechar de olhos, o sonho de braço dado com o pesadelo.
Uma assistente hospitalar do
Hospital de Vila Franca de Xira trocou o casamento do irmão pela solidão
da pandemia.
A dor é mais feroz quando nos
acerta no peito.
Mas a história podia ter acontecido a qualquer um de nós.
Mas a história podia ter acontecido a qualquer um de nós.
Desde que o novo coronavírus entrou nas nossas vidas, o tempo parece
São dias sem promessa de dia seguinte.
Ninguém sabe ao certo o que aí vem. Mas parece dado adquirido que o regresso às aulas e aos locais de trabalho não vai ser fácil. E que as coisas tendem a piorar.
Por isso mesmo o governo já anunciou o endurecimento das medidas . A 15 de Setembro, o país entra em estado de contingência. O novo pacote de medidas restritivas será anunciado na primeira semana do mês.
OUTRAS NOTÍCIAS
Orçamento. Há muita pedra por
partir e o desfecho é ainda uma grande incógnita. Certo é que a pandemia é
parcela decisiva. O Orçamento para 2021 não vai ser fácil . As
reuniões preparatórias começam hoje, em São Bento , com António Costa a receber os
representantes dos partidos de esquerda e do Pan.
A jornalista da Sic , Ana
Geraldes, diz-lhe o que pode esperar destas reuniões. E, na entrevista, que
poderá ler, na edição deste sábado, da revista do Expresso, o
primeiro-ministro deixa um aviso: “Se não houver um acordo é simples: não há
Orçamento e há uma crise política”.
Mas se Costa diz mata, Marcelo diz esfola.
Trump. Agora sim, é oficial.
Donald Trump é o candidato dos republicanos para as eleições de
novembro. No discurso de aceitação o atual inquilino da Casa Branca trocou
o optimismo pela ameaça e apostou todas as fichas numa vacina contra o
novo coronavírus, que continua a matar quase mil americanos todos os dias.
“Vamos ter uma vacina antes do fim do ano, se não antes”, disse perante uma multidão sem máscara de protecção.
Eleição. Ed Davey é o
novo líder dos Liberais Democratas britânicos. Antigo ministro da Energia
e das Mudanças Climáticas durante o governo de coligação, entre 2010 e 2015,
conseguiu arrecadar quase o dobro de votos de Layla Moran, a candidata
derrotada.
Na hora da vitória, manifestou-se “determinado a reconstruir o partido e lutar por uma sociedade mais verde, justa e solidária”. Não vai ser fácil porque a popularidade dos Lib-Dem anda pelas ruas da amargura.
Na hora da vitória, manifestou-se “determinado a reconstruir o partido e lutar por uma sociedade mais verde, justa e solidária”. Não vai ser fácil porque a popularidade dos Lib-Dem anda pelas ruas da amargura.
Feira. A Feira do Livro do
Porto abre portas hoje. Ontem, foi a vez da de Lisboa. Uma boa notícia para
editores, livreiros e para milhares de leitores, que aproveitam esta
oportunidade para adquirir livros a preços mais acessíveis e para
trocar dois dedos de conversa com os autores.
Mas este é apenas uma gota
num mar de prejuízos. O universo editorial registou uma quebra de receitas de 30
por cento em comparação com o primeiro semestre do ano passado.
Mais uma boa razão para se
deslocar ao Parque Eduardo VII, em Lisboa, e ao Palácio de Cristal, no Porto. E
se pretende comprar um único livro deixo-lhe aqui uma sugestão: “
Amália: Ditadura e Revolução”, de Miguel Carvalho.
Futebol. O Vitória de
Setúbal, um dos históricos do futebol português, suou até ao último minuto para
se salvar da descida de divisão. De nada lhe valeu. Foi relegado para o
campeonato de Portugal, o equivalente a terceiro escalão, por incumprimento
financeiro.
Os sadinos ainda avançaram com
uma providência cautelar contra a decisão da Liga de Futebol, mas foi rejeitada
pelo Tribunal Arbitral de Futebol. Quem esfrega as mãos de contente é o
Portimonense, que vai ocupar o lugar deixado vago.
Messi. Onde é que a estrela
argentina vai jogar na próxima época? Esta é a pergunta de um milhão de
dólares para os adeptos do desporto rei um pouco por todo o mundo.
Mas como há luxos que só o
dinheiro – muito dinheiro – pode comprar, há quem ponha as mãos no fogo e
garanta que o destino de Leo Messi será o Manchester City.
Dinheiro à parte, seria a
oportunidade de reencontrar Pepe Guardiola, o treinador com quem escreveu
algumas das páginas mais gloriosas do Barcelona.
Olé, o mais importante diário
desportivo da Argentina, está a acompanhar o caso a par e passo e até avança
com o nome escolhido pelos catalães para substituir Messi - o senegalês Sadio Mané, do Liverpool.
O QUE EU ANDO A LER
O QUE EU ANDO A LER
Tem fama de ser um verdadeiro
bicho do mato, daqueles que fogem a sete pés de tudo o que é mundano. Vive
recolhido na sua cidade, de tal maneira que recebeu a alcunha de “Vampiro
de Curitiba”, curiosamente o título de um dos seus livros mais famosos.
Dalton Trevisian já recebeu
os mais importantes prémios literários brasileiros, mas pouco ou nada se sabe a
seu respeito. Mesmo quando, há dois anos, venceu o prémio Camões, não
abriu as portas do seu mundo.
Nos seus livros, os dramas e as
personagens da sua cidade surgem em carne viva. É por isso que, apesar de a sua
escrita nunca sair da Curitiba, tem uma dimensão universal.
Nestes últimos dias, regressei ao
livro “O Anão e a Ninfeta”, uma série de pequenos contos simplesmente
deliciosos. E o prazer é o mesmo da primeira vez, o que é um selo de qualidade
para qualquer livro.
Em jeito de aperitivo, deixou-vos
o arranque do conto “ O Jogo Sujo do Amor”. “Aos dezessete anos você não é
sério. Gil não era sério aos sessenta”.
O QUE EU ANDO A OUVIR
O QUE EU ANDO A OUVIR
Conheci-o no final dos anos
oitenta do século passado. Nessa altura, a sua música tinha lugar cativo
no gira-discos do meu programa de música africana na Voz de Lisboa, a onda
média da Renascença.
Tinha acabado de lançar o álbum
“Estamos Juntos”, uma verdadeira lufada de ar fresco no panorama da música
africana. Para além da voz, com um timbre inconfundível, e da qualidade das
suas composições, tinha conseguido uma série de duetos improváveis com a fina
flor da música popular brasileira.
Estava indiscutivelmente muito à
frente do seu tempo. E isso talvez tenha explicado, em parte, a travessia
do deserto que se seguiu. E que durou largos anos.
Mas o talento nunca desapareceu.
Anos mais tarde, com “PretaLuz”, começou
uma segunda carreira. Estava mais maduro do que nunca. Mas, e talvez
tenha sido a sua grande mágoa, sempre foi muito mais reconhecido fora do
que no seu país, Angola.
Waldemar Bastos, é dele que se
trata, deixou-nos num dos primeiros dias do mês de Agosto. E eu continuo a
pensar que Velha Xica é a sua imagem de marca. A principal faixa da
banda sonora da sua vida.
Em jeito de homenagem, deixo-lhe
a versão magistralmente interpretada pela London Symphony Orchestra. Passados
estes anos todos, continuo a arrepiar-me como da primeira vez.
Tenha um resto de bom dia.
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