Manuel Molinos |
Jornal de Notícias | opinião
"Em setembro, vamos ter
muitos vidros partidos por aqui. Muita fome e desespero". A antevisão é de
uma empresária do ramo da restauração, proprietária de um estabelecimento em
Olhos de Água, Albufeira. No ano passado tinha 18 empregados. Este ano tem dois.
"Só mantenho o restaurante aberto porque o imóvel é meu. Caso contrário,
fazia como os outros: fechava a porta", explicou-me em demorada conversa,
já que se contavam os clientes daquela noite pelos dedos de uma só mão.
Confesso que se não tivesse
passado uns dias de férias naquela zona algarvia, não teria a exata dimensão do
forte impacto económico que se instalou também naquela região, que, como
sabemos, tem no turismo e serviços o seu sustento.
O preocupante é o que vem aí,
depois de setembro, mesmo que, entretanto, os turistas britânicos nos visitem.
Ali e por todo o país, com as despesas das famílias a aumentarem com o regresso
às aulas e aos locais de trabalho e com o fim das moratórias.
São por isso assustadores, mas
infelizmente pouco surpreendentes, os dados divulgados pelo Instituto de
Emprego e Formação Profissional, que mostram um agravamento dramático do
desemprego.
Ninguém se iluda nem espere que o
"vai ficar tudo bem", tantas vezes enunciado durante o confinamento,
realmente aconteça. Não vai ficar tudo bem quando os que ainda resistem, na
esperança de que agosto e setembro lhes salve os negócios já moribundos,
fecharem as portas por falta de clientes. Não vai ficar tudo bem quando muitas
empresas regressarem de férias e não tiverem encomendas nem como pagar
ordenados. Não vai ficar tudo bem para muitos portugueses que acabarão sem
trabalho.
A segunda vaga de covid-19 não
será, portanto, o maior problema que se afigura no futuro próximo. António
Costa avisou, e bem, que não vamos poder voltar a encerrar escolas e empresas,
o que representaria a destruição do funcionamento da sociedade tal como a
conhecemos. Resta-nos a esperança de que os milhões que virão de Bruxelas sejam
bem usados. Não só para diminuir o impacto desta terrível pandemia, mas sobretudo
para nos preparar para um futuro mais seguro e que não nos coloque sempre numa
humilhante posição de pedintes da Europa.
*Diretor-adjunto
1 comentário:
Os milhões de Bruxelas hão de ir parar aos bolsos dos mesmos de sempre.
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