quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Pompeo tenta estimular mais países árabes a normalizarem relações com Israel


#Publicado em português do Brasil

Ceiri | Natalia Nahas Carneiro Maia Calfat

O Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, iniciou seu tour de cinco dias pelo Oriente Médio. A viagem teve como objetivo exortar mais Estados árabes a assinarem tratados de paz com Israel, normalizando as relações. A visita do Secretário teve início em 24 de agosto, e teve Tel Aviv como primeiro destino.

Em Jerusalém, Pompeo se reuniu com o Primeiro-Ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e afirmou que esperava ver outros países árabes seguindo o exemplo dos Emirados Árabes Unidos, assinando acordos de paz com Israel.

O Secretário disse que a normalização “não somente aumentaria a estabilidade no Oriente Médio, como melhoraria a vida das pessoas nos seus próprios países”, mas assegurou que os Estados Unidos garantirão que Israel retenha uma “vantagem militar qualitativa”, reportou o Al Monitor. Simbolicamente, a visita também serviu como apoio a Netanyahu, que enfrenta crises políticas domésticas, além de protestos e alto desemprego. O Premier será julgado por corrupção a partir de janeiro de 2021.


No último 13 de agosto de 2020, com mediação dos Estados Unidos, os Emirados Árabes Unidos e Israel assinaram um acordo de paz histórico, o Tratado de Abraão, que prometeu “avanço significativo nas relações árabe-israelenses e redução das tensões”. O anúncio também inauguraria um “desbloqueio de grande potencial no Oriente Médio”, promovendo desenvolvimento econômico e tecnológico, já que os três países “enfrentam muitos desafios em comum na região”.

A contrapartida do acordo seria o comprometimento israelense com a suspensão da declaração de soberania sobre os 30% adicionais da Cisjordânia, áreas delineadas no plano “Paz para Prosperidade” de Donald Trump, anunciado em janeiro de 2020.

Em 25 de agosto, ainda em Israel, Mike Pompeo se pronunciou na Convenção Nacional do Partido Republicano, defendendo a política de Donald Trump de “America First”, bem como sua agenda externa. Ao endereçar os norte-americanos diretamente de Jerusalém ocupada,  o enviado é acusado de apaziguar os sionistas cristãos e evangélicos com seu discurso, reportou o Middle East Monitor. O pronunciamento está sob investigação oficial de Washington por denúncias de graves violações éticas.

O Secretário seguiu para Cartoum, capital do Sudão, para onde fez o primeiro voo oficial direto de Israel. A correspondente do New York Times descreveu a inédita permissão do trajeto como “outro salto no caminho para a normalização com Israel”. No Sudão, o enviado discutiu a possibilidade de os Estados Unidos retirarem o país da lista de nações patrocinadoras do terrorismo. O governo interino sudanês, contudo, além de ter informado que não possui mandato para negociar questões fora da sua agenda de transição, exortou que a retirada do Sudão da lista norte-americana de terroristas estivesse desvinculada de quaisquer acordos de paz com Israel.

Em 27 de agosto de 2020, Pompeo chegou a Omã, e reuniu-se em Muscat com o Sultão Haitham bin Tarik Al Said para promover unidade entre o Conselho de Cooperação do Golfo.

No dia anterior, no Bahrein, a proposta de normalização havia sido rejeitada. O rei Hamad bin Isa al-Khalifa afirmou que permanecia comprometido com a Iniciativa de Paz Árabe de 2002, que pede a normalização apenas em troca da retirada completa de Israel dos territórios palestinos ocupados, reportou a Al Jazeera. Após parada no Bahrein, o destino seguinte são os Emirados Árabes Unidos, onde Pompeo também deverá promover o aquecimento das relações com o Estado israelense.

Até o Acordo de Abraão com o país do Golfo, os únicos países árabes a acertarem relações com Israel foram Egito, em 1979, e Jordânia, em 1994. Os destinos do tour de Pompeo seriam os Estados cotados a serem os próximos a regularizarem as relações com os israelenses. Apresentado como “inovador” e como “grande avanço”, o acordo foi fortemente criticado pela população e pelas lideranças palestinas, que se sentiram traídas pelo tratado. A Autoridade Nacional Palestina rejeitou o pacto e solicitou uma reunião de emergência da Liga Árabe.

Analistas apontam que o acordo tem cunho tecnológico e estratégico, viabilizando a venda de jatos F-35 dos Estados Unidos aos Emirados – o que Israel nega ter permitido – e de fortalecimento dos laços pró-ocidentais na região. Além de representar “o golpe mais recente dos Estados árabes à causa Palestina”, a normalização é acusada de ser feita às custas do legítimo direito nacional palestino, vez que ignora as violações israelenses ao Direito Internacional, sobretudo a ocupação de facto nos territórios para além da linha verde de 1967. O acordo, argumentam analistas, mira o Irã e deve ser compreendido dentro da campanha de recrudescimento de sanções e de pressão máxima de Trump contra o chamado eixo da resistência, composto, além do Irã, por Síria, Hezbollah, Hashd ash-Shabi no Iraque e Ansar Allah no Iêmen.

Imagem: O Secretário de Estado Michael Pompeo em encontro com o Sultão de Omã, Haitham bin Tariq Al Said, em Muscat, Omã, em 21 de fevereiro de 2020

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