#Publicado em português do Brasil
Ceiri | Natalia Nahas Carneiro Maia
Calfat
O Secretário de Estado
norte-americano, Mike Pompeo, iniciou seu tour de cinco dias pelo Oriente
Médio. A viagem teve como objetivo exortar mais Estados árabes a assinarem tratados de paz com
Israel, normalizando as relações. A visita do Secretário teve início em 24
de agosto, e teve Tel Aviv como primeiro destino.
Em Jerusalém, Pompeo se reuniu
com o Primeiro-Ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e afirmou que esperava
ver outros países árabes seguindo o exemplo dos Emirados Árabes
Unidos, assinando acordos de paz com Israel.
O Secretário disse que a
normalização “não somente aumentaria a estabilidade no Oriente Médio, como
melhoraria a vida das pessoas nos seus próprios países”, mas assegurou que
os Estados Unidos garantirão que Israel retenha uma “vantagem militar qualitativa”, reportou o Al Monitor.
Simbolicamente, a visita também serviu como apoio a Netanyahu, que enfrenta
crises políticas domésticas, além de protestos e alto desemprego. O Premier
será julgado por corrupção a partir de janeiro de 2021.
No último 13 de agosto de 2020,
com mediação dos Estados Unidos, os Emirados Árabes Unidos e Israel assinaram
um acordo de paz histórico, o Tratado de Abraão, que prometeu “avanço significativo nas relações árabe-israelenses e redução
das tensões”. O anúncio também inauguraria um “desbloqueio de grande potencial no Oriente Médio”,
promovendo desenvolvimento econômico e tecnológico, já que os três países “enfrentam muitos desafios em comum na região”.
A contrapartida do acordo seria o
comprometimento israelense com a suspensão da declaração de soberania sobre os
30% adicionais da Cisjordânia, áreas delineadas no plano “Paz para Prosperidade” de Donald Trump, anunciado em
janeiro de 2020.
Em 25 de agosto, ainda em Israel,
Mike Pompeo se pronunciou na Convenção Nacional do Partido Republicano, defendendo a política de Donald Trump de “America First”, bem
como sua agenda externa. Ao endereçar os norte-americanos diretamente de Jerusalém ocupada, o enviado é acusado de apaziguar os
sionistas cristãos e evangélicos com seu discurso, reportou o Middle
East Monitor. O pronunciamento está sob investigação oficial de Washington por denúncias
de graves violações éticas.
O Secretário seguiu para Cartoum,
capital do Sudão, para onde fez o primeiro voo oficial direto de Israel. A correspondente
do New York Times descreveu a inédita permissão do trajeto como “outro salto no caminho para a normalização com Israel”. No
Sudão, o enviado discutiu a possibilidade de os Estados Unidos retirarem o país
da lista de nações patrocinadoras do terrorismo. O governo interino
sudanês, contudo, além de ter informado que não possui mandato para negociar
questões fora da sua agenda de transição, exortou que a retirada do Sudão da lista norte-americana de
terroristas estivesse desvinculada de quaisquer acordos de paz com Israel.
Em 27 de agosto de 2020, Pompeo
chegou a Omã, e reuniu-se em Muscat com o Sultão Haitham bin Tarik Al Said para promover unidade entre o Conselho de Cooperação do Golfo.
No dia anterior, no Bahrein, a
proposta de normalização havia sido rejeitada. O rei Hamad bin Isa al-Khalifa afirmou que permanecia comprometido com a Iniciativa de Paz
Árabe de 2002, que pede a normalização apenas em troca da retirada completa
de Israel dos territórios palestinos ocupados, reportou a Al Jazeera. Após
parada no Bahrein, o destino seguinte são os Emirados Árabes Unidos, onde
Pompeo também deverá promover o aquecimento das relações com o Estado israelense.
Até o Acordo de Abraão com o país
do Golfo, os únicos países árabes a acertarem relações com Israel foram Egito,
em 1979, e Jordânia, em 1994. Os destinos do tour de Pompeo seriam os Estados
cotados a serem os próximos a regularizarem as relações com os israelenses.
Apresentado como “inovador” e como “grande avanço”, o acordo foi fortemente
criticado pela população e pelas lideranças palestinas, que se sentiram traídas
pelo tratado. A Autoridade Nacional Palestina rejeitou o pacto e solicitou uma reunião de emergência da Liga
Árabe.
Analistas apontam que o acordo
tem cunho tecnológico e estratégico, viabilizando a venda de jatos F-35 dos
Estados Unidos aos Emirados – o que Israel nega ter permitido – e de fortalecimento
dos laços pró-ocidentais na região. Além de representar “o golpe mais recente dos Estados árabes à causa Palestina”,
a normalização é acusada de ser feita às custas do legítimo direito nacional
palestino, vez que ignora as violações israelenses ao Direito Internacional,
sobretudo a ocupação de facto nos territórios para além da linha verde
de 1967. O acordo, argumentam analistas, mira o Irã e deve ser compreendido dentro da campanha
de recrudescimento de sanções e de pressão máxima de Trump contra o chamado
eixo da resistência, composto, além do Irã, por Síria, Hezbollah, Hashd
ash-Shabi no Iraque e Ansar Allah no Iêmen.
Imagem: O Secretário de Estado
Michael Pompeo em encontro com o Sultão de Omã, Haitham bin Tariq Al Said, em
Muscat, Omã, em 21 de fevereiro de 2020
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