Trump não se compromete com transição pacífica de poder se perder as eleições
As declarações, que não são propriamente inéditas, geraram críticas dos democratas mas também dos republicanos. “Isto é fascismo, vivo e de boa saúde no Partido Republicano”, classificou Julián Castro, que integrou a Administração Obama. “A transição pacífica de poder é fundamental para a democracia; sem isso, temos a Bielorrússia”, sugeriu o senador republicano Mitt Romney
Presidente dos EUA, Donald Trump, voltou esta quarta-feira a não se comprometer com uma transição pacífica de poder caso não consiga a sua recondução no cargo nas eleições de 3 de novembro. “Bom, teremos de ver o que acontece. Sabem que me tenho queixado veementemente dos boletins de voto. E os boletins de voto são um desastre”, declarou em conferência de imprensa.
Trump referia-se aos votos por correspondência, que serão um instrumento fundamental neste ato eleitoral devido à pandemia de covid-19. O atual inquilino da Casa Branca tem vindo a alegar, sem apresentar provas, que a votação postal conduzirá a fraude nas eleições. “Livrem-se dos boletins e terão [uma transição] muito… francamente, não haverá uma transferência. Haverá uma continuação. Os boletins estão fora de controlo”, reforçou.
A CNN recorda que Trump já anteriormente se tinha recusado a esclarecer se aceitaria os resultados das eleições e até ‘brincou’ com a possibilidade de se manter no cargo após os dois mandatos previstos na Constituição. Mas a sua recusa em garantir uma transição sem violência vai mais além, sublinha a estação de televisão, sobretudo tendo em conta a tensão que se vive em várias cidades americanas com a mobilização de forças federais para conter os protestos antirracistas.
Julián Castro, que fez parte da Administração Obama e integrou a corrida à nomeação democrata para as eleições de novembro, reagiu no Twitter às mais recentes declarações presidenciais. “No mesmo dia, Trump recusou uma transição pacífica de poder e apressou a confirmação de um juiz do Supremo Tribunal para lhe entregar uma eleição se os resultados forem contestados. Isto é fascismo, vivo e de boa saúde no Partido Republicano”, escreveu.
No entanto, as declarações de Trump também têm gerado desconforto no interior do Partido Republicano. O senador Mitt Romney escreveu no Twitter que “a transição pacífica de poder é fundamental para a democracia”. “Sem isso, temos a Bielorrússia. Qualquer sugestão de que um Presidente poderá não respeitar esta garantia constitucional é tanto impensável como inaceitável”, acrescentou.
“Não. Tenho de ver. Não, não vou dizer ‘sim’. Não vou dizer ‘não’. Também não o disse da última vez”, adiantou Trump, referindo-se à sua recusa em garantir que aceitaria os resultados das eleições de 2016, que acabou por vencer.
Anteriormente, o Presidente insinuou que o seu opositor, o democrata Joe Biden, só ganharia se as eleições fossem “viciadas” e sugeriu que os resultados poderiam ser contestados até no Supremo. As sondagens nacionais colocam Trump atrás de Biden mas, em certos estados, a folga (quando ela existe) é curta, antevendo-se uma disputa renhida.
Desde cedo, o Partido Democrata tem vindo a mostrar inquietação com a possível tentativa de Trump de se agarrar ao poder, servindo-se da sua autoridade como Presidente. A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, chegou a sugerir que Trump poderia ter de ser “fumigado” do cargo se se recusar a aceitar os resultados eleitorais.
Expresso
Sem comentários:
Enviar um comentário