Mariana Mortágua* | Jornal de
Notícias | opinião
A crise de 2008 expôs ao Mundo o
falhanço do modelo económico neoliberal, seja na sua versão mais radical (nos
EUA) ou mais "social" (na Europa). Doze anos depois, nada mudou a
esse respeito.
Wall Street soma e segue e nos
EUA as grandes empresas até pagam menos impostos; a Apple acabou de ganhar um
processo em que era acusada de um esquema de evasão fiscal de 13 mil milhões
através da Irlanda; nos offshores nem um arranhão. A banca sombra sobreviveu
bem à crise que provocou, embora o mesmo não se possa dizer de tanta gente que
perdeu a casa e o emprego.
Doze anos depois, o poder das
elites económicas continua intacto mas, para isso, o Mundo teve de mudar muito.
Em vários países, instituições democráticas, herdeiras do sofrimento e da luta
contra os horrores da guerra e da ditadura, estão a ser desmanteladas para que
tudo o resto permaneça igual. EUA, Brasil, Polónia, Hungria, Turquia,
Áustria... sob diferentes capas e de diferentes formas, em todos os pilares da
democracia estão em causa, com sucessivas ameaças à liberdade de imprensa e à
independência do poder judicial; com ataques ao Estado social e ordem de
soltura às milícias mais violentas; com discursos de ódio e preconceito.
Não nos enganemos, estas
extremas-direitas são tão eficazes em desviar as atenções do sistema económico
podre como das suas próprias políticas corrompidas e cúmplices desse sistema -
veja-se o passado de Trump, de Bolsonaro ou de André Ventura. E por isso estes
partidos e personalidades têm sido tão úteis à Direita tradicional. É a aliança
que lhes permite juntar poder em torno de um programa económico liberal, mesmo
tendo de abdicar de alguns compromissos democráticos, e mesmo que tudo isso
seja feito à custa de bodes expiatórios. Não interessa quais: nuns países são
os árabes, noutros os ciganos; nuns são os refugiados, noutros os emigrantes;
nuns são os negros, noutros os homossexuais. Alimentam-se bodes expiatórios que
cheguem para pôr remediados contra pobres, pobres contra pobres, e pobres
contra remediados. E assim se avança, numa macabra dança das cadeiras que a
História já dançou vezes mais que suficientes para reconhecer.
Agora mesmo, na Polónia,
ativistas contra a homofobia estão a ser presas arbitrariamente por um Governo
que falhou todas as promessas de justiça e bem-estar mas que está a desmantelar
a constituição democrática do país. Um Governo liderado por um partido que
trata os refugiados de guerra como uma "praga", mas chegou ao poder
dizendo querer combater a corrupção e jurando a pés juntos que não era de
extrema-direita. É assim que a extrema direita Governa, sempre que consegue
chegar ao poder com uma pequena ajuda dos seus amigos.
*Deputada do BE
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