segunda-feira, 9 de março de 2020

Portugal | Coronavivos


Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

Prisões sem visitas, hospitais sem visitas, lares sem visitas. Escolas fechadas, empresas fechadas. Uma população de 100 mil pessoas condicionada na ação.

O presidente da República em isolamento voluntário durante duas semanas porque tirou uma fotografia com um grupo de alunos de uma escola de Felgueiras frequentada por um estudante infetado com coronavírus. O mesmo presidente que, na véspera do anúncio, se sentara ao lado do primeiro-ministro num teatro à pinha e que, horas antes, visitara os doentes internados no Hospital de S. João que estão a receber tratamento ao omnipresente Covid-19. A distância entre o alarmismo descontrolado e a prudência excessiva de base profilática é cada vez mais diminuta. Em Portugal e no Mundo. Teremos mesmo de transformar todos os 8 em 80? Ou será possível atacar a tempestade com bom senso?

A nós, cidadãos que queremos trabalhar, que queremos continuar a ir ao ginásio, ao dentista e ao cinema, que não desejamos deixar de viajar nem de nos inter-relacionarmos, não nos resta senão confiar nas autoridades de saúde. Porque também temos a obrigação de olhar para o que está a suceder em Itália e imaginar, ainda que em tese, que também sobre nós se pode abater um terrível manto de mortandade. Mas a realidade dinâmica do coronavírus, como pomposamente é tratada por quem é forçado a improvisar à medida que caminha, também devia fazer pensar quem toma decisões draconianas. Basta ver como alguns hospitais contornaram as ordens da ministra da Saúde em relação às proibições das visitas para se perceber a necessidade de acautelar as especificidades de cada situação. Se não for a ajuda de familiares e amigos, há doentes internados que não são acompanhados com o zelo necessário. Que não mudam de roupa nem comem. Porque o sistema não aguenta, não providencia. Ignorar isto é ignorar o óbvio. À proibição de visitas vai suceder um reforço de pessoal? Os países que tenham a pretensão de querer imitar os chineses na resposta musculada ao coronavírus podem tirar o cavalinho da chuva. A China, mesmo tendo uma economia de base capitalista, é um estado autocrático e, por isso, não pode ser tipificada como molde. Preparemos Portugal para tudo, mas não transformemos o quotidiano num inferno nem a economia num marasmo. Há vida para além do coronavírus. Ainda que às vezes não pareça.

*Diretor-adjunto

Portugal | Coronavírus isola 100 mil em Lousada e Felgueiras


Aumento de doentes com Covid-19 no Norte leva autoridades a tomar medidas com impacto em mais de 100 mil pessoas.

O aumento dos doentes infetados com o novo coronavírus na Região Norte levou a Direção-Geral da Saúde (DGS) a mandar encerrar todas as escolas públicas e privadas dos concelhos de Felgueiras e Lousada. A DGS explica que 19 dos 23 doentes infetados no Norte ( são 31 no total do país ) são daquela região e, para conter a transmissão da doença, decidiu ainda fechar os ginásios, bibliotecas, piscinas, espaços para eventos e cinemas. Os munícipes estão a ser aconselhados a evitar deslocações desnecessárias e reuniões com muita gente. Medidas que terão implicações na vida de mais de 100 mil pessoas.

Em comunicado, enviado já depois das 22 horas de domingo, a DGS afirma que "a evidência apoia o fecho preventivo de todas as escolas" porque os estudos comprovam que, em situação de epidemia, o fecho preventivo é mais eficaz do que o reativo. "A medida é temporária e durará até ser levantado o encerramento por parte das Autoridades de Saúde".

Coronavírus | Sobe para 31 número de infetados em Portugal


Seis são crianças

A situação epidemiológica em Portugal continua a agravar-se. Há neste momento 31 casos confirmados, 56 pessoas a aguardar resultado laboratorial e 447 em vigilância pelas autoridades de saúde. Entre os infetados estão 6 crianças entre os 10 e os 19 anos, uma deles o primeiro caso de infeção no Algarve. A rapariga é aluna de uma escola em Portimão e esteve recentemente em Itália.

Segundo os dados da DGS, do total de casos 6 estão hospitalizados em Lisboa, no Hospital Curry Cabral e no Dona Estefânia, onde este domingo foi admitido um jovem aluno da Amadora, um em Coimbra e 22 no Porto, 6 dos quais no Santo António e os restantes no São João.

O boletim divulgado ao final da tarde revela ainda que tosse, febre e dores musculares são os principais sintomas dos portugueses infetados. Fica ainda a saber-se que neste momento existem quatro cadeias de transmissão ativas, o que significa que quatro doentes estão na origem da propagação do vírus, sobretudo em meio familiar e em contexto laboral.

Entretanto, às 22h, o Expresso soube que mais uma criança foi diagnosticada no Hospital de Dona Estefânia com covid-19. Trata-se de uma jovem com ligação à professora que dá aulas em duas escolas da Amadora e que ficou infetada numa viagem de férias a Itália.

Vera Lúcia Arreigoso | Expresso

Tendências de evolução dos paraísos fiscais


Carlos Pimenta* | Dinheiro Vivo | opinião

A OCDE aparenta liderar o combate aos offshores, mas os países que a constituem são responsáveis por quase metade do sigilo financeiro no mundo

A Rede de Justiça Fiscal (Tax Justice Network) é uma organização com sede no Reino Unido, constituída em 2003 e que tem como objectivo principal actuar sobre “um vasto leque de questões relacionadas com impostos, paraísos fiscais e globalização financeira”, visando a ética e a justiça fiscal. Pretende constituir-se como rede internacional, embora ainda esteja aquém das suas possibilidades.

Publica periodicamente um Índice de Sigilo Financeiro (Financial Secrecy Index), o qual mede, através de uma série de indicadores, simultaneamente, o grau de secretismo e a quantidade de operações financeiras realizadas.

São várias as instituições que publicam listagens dos offshores existentes (como a OCDE, o FMI ou muitos dos Estados), mas a melhor é a da TJN, porque a listagem é feita a partir de uma definição precisa de offshores e através da consulta de vários tipos de inventários, uns oficiais, outros de cientistas estudiosos do problema; não há conflitos de interesse na TJN (como por exemplo na OCDE), o que é potencial garantia de maior rigor; há um acompanhamento pormenorizado e atento do que é feito em cada offshore. A TJN procede à divulgação clara e rigorosa de todas as suas análises, sempre abertas ao contraditório.

Os trabalhadores frente a Trump e às primárias democratas


John Catalinotto [*] -- entrevistado por Initiative Communiste

IC: Como avalia o primeiro mandato de Trump em termos sociais, políticos, culturais e geopolíticos?

JC: Trump conseguiu transferir uma enorme quantidade de riquezas da classe operária, inclusive dos sectores mais oprimidos, para os sectores mais ricos e mais elitistas da sociedade americana. Ele fez isso principalmente de duas maneiras:

A primeira consistiu em modificar as leis fiscais a fim de que aos rendimentos mais elevados fosse imposta uma taxa muito mais baixa, reduzindo igualmente os impostos sobre os lucros das sociedades, os ganhos em capital e a riqueza herdada – todas estas mudanças ajudam os super ricos.

O segundo modo foi por privatizações, pela abertura das terras públicas a uma exploração privada, como a costa do Alasca e certas partes do Oeste americano. Esta prenda à sua classe miliardária valeu-lhe o apoio contínuo deste sector da sociedade, ainda que uma parte da classe dirigente considere Trump como um presidente incompetente que não compreende nada dos assuntos estrangeiros. Ele enche os seus cofres com dinheiro. E eles gostam disso.

Politicamente, Trump polarizou a sociedade. Há menos cooperação do que nunca nestes últimos tempos entre o Partido Republicano de Trump e o Partido Democrata, que são ambos partidos pró capitalistas e pró imperialistas. Todos os presidentes americanos dizem mentiras.

Culturalmente, Trump eliminou os factos do discurso público e substitui-os por uma retórica que enfatiza sua ideologia reaccionária: racismo, misoginia, islamofobia, comentários anti-LGBTQ são a contribuição diária do presidente dos Estados Unidos. Em reacção a esta evolução, à esquerda, tem havido um crescimento do movimento social-democrata que é contra Trump e também por reformas sociais. A maior parte destas reformas já haviam sido conquistadas em numerosos países europeus entre 1945 e 1990, como os cuidados de saúde universais, a educação gratuita, melhores pensões de reforma. Os comentários reaccionários diários de Trump também promoveram a dinâmica dos partidos fascistas, das milícias de extrema-direita, etc.

Geopoliticamente, Trump prosseguiu seus esforços para atingir os mesmos objectivos das administrações anteriores, a saber, a dominação imperialista americana dos países oprimidos e a hegemonia americana dentro do mundo imperialista. Ele clama mais abertamente por tratados que favorecem o "U.S. America First", em oposição aos tratados mundiais. Seus ataques a princípio pareciam ameaçar a aliança da NATO, mas eles revelaram-se exigências para que as potências imperialistas europeias pagassem um maior custo da aliança militar e aceitassem ter menos migalhas do saqueio imperialista. Os EUA perderam poder económico relativo (para a China e a UE) e Washington está a tentar ultrapassar esta perda recorrendo a mais poder militar. Isso é verdadeiro sob Bush, Obama e agora sob Trump.

O PREÇO DO PETRÓLEO


Os preços do petróleo despencam neste momento. Dia 8/Março os preços de referência chegaram aos US$36 para o Brent e US$33 para o WTI. A causa imediata da recessão é certamente o não acordo entre a Rússia e a OPEP para o aumento de cortes de produção.

A causa mais profunda está na recessão económica, agora numa sincronia (quase) mundial.

A consequência imediata desta queda de preços será provavelmente a inviabilização económica dos petróleos de alto custo obtidos nos EUA por meio da fracturação hidráulica (fracking), assim como o óleo de xisto (shale) produzido no Canadá.

Assim, as basófias trumpianas de que os Estados Unidos haviam obtido autonomia energética vêm por água abaixo.

Brasil | O perverso humor dos ultraliberais



Palhaçadas presidenciais não escondem pífio crescimento do PIB. Desnuda-se a piada do Mercado: para prosperar, exige vida cada vez mais árida, e duros cortes nos serviços sociais. Após fracasso já esperado, solução é mais “austeridade”

Almir Felitte* | Outras Palavras

Na quarta-feira (4/3), finalmente foi publicado o resultado do crescimento do PIB brasileiro em 2019. E o índice foi uma verdadeira ducha de água fria para quem ainda nutria alguma esperança de que o país estaria saindo do buraco económico em que se meteu. Com um crescimento pífio de 1,1%, o primeiro ano do Governo Bolsonaro representou uma desaceleração da economia para o Brasil, com um verdadeiro “PIBinho” ainda menor que o do ano anterior, ainda no capenga Governo Temer. Com o terceiro ano de crescimento minúsculo, a economia brasileira vai atravessando uma das piores recuperações da sua história, ainda longe de compensar o tombo sofrido na recessão de 2015 e 2016.

A resposta do Presidente para o péssimo resultado não poderia ser mais surreal e humilhante. Logo após a divulgação da notícia, Bolsonaro apareceu em Brasília com um humorista fazendo papel de seu sósia. Ao ser perguntado por jornalistas sobre o preocupante baixo crescimento do PIB, o Presidente indagou “o que é PIB?”, passando a palavra para o palhaço, deixando a imprensa ali presente e todo o povo brasileiro sem qualquer explicação ou satisfação.

Mas não é sobre nenhum destes dois palhaços (nem o humorista, nem o que ocupa a nossa Presidência) que este texto veio falar. A coluna de hoje é dedicada a uma outra classe de humoristas em plena ascensão no Brasil: a dos analistas liberais da economia. Apesar de que “analista” talvez não seja a melhor palavra para se referir a esta classe que promove uma verdadeira torcida em sua incessante mania de impor uma agenda liberal para o país.

E a torcida já parece ter entrado em campo mais uma vez. Após o vexame de mais um ano de crescimento pífio, alguns analistas liberais com cadeira cativa na mídia tradicional correram apressados para apresentar o inteligentíssimo diagnóstico: o Brasil ainda não fez reformas liberais suficientes, é preciso mais. Mas tal análise não é inédita na grande mídia brasileira. Nos jornalões do país, as reformas liberais já se tornaram um grande “na volta a gente compra” do mercado para o povo brasileiro.

Brasil | A ditadura já começou!


Luiz Fernando Leal Padulla* | Pátria Latina | opinião

A ditadura não bate à porta. Ela já entrou sem precisar sequer invadir. Abriram as portas mesmo sob o aviso dos riscos.

Policiais militares – filhotes ressurgentes – invadindo escolas e agredindo covardemente alunos menores de idade, fazendo jus ao passado ainda tão presente de um Estado policialesco e fascista.

Professores e professoras sendo perseguidos por ensinar e educar!

Juiz (sic) que negocia cargo político e age como inquisidor medieval contra a maior liderança política da esquerda brasileira e mundial, julgando-o e condenando-o sem qualquer prova! Não satisfeito com o apoio ao Golpe de 2016, continua sua perseguição e, utilizando de seu posto frente ao Ministério da Justiça, solicita abertura de inquérito contra Lula com base em uma estapafúrdia Lei de Segurança Nacional, usada justamente nos anos de chumbo para perseguir inimigos políticos. Um ministro (sic) tratado como herói por alienados, e que agora mostra-se conivente com casos de corrupção e com milicianos – carinhosamente denominado como “capanga da milícia”.

Maduro acusa EUA de empurrar Brasil para conflito armado contra Venezuela


O presidente venezuelano Nicolás Maduro acusou o governo dos EUA de “empurrar o Brasil para um conflito armado com a Venezuela”.

“Pedimos aos setores democráticos e humanistas, ao povo do Brasil e às forças militares que detenham qualquer aventura de Jair Bolsonaro, em coordenação com Donald Trump, contra a Venezuela”, pediu Maduro durante uma reunião com prefeitos e governadores no Palácio de Miraflores, em Caracas.

De acordo com o presidente venezuelano, Bolsonaro “foi convocado à mansão do [líder norte-americano] Donald Trump em Miami” para debater sobre a Venezuela “como único tema” na agenda. O encontro está programado para ocorrer neste sábado (7) na residência de Mar-a-Lago, na Flórida.

“Da Casa Branca, foi decidido um plano para trazer guerra, terrorismo, para desestabilizar e encher a Venezuela de violência, para escalar um conflito armado e justificar uma intervenção militar em nosso país”, denunciou o líder bolivariano.

Durante o evento, Maduro também pediu “máxima difusão” da campanha “As sanções são um crime”, que busca mostrar os danos causados pelas ações de Washington contra Caracas. Para o presidente venezuelano estas medidas coercivas dos EUA são “um desprezo supremacista e racista” contra o seu país.

“Na Casa Branca decidiu-se um plano terrorista para tentar desestabilizar a Venezuela. Contudo, temos a capacidade de enfrentar todas as dificuldades com inteligência, coragem, estratégia, capacidade de luta e utilização da força. Esse é e será o nosso sucesso!”

Segundo o governo venezuelano, estas sanções causaram prejuízos equivalentes a US$ 40 bilhões (R$ 185 bilhões).

No dia 5 de março, Bolsonaro decidiu que os representantes diplomáticos venezuelanos no Brasil deveriam deixar o país e, se não o fizessem, seriam expulsos.

Assim como os Estados Unidos, Bolsonaro reconhece o autodeclarado presidente interino Juan Guaidó como mandatário legítimo da Venezuela.

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