Mariana Mortágua | Jornal de Notícias | opinião
Nos
últimos 21 anos, o Bloco de Esquerda desenvolveu aquilo a que Ricardo Salgado
chamou uma "obsessão patológica" pelos negócios dos "donos de
Portugal". Nestes anos, questionámos o poder de banqueiros, denunciámos o
rentismo nas empresas privatizadas e fizemos as contas à porta giratória que
unia (e une) PS e PSD aos interesses económicos. É essa intransigência na
defesa do que é público que hoje dirigimos ao Novo Banco.
Todas
as semanas, o tema regressa pelas piores razões. E, sim, "nós
avisámos" sobre um desastre que só não anteviu quem não quis, e
apresentámos proposta: nacionalizar o banco teria custos, mas garantia o
controlo público ao serviço da economia.
No
dia 27 de janeiro de 2017, propusemos a "manutenção da propriedade do Novo
Banco na esfera pública", que foi rejeitada por PS/PSD/CDS. No dia 13 de
abril, propusemos a condenação do Governo pela decisão de venda sem consulta ao
Parlamento, rejeitada por PS/PSD. Nesse dia, deu entrada um projeto para a
"Nacionalização do capital social do Novo Banco, SA", também
rejeitada por PS/PSD/CDS. No dia 5 de maio, marcámos um debate para denunciar
as condições de venda, a que se seguiram dezenas de artigos, propostas de
orçamento, audições ao Banco de Portugal, ao Fundo de Resolução e à
Administração do Novo Banco, pedidos de documentação e outros tantos debates e
requerimentos.
A
cada novo pedido de injeção de capital, o Novo Banco deu-nos razão. Com a
determinação de uma auditoria à gestão privada do Novo Banco, o Governo
(empurrado pelo Parlamento) escolheu o caminho mais longo. Mas foi um passo
importante para dotar o Estado dos instrumentos que lhe permitam fazer frente
ao fundo Lone Star. É por isso que defendemos que fosse impedida uma nova
injeção sem conhecer os resultados dessa auditoria. Ao fazer a transferência de
850 milhões contra a palavra do primeiro-ministro, o Governo foi fraco perante
os interesses do fundo financeiro internacional. E voltou a sê-lo ao aceitar o
atraso da Deloitte, contratada por três milhões de euros para auditar o Novo Banco.
O mesmo Governo que não quis esperar para pagar ao Lone Star aceitou o atraso
imposto pela consultora financeira.
Seja
o que for que a auditoria da Deloitte esconde, o país não tem que aceitar a
espera. A consultora e o Governo devem informar o Parlamento de todas as
conclusões preliminares, e o Governo, para dar-se ao respeito, deve cancelar o
contrato. Depois, o Estado tem uma de duas opções para terminar uma auditoria
que defenda o interesse público: ou a IGF ou Mário Centeno mostra o que vale no
Banco de Portugal.
PS.
Solidarizo-me com os milhares de pessoas que se juntaram para pedir justiça por
Bruno Candé. O seu homicídio não será menorizado pelas distrações criadas por
André Ventura para disfarçar as suas ligações às offshores e aos vistos gold da
corrupção e o financiamento obscuro do seu partido. No Bloco, levamos o combate
à corrupção tão a sério como o combate ao racismo.
*Deputada do BE
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