Manlio Dinucci*
Os EUA continuam a modernização da sua força de ataque nuclear. Em violação do Tratado de Não Proliferação que assinou, a Itália alberga cada vez mais dessas armas.
No aeroporto militar de Ghedi
(Brescia), estão a iniciar-se os trabalhos de construção da base operacional
mais importante para os caças F-35A da Força Aérea Italiana, armados com bombas
nucleares. A empresa Matarrese spa, de Bari, que se adjudicou ao contrato com
uma oferta de 91 milhões de euros, vai construir um grande hangar para a
manutenção dos caças (mais de
Serão construídas duas linhas de vôo, cada uma com 15 hangares dentro dos quais estarão caças prontos para levantar voo. Isto confirma o que publicámos há três anos [1], ou seja, que o projecto (lançado pelo então Ministro da Defesa Pinotti) previa a fixação de, pelo menos, 30 caças F-35A.
A área ultra secreta onde os F-35 estarão instalados, cercados e vigiados, estará separada do resto do aeroporto. O motivo é claro: ao lado dos novos caças, estarão localizadas as novas bombas nucleares US B61-12, em Ghedi, num depósito secreto que não consta do contrato.
Como as actuais bombas nucleares B-61 com as quais estão armados os Tornado PA-200 do 6º Esquadrão, as B61-12 serão controladas pela unidade especial americana (704th Munitions Support Squadron della U.S. Air Force), «responsável pela recepção, armazenamento e manutenção de armas da reserva de guerra USA, destinadas ao 6º Esquadrão da NATO da Força Aérea Italiana». A mesma unidade da Força Aérea dos Estados Unidos tem a função de "apoiar directamente a missão de ataque" do 6º Esquadrão.
Os pilotos italianos já chegam treinados, nas bases aéreas de Luke, no Arizona, e Eglin, na Flórida, para usar o F-35A também em missões de ataque nuclear, sob comando USA.
Os caças do mesmo tipo, armados ou, de qualquer maneira, que podem vir a ser preparados com as bombas nucleares B61-12, estão albergados na base da Amendola (Foggia), onde já ultrapassaram as 5.000 horas de voo. Além destes, estarão os F-35 da U.S. Air Force, instalados em Aviano com as bombas nuleares B61-12.
O novo caça F-35A e a nova bomba nuclear B61-12 constituem um sistema integrado de armas: o uso do avião implica o uso da bomba. O Ministro da Defesa, Guerini (PD), confirmou que a Itália mantém o compromisso de comprar 90 caças F-35, 60 dos quais são caças modelo A com capacidade nuclear.
A participação no programa F-35, como parceiro de segundo nível, reforça a ancoragem da Itália aos Estados Unidos. A indústria de guerra italiana, chefiada pela empresa Leonardo que administra a fábrica dos F-35 em Cameri (Novara), está ainda mais integrada no gi-gantesco complexo militar-industrial dos Estados Unidos, liderado pela Lockheed Martin, a maior indústria de guerra do mundo, construtora dos F-35.
Ao mesmo tempo, a Itália - Estado não nuclear aderente ao Tratado de Não Proliferação que lhe proíbe ter armas nucleares no seu território - desempenha a função cada vez mais perigosa, de base avançada da estratégia nuclear USA/NATO contra a Rússia e contra outros países.
Dado que cada avião pode transportar 2 bombas nucleares B61-12 no porão interno, só os 30 caças F-35 de Ghedi, terão uma capacidade de, pelo menos 60 bombas nucleares. Segundo a Federação de Cientistas Americanos, a nova bomba "táctica" B61-12 para os F-35, que os EUA vão instalar em Itália e noutros países europeus a partir de 2022, sendo mais precisa e estando mais próxima dos seus alvos, "terá a mesma capacidade militar das bombas estratégicas distribuídas nos Estados Unidos ».
Por fim, fica a questão, ainda indefinida, dos custos. O Serviço de Pesquisas do Congresso dos Estados Unidos, em Maio de 2020, estima o preço médio de um F-35 em 108 milhões de dólares, precisando porém, que é "o preço de um avião sem motor", que custa cerca de 22 milhões. Depois de comprar um F-35, ainda que por um preço mais baixo como a Lockheed Martin promete para o futuro, começa a despesa para a sua modernização contínua, para o treino das tripulações e para o seu uso. Uma hora de vôo de um F-35A - documenta a Força Aérea dos Estados Unidos - custa mais de 42.000 dólares. Quer isto dizer que as 5000 horas de voo efectuadas só pelos F-35 de Amendola, custaram aos nossos cofres públicos 180 milhões de euros.
Manlio Dinucci* | Voltairenet.org | Tradução Maria Luísa de Vasconcellos | Fonte Il Manifesto (Itália)
*Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra. Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
Nota:
[1] Il manifesto, 28 de Novembro de 2017
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