quinta-feira, 24 de setembro de 2020

EUA/Eleições | Trump: “Teremos de ver o que acontece”

Trump não se compromete com transição pacífica de poder se perder as eleições

As declarações, que não são propriamente inéditas, geraram críticas dos democratas mas também dos republicanos. “Isto é fascismo, vivo e de boa saúde no Partido Republicano”, classificou Julián Castro, que integrou a Administração Obama. “A transição pacífica de poder é fundamental para a democracia; sem isso, temos a Bielorrússia”, sugeriu o senador republicano Mitt Romney

Presidente dos EUA, Donald Trump, voltou esta quarta-feira a não se comprometer com uma transição pacífica de poder caso não consiga a sua recondução no cargo nas eleições de 3 de novembro. “Bom, teremos de ver o que acontece. Sabem que me tenho queixado veementemente dos boletins de voto. E os boletins de voto são um desastre”, declarou em conferência de imprensa.

Trump referia-se aos votos por correspondência, que serão um instrumento fundamental neste ato eleitoral devido à pandemia de covid-19. O atual inquilino da Casa Branca tem vindo a alegar, sem apresentar provas, que a votação postal conduzirá a fraude nas eleições. “Livrem-se dos boletins e terão [uma transição] muito… francamente, não haverá uma transferência. Haverá uma continuação. Os boletins estão fora de controlo”, reforçou.

CNN recorda que Trump já anteriormente se tinha recusado a esclarecer se aceitaria os resultados das eleições e até ‘brincou’ com a possibilidade de se manter no cargo após os dois mandatos previstos na Constituição. Mas a sua recusa em garantir uma transição sem violência vai mais além, sublinha a estação de televisão, sobretudo tendo em conta a tensão que se vive em várias cidades americanas com a mobilização de forças federais para conter os protestos antirracistas.

Julián Castro, que fez parte da Administração Obama e integrou a corrida à nomeação democrata para as eleições de novembro, reagiu no Twitter às mais recentes declarações presidenciais. “No mesmo dia, Trump recusou uma transição pacífica de poder e apressou a confirmação de um juiz do Supremo Tribunal para lhe entregar uma eleição se os resultados forem contestados. Isto é fascismo, vivo e de boa saúde no Partido Republicano”, escreveu.

No entanto, as declarações de Trump também têm gerado desconforto no interior do Partido Republicano. O senador Mitt Romney escreveu no Twitter que “a transição pacífica de poder é fundamental para a democracia”. “Sem isso, temos a Bielorrússia. Qualquer sugestão de que um Presidente poderá não respeitar esta garantia constitucional é tanto impensável como inaceitável”, acrescentou.

“Não. Tenho de ver. Não, não vou dizer ‘sim’. Não vou dizer ‘não’. Também não o disse da última vez”, adiantou Trump, referindo-se à sua recusa em garantir que aceitaria os resultados das eleições de 2016, que acabou por vencer.

Anteriormente, o Presidente insinuou que o seu opositor, o democrata Joe Biden, só ganharia se as eleições fossem “viciadas” e sugeriu que os resultados poderiam ser contestados até no Supremo. As sondagens nacionais colocam Trump atrás de Biden mas, em certos estados, a folga (quando ela existe) é curta, antevendo-se uma disputa renhida.

Desde cedo, o Partido Democrata tem vindo a mostrar inquietação com a possível tentativa de Trump de se agarrar ao poder, servindo-se da sua autoridade como Presidente. A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, chegou a sugerir que Trump poderia ter de ser “fumigado” do cargo se se recusar a aceitar os resultados eleitorais.

Expresso

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