quarta-feira, 2 de setembro de 2020

EUA | Kamala Harris não é pera doce


Ricardo Arenales

Obnubilados pela poderosa máquina de condicionamento da opinião pública constituída pelos meios de comunicação e pela imagem de afro-americana – Kamala Harris, a primeira mulher nestas condições que o Partido Democrata apresenta como candidata à vice-presidência, ao lado de Joe Biden – muitos observadores enaltecem a figura desta ex-promotora geral e senadora dos EUA.

Alguns apresentam-na como uma mulher de tendências centristas e creditam-lhe o facto de que nos últimos anos teve alguma relação com o candidato social-democrata Bernie Sanders. Mas não é possível haver engano. Ela própria disse recentemente aos meios de comunicação: "Não estou a tentar reestruturar a sociedade. Só estou a tentar atender aos assuntos que despertam as pessoas no meio da noite".

Noam Chomsky recordou recentemente que os EUA são dirigidos pelo sector empresarial para seu próprio benefício, que é o que representa Biden, e que Kamala Harris está longe da imagem de "procuradora progressista" que lhe fabricam os media desde a apresentação da sua candidatura presidencial em 2019. Alguns vão mais longe e destacam a figura de Harris pela sua crueldade.

Folha corrida desta candidata

Noam Chomsky refere-se ao tempo de Harris como promotora, no qual manteve gente inocente no cárcere, opôs-se a que réus com possibilidades de alcançar a liberdade pagassem fiança; opôs-se raivosamente a que o Estado reconhecesse o pagamento de indemnizações a pessoas injustamente encarceradas e defendeu a ideia de que os delinquentes não violentos permanecessem na prisão sem a possibilidade de benefícios como a redenção de penas.

Além disso, opôs-se a uma série de benefícios como o cumprimento de penas extra-muros, a fim de que os prisioneiros continuassem a trabalhar e se convertessem em mão-de-obra barata. Ocultou provas deliberadamente para evitar que outros detidos recuperassem a liberdade. Opôs-se a que os prisioneiros de orientação transexual ficassem num sítio de reclusão de acordo com as suas preferências de género.

Contra a esquerda

Para se fazer eleger senadora e depois como pré-candidata presidencial pelo Partido Democrata, Harris reconheceu que nas suas épocas juvenis algumas vezes fumou um charro de marijuana, certamente com a intenção de ganhar simpatias entre sectores juvenis. Contudo, durante a sua gestão como Promotora Geral do Distrito de São Francisco, condenou quase 2000 pessoas por delitos relativos à marijuana.

Para Biden, a fórmula vice-presidencial traz uma dinâmica mais fresca, uma vez que o candidato já tem 77 anos de idade. Assim, na recta final da campanha conseguiu recursos milionários de empresas privadas, da indústria turística, de empresas de tecnologia e do sector financeiro da Wall Street. A presença de Harris de alguma maneira corta o caminho a sectores mais à esquerda no Partido Democrata, que aspiravam a essa nomeação.


01/Setembro/2020

O original encontra-se em semanariovoz.com/kamala-harris-ninguna-perita-dulce/

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/

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