terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Viver com HIV/SIDA em Angola continua a ser um “fardo pesado”

Na província angolana de Bengo, os seropositivos queixam-se de discriminação por parte dos profissionais da saúde. Revelam também que a província não realiza testes de CD4 há mais de dois anos.

Alguns pacientes infetados com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV/SIDA), relatam que são obrigados a aguardar por muitas horas pelo atendimento no Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito, a única unidade especializada da província do Bengo para o efeito.

Joana -  nome fictício de uma paciente de 34 anos - em entrevista à DW África, disse que "a enfermeira chega a hora que ela quiser”. E à espera de atendimento contou: "Eu cheguei às 7:50, vivo distante [daqui], apanho três táxis para chegar nesse lugar”.

O Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito, enfrenta igualmente a escassez de medicamentos.

Discriminação social

Para além dos problemas com o sistema de saúde, a discriminação social é outro problema que os partadores da doença no Bengo enfrentam.

José, outro seropositivo que também preferiu usar um nome fictício, relatou que "na rua as pessoas falam que o fulano tem isso [HIV]. Mesmo que você não tenha aquilo, só porque emagreceste um pouco já dizem que tem”.

Entende que esta discriminação provoca muita depressão nas pessoas vivendo com a doença "mesmo que seja possível viver até aos 30 ou 50 anos com a doença, a pessoa já não consegue por causa da irritação da rua”, lamentou.

Direção do Centro reconhece atrasos no atendimento

O responsável do Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito, Daven Kungaquitila, reconheceu as reclamações dos utentes.

Sobre os atrasos do pessoal de saúde, Kungaquitila avançou que 100% do seu pessoal, reside na vizinha província de Luanda, que dista a mais de 100 Km, o que dificulta a sua chegada pontual.Em 2018, o Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito deixou de fazer, o teste de CD4, para o monitoramento do vírus no organismo do paciente.

Entretanto, Daven Kungaquitila, indicou que "o problema não é da província. Até, inclusive, a diretora [provincial] veio e ligou diretamente ao diretor nacional", disse adicionando que o grande problema tem a haver com a falta de reagente.

No Bengo, os municípios do Dande, Nambuangongo, Dembos e Ambriz são os mais afetados pelo HIV/SIDA. Seis mortes foram registadas nos últimos 30 dias naquela província.

No Centro de Aconselhamento e Testagem Voluntária de Caxito são atendidos, mensalmente, mais de cem pacientes. 

Para marcar o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, 1 de dezembro, a província disponibilizou 1.800 testes rápidos de HIV. 

António Ambrósio (Caxito) | Deutsche Welle

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