Vítor Santos | Jornal de Notícias
| opinião
O Governo, então com Mário
Centeno como ministro das Finanças, pediu um documento ao Banco de Portugal; o
Banco de Portugal, agora liderado por Mário Centeno, entende estar impedido de
entregar o documento a quem o solicitar.
Não fosse demasiado sério, daria
vontade de rir. Nem quero imaginar o conflito latente na cabeça do governador,
obrigado, por lei, a dizer não a si mesmo. Se estivesse no lugar dele, para
evitar uma guerra entre dois eus, provavelmente apostaria em endereçar-me um
bilhete. Qualquer coisa parecida com isto: "Caro Mário Centeno, eu, Mário
Centeno, não te mostro os papéis que me pediste". Sem mais, seco, não vá
ser preciso ressuscitar Freud para resolver esta guerra entre dois hemisférios
do mesmo cérebro.
Certo é que só uma decisão judicial
poderá obrigar o Banco de Portugal a entregar o relatório da auditoria à
atuação da instituição na resolução do Banco Espírito Santo. Mais uma vez, numa
questão que envolve relações entre a Banca e o Poder, as normas favorecem a
opacidade. Continua a ser necessária muita insistência e doses gigantes de
paciência para se conseguir saber alguma coisa, quando devia acontecer
precisamente o inverso. Estamos a falar de decisões que custaram, e continuarão
a custar, muitos milhares de milhões de euros ao país, pelo que não encontro
motivos para não serem translúcidas como água.
Se os portugueses continuarão
preocupados - com uma fatura do BES que não pára de engordar e com os
obstáculos que inviabilizam o cabal esclarecimento da questão -, Carlos Costa,
o ex-governador, e a antiga equipa continuarão a dormir descansados, ainda que
sejam a cabeça e o corpo de um regulador que tardou a perceber a anormalidade
que eram as contas do BES mas à pressa o dividiu em bom e mau.
*Editor-executivo
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