quinta-feira, 24 de setembro de 2020

A «guerra contra o terror» dos EUA é a verdadeira causa da crise de refugiados na Europa

Patrick Cockburn *

Oito guerras promovidas directamente pelos EUA ou que têm a sua aprovação tácita (Afeganistão, Iraque, Síria, Iémen, Líbia, Somália, noroeste do Paquistão e Filipinas) provocaram 38 milhões de pessoas deslocadas e em fuga. Destes, 8 milhões em fuga para o exterior dos seus países, 27 milhões no interior dos seus países destruídos. Esta tragédia não terá fim enquanto essas guerras não terminarem, e não será superada sem um fim que devolva aos povos o pleno direito de reconstruírem livremente o que a agressão imperialista destruiu e destrói.

Refugiados desesperados amontoados em barcos casca-de-noz que acostam nas praias de cascalho da costa sul de Kent são facilmente retratados como invasores. Manifestantes anti-imigrantes exploravam esses temores no fim de semana passado, enquanto bloqueavam a estrada principal para o Porto de Dover para “proteger as fronteiras da Grã-Bretanha”. Entretanto, a ministra do Interior, Priti Patel, culpa os franceses por não fazerem o suficiente para conter o fluxo de refugiados através do Canal da Mancha.

Os refugiados atraem muita atenção nas altamente visíveis últimas etapas das suas viagens entre França e Grã-Bretanha. Mas há absurdamente pouco interesse em saber por que suportam eles tais sofrimentos, correndo o risco de detenção ou de morte.

Existe uma suposição instintiva no Ocidente de que é perfeitamente natural que as pessoas fujam dos seus próprios Estados falhados (fracasso supostamente causado por violência e corrupção autoinfligidas) para procurar refúgio em países melhor administrados, mais seguros e prósperos.

Mas o que estamos realmente a ver naqueles patéticos barcos de borracha semi-submersos às voltas para cá e para lá no Canal da Mancha é a extremidade estreita da cunha de um vasto êxodo de pessoas provocado pela intervenção militar dos Estados Unidos e seus aliados. Como resultado da sua “guerra global contra o terror”, lançada após os ataques da Al-Qaeda nos Estados Unidos em 11 de Setembro de 2001, nada menos que 37 milhões de pessoas foram deslocadas das suas casas, segundo um revelador relatório publicado esta semana pela Brown University.

União Europeia não reconhece Lukashenko como Presidente da Bielorrússia

Bruxelas considera que Lukashenko não tem “qualquer legitimdiade democrática” e exige novas eleições. Mais de 300 pessoas foram detidas depois da tomade de posse do Presidente bielorrusso, no poder há 26 anos. Estados Unidos, Reino Unido e Canadá preparam sanções figuras do regime bielorrusso.

Depois de Aleksander Lukashenko tomar posse para um sexto mandato numa cerimónia relâmpago, sem qualquer aviso prévio, a União Europeia afirmou que o autocrata não tem qualquer legitimidade enquanto Presidente da Bielorrússia e que a sua tomada de posse, de quarta-feira, foi feita à revelia da vontade do povo bielorrusso, que há mais de seis semanas consecutivas exige novas eleições.

“A chamada ‘tomada de posse’ de 23 de Setembro de 2020 e o novo mandato reivindicado por Aleksander Lukashenko carecem de qualquer legitimidade democrática”, afirmou o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, num comunicado divulgado esta quinta-feira em nome dos 27 Estados-membros.

“Esta ‘tomada de posse’ contradiz directamente a vontade de grande parte da população bielorrussa, expressa em numerosos protestos pacíficos sem precedentes desde as eleições [de 9 de Agosto], e apenas serve aprofundar ainda mais a crise política na Bielorrússia”, lê-se no mesmo documento.

EUA/Eleições | Trump: “Teremos de ver o que acontece”

Trump não se compromete com transição pacífica de poder se perder as eleições

As declarações, que não são propriamente inéditas, geraram críticas dos democratas mas também dos republicanos. “Isto é fascismo, vivo e de boa saúde no Partido Republicano”, classificou Julián Castro, que integrou a Administração Obama. “A transição pacífica de poder é fundamental para a democracia; sem isso, temos a Bielorrússia”, sugeriu o senador republicano Mitt Romney

Presidente dos EUA, Donald Trump, voltou esta quarta-feira a não se comprometer com uma transição pacífica de poder caso não consiga a sua recondução no cargo nas eleições de 3 de novembro. “Bom, teremos de ver o que acontece. Sabem que me tenho queixado veementemente dos boletins de voto. E os boletins de voto são um desastre”, declarou em conferência de imprensa.

Trump referia-se aos votos por correspondência, que serão um instrumento fundamental neste ato eleitoral devido à pandemia de covid-19. O atual inquilino da Casa Branca tem vindo a alegar, sem apresentar provas, que a votação postal conduzirá a fraude nas eleições. “Livrem-se dos boletins e terão [uma transição] muito… francamente, não haverá uma transferência. Haverá uma continuação. Os boletins estão fora de controlo”, reforçou.

CNN recorda que Trump já anteriormente se tinha recusado a esclarecer se aceitaria os resultados das eleições e até ‘brincou’ com a possibilidade de se manter no cargo após os dois mandatos previstos na Constituição. Mas a sua recusa em garantir uma transição sem violência vai mais além, sublinha a estação de televisão, sobretudo tendo em conta a tensão que se vive em várias cidades americanas com a mobilização de forças federais para conter os protestos antirracistas.

Portugal | O Chega é excecional

Daniel Oliveira | TSF | opinião

Daniel Oliveira dispensa demorar-se "nesta forma estranha de eleger uma direção, que é apresentar três vezes a mesma lista e insinuar uma demissão caso ela não seja aprovada", e no facto de, "além de haver quem queira castrar homens, haver quem queira tirar ovários a mulheres que abortem, o que quer dizer que a igualdade de género começa a fazer o seu caminho no Chega".

O que mais prende a atenção do cronista é o "espetáculo de amadorismo que foi a organização" da convenção do Chega. Apesar de Daniel Oliveira defender "o regresso à normalidade possível", com "eventos religiosos, políticos, culturais e económicos", que devem "ser bem organizados", o que aconteceu em Évora, aponta o jornalista, "foram cadeiras coladas umas às outras, sem qualquer distanciamento, como já não se vê em nenhum tipo de evento, mesmo com muito menos gente".

As descrições do primeiro dia de congresso do partido da extrema-direita são consentâneas na versão do abandono das máscaras por parte da maioria dos congressistas, "incluindo o líder, que andou praticamente todo o dia sem máscara, num sítio fechado, com 500 pessoas" e da inexistência de "percursos marcados". Assim, conclui Daniel Oliveira, o Chega "passou pela enorme vergonha de ter tido dos primeiros grandes eventos a receber uma visita da GNR, de tal forma eram as violações das regras sanitárias mais básicas".

"Aquele congresso não tem a complexidade duma Festa do Avante! ou de uma peregrinação a Fátima. Estamos a falar de 500 pessoas, ou pouco mais, pré-inscritas, quase todas da mesma organização, que estão durante um dia e meio ou dois dias num espaço delimitado, com cadeiras para se sentarem." Na perspetiva de Daniel Oliveira, é "difícil encontrar uma iniciativa mais simples para se organizar cumprindo as novas regras". No entanto, as normas não foram respeitadas, "não sei se por desleixo deliberado ou por incompetência", comenta o jornalista.

Daniel Oliveira considera "irónico" que tal incumprimento tenha acontecido "num partido que exigiu conhecer o parecer da DGS para a Festa do Avante!, que este fosse público, por causa da exceção que estava a ser feita ao PCP ou que quis o confinamento específico dos ciganos, porque 'não cumpriam as regras e elas eram para todos e para todas' - não obrigatoriamente para os delegados do Chega".

Mais três mortes e 691 novos casos de Covid-19 em Portugal

Até ao momento, 46676 pessoas conseguiram recuperar, das quais 386 nas últimas 24 horas.

Estão confirmadas 1931 mortes devido à Covid-19 em Portugal, mais três do que no último boletim epidemiológico.

O número de pessoas infetadas pela doença até agora é de 71 156, mais 691 do que nas últimas 24 horas. Há, neste momento, 22549 casos ativos.

Até ao momento, 46676 pessoas conseguiram recuperar, das quais 386 nas últimas 24 horas.

Há 41696 pessoas em vigilância pelas autoridades de saúde.

TSF

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Portugal | Bloqueio central à transparência

Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião

O PS e o PSD decidiram vedar aos portugueses a possibilidade de conhecerem integralmente o relatório da auditoria especial ao Novo Banco.

Os partidos do arco da governação estiverem à altura dos seus pergaminhos: conduzem o país desde 1974 e se há coisa que não podemos apontar-lhes é incoerência, uma vez que contribuem desde a primeira hora para a falta de transparência, sobretudo quando é necessário compreender para onde voa o dinheiro dos contribuintes.

Não é que restassem grandes esperanças em relação àquilo que falta conhecer sobre a gestão deste banco péssimo mal batizado como "bom", mas era importante demonstrar vontade de dar a conhecer os segredos de sucessivos desvios, negócios a merecer, no mínimo, reparos e perdas de milhões.

A transparência ficou adiada outra vez, quando nem sequer existia o argumento da ilegalidade que seria divulgar o nome dos clientes, porque quando o documento chegou ao Parlamento já as referências aos titulares das contas estavam encriptadas. O que preocupa, então, os deputados? Cecília Meireles, que se absteve, não quis dar à instituição motivos para se vitimizar.

Segundo a deputada do CDS, o Novo Banco defende que poderão acontecer prejuízos por serem divulgadas perdas em ativos que estão em processo de venda. À falta do argumento do sigilo bancário - protegidos os nomes dos clientes, nunca estaria em causa -, lá apareceu este, como poderia ter aparecido outro qualquer. É caso para perguntar por onde andava este espírito tão zeloso na defesa dos interesses da instituição quando esta permitiu negócios que desaguaram em perdas de 225 milhões de euros com empresas de um só cliente, no caso, Luís Filipe Vieira.

É lamentável que os contornos destas operações ruinosas permaneçam na penumbra. Que a administração do Novo Banco assim as queira preservar, percebe-se. Mas o mesmo não é possível dizer em relação aos partidos, que continuam a atirar areia para os nossos olhos e os nossos impostos para um buraco cuja dimensão e origem continuam por esclarecer cabalmente.

*Editor-executivo

Apelo de Chomsky à Internacional Progressista

Em discurso notável, o intelectual dissidente adverte: há uma ameaça dupla contra o planeta e a democracia. O fascismo dos Trump, Bolsonaro e Modi, exibe as garras e pode vencer. Contra ele, não serve a volta ao “velho normal”. É hora de ousadia

Noam Chomsky | no Progressive International  | Outras Palavras | Tradução de Simone Paz

Discurso de abertura do membro do Conselho durante a cúpula inaugural da Internacional Progressista, em setembro de 2020.

Estamos reunidos num momento extraordinário, um momento que é, de fato, único na história da humanidade, um momento de mau agouro e, ao mesmo tempo, repleto de esperança por um futuro melhor. A Internacional Progressista (IP) tem um papel crucial a desempenhar: determinar o rumo que a história vai tomar.

Nos encontramos num momento de confluência de crises de extraordinária gravidade, com o destino do experimento humano literalmente em risco. Nas próximas semanas, os problemas atingirão o ponto crítico nas duas maiores potências imperiais da era moderna.

A decadente Grã Bretanha, depois de ter declarado publicamente que rejeita o direito internacional, está à beira de um rompimento agudo com a Europa, a caminho de se tornar um satélite americano, ainda mais do que já é. Mas, é claro, o mais importante para o futuro é o que acontece na hegemonia global — diminuída por Trump, mas ainda com poder avassalador e vantagens incomparáveis. Seu destino, e com ele o destino do mundo, pode ser determinado em novembro.

Não é de estranhar que o resto do mundo esteja preocupado, quando não horrorizado. Seria difícil achar um comentarista mais sóbrio e respeitado do que Martin Wolf, do London Financial Times. Ele escreveu que o Ocidente está enfrentando uma crise grave e que, se Trump for reeleito, “será terminal (ou o fim)”. Palavras fortes, e isso que ele nem se refere às grandes crises que a humanidade enfrenta.

Wolf se refere à ordem global, uma questão crítica, embora não na escala de crises que nos ameaçam com consequências muito mais sérias, as crises que empurram os ponteiros do famoso Relógio do Juízo Final em direção à meia-noite — rumo à extinção.

O conceito de “terminal” de Wolf não é novo no discurso público. Há 75 anos vivemos à sombra dele, desde que soubemos, em um inesquecível dia de agosto, que a inteligência humana havia criado os meios que em breve produziriam a capacidade de destruição terminal. Isso já foi esmagador, mas ainda havia mais. Na época, não se sabia que a humanidade estava entrando em uma nova era geológica, o Antropoceno, em que as atividades humanas estão expropriando o meio ambiente de tal forma que agora também ele se aproxima da destruição terminal.

Os governos, mais uma vez, aos pés das multinacionais farmacêuticas

Vacinas contra a Covid-19

– Que se tomem as medidas necessárias para fortalecer a investigação pública, garantir a sua independência do capital privado e criar uma indústria farmacêutica pública capaz de fabricar os medicamentos considerados como essenciais pela OMS, entre eles, as vacinas.

Ángeles Maestro e Eloy Navarro [*]

Desde há algum tempo que se está a evidenciar a distorção que o capitalismo introduz no conhecimento científico e, em especial, na chamada " medicina com base na evidência " [1] . Poderosos interesses económicos decidem o que se investiga, o que se fabrica e o que não se fabrica, privando a humanidade de avanços que o seu próprio desenvolvimento poderia oferecer. A determinação exercida pelo objetivo prioritário do lucro empresarial, que se paga com milhões de mortes prematuras e doenças evitáveis, afeta de forma decisiva a produção de medicamentos [2] . Como tem sido repetidamente denunciado, até se inventam novas patologias – ou seja, sinalizam-se doenças inexistentes – para se poderem prescrever certos medicamentos, especialmente nas doenças mentais [3] .

É bem sabido que uma das consequências esperadas da pandemia é o colossal negócio para as multinacionais farmacêuticas derivado da compra de milhões de doses de vacinas.

Agora, gigantes empresariais que exibem, anualmente, margens de lucro muito superiores às da banca, nem mesmo terão de correr riscos com os seus investimentos –, o dinheiro público dos Estados da UE, incluindo o espanhol, compra adiantadamente milhões de doses antecipadamente de vacina; e faz isso antes de terem sido demonstradas a sua validade, eficácia e segurança.

Em meados de junho, o ministro da Saúde anunciava a adesão da Espanha ao Acordo de Compra Antecipada de Vacinas [4] contra a COVID 19. Com este acordo, a UE decidiu investir grande parte dos 2.700 milhões de euros do Instrumento de Apoio a Emergências para " contribuir para a implantação da vacina ". Ou seja, acertou-se o financiamento antecipado da produção da vacina.

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