terça-feira, 3 de novembro de 2020

Fome nos EUA: 23% das famílias não tem comida suficiente -- com áudio

A TSF acompanhou a entrega de comida a uma dessas famílias na capital americana.

A fome bate à porta de uma em cada quatro casas nos Estados Unidos. Antes da pandemia mais de 35 milhões de americanos não tinham comida suficiente. A organização Feeding America diz que até ao final do ano o numero poderá chegar aos 54 milhões. Sobretudo afro-americanos e latinos. A TSF acompanhou a entrega de comida a uma dessas famílias na capital americana.

Sentada no alpendre da sua casa em Mount Pleasant, um dos bairros na capital Norte-Americana conhecida pelos cidadãos latinos e afro-americanos, Delmira Baldonaro, emigrada de El Salvador há mais três décadas, agora com 62 anos e diabética, está desempregada. "Estou desempregada há sete meses. Trabalhava três dias por semana num hotel a fazer limpeza", conta à TSF. Delmira vive agora na casa dos dois filhos, os seus parceiros e os quatro netos.

É uma das beneficiárias da caixa de alimentos - que inclui iogurtes, carne, queijo, leite, massa, fruta e vegetais - entregues pela organização Food for All, Comida para Todos, a funcionar em Washington DC. Devido à idade e ao problema de saúde, Delmira Baldonaro não prevê facilidade em encontrar novo trabalho. "Este é um problema geral nos Estados Unidos. Temos visto um crescimento dramático no número de pedidos de comida devido à pandemia. Em janeiro assistíamos 140 pessoas por semana. Na semana passada foram mais de 3200.", afirma Peter Sage, diretor executivo da Food for All.

Devido à pandemia, há mais famílias nos Estados Unidos sem comida. O departamento da agricultura dos Estados Unidos falava em 10,5% de famílias a viver em insegurança alimentar (falta de disponibilidade e acesso a comida) antes da Covid-19. De acordo com a Universidade de Northwestern a percentagem é agora de 23%. As estatísticas indicam que os cidadãos latinos e os afro-americanos são mais propensos a experienciar insegurança alimentar.

No armazém da Food for All os camiões aguardam pela entrada das caixas de comida, criadas com o apoio do governo, da câmara municipal de DC e dos vários parceiros da instituição. Há cerca de um mês as organizações foram obrigadas a aceitar uma nova norma governamental: incluir na caixa fornecida pelo estado federal uma carta assinada por Donald Trump, que indica que a oferta de comida vem da sua parte. Peter Sage critica, dizendo que se trata de uma estratégia de marketing de campanha.

A organização é uma das muitas instituições que tem aberto as portas às longas filas que, nos últimos meses, têm crescido exponencialmente. Um crescimento que Peter Sage, lembra, é também consequência da má gestão governamental relativamente à Covid-19. "É lamentável, diria. Provavelmente, o maior crime que o governo federal cometeu foi politizar a saúde pública. É indesculpável. A saúde pública não tem uma cor política. É sobre a segurança das pessoas. Penso que uma mudança no governo federal depois destas eleições ajudaria definitivamente. Mas vai ser difícil limpar o caos criado pela administração atual", afirma.

Em consequência do aumento dos beneficiários o orçamento da organização engordou. Os três mil dólares gastos mensalmente chegam agora apenas para os gastos de uma semana. As doações do governo duplicaram e as doações privadas escalaram, mas Peter Sage teme que em 2021 haja uma saturação. Nesse caso dos mais de três mil residentes que a organização ajuda, dois mil perderiam o acesso à comida.

Paula Alves Silva, nos EUA | TSF (ouvir reportagem)

Na imagem: Peter Sage (ao centro)

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