quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Portugal | Bloqueio central à transparência

Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião

O PS e o PSD decidiram vedar aos portugueses a possibilidade de conhecerem integralmente o relatório da auditoria especial ao Novo Banco.

Os partidos do arco da governação estiverem à altura dos seus pergaminhos: conduzem o país desde 1974 e se há coisa que não podemos apontar-lhes é incoerência, uma vez que contribuem desde a primeira hora para a falta de transparência, sobretudo quando é necessário compreender para onde voa o dinheiro dos contribuintes.

Não é que restassem grandes esperanças em relação àquilo que falta conhecer sobre a gestão deste banco péssimo mal batizado como "bom", mas era importante demonstrar vontade de dar a conhecer os segredos de sucessivos desvios, negócios a merecer, no mínimo, reparos e perdas de milhões.

A transparência ficou adiada outra vez, quando nem sequer existia o argumento da ilegalidade que seria divulgar o nome dos clientes, porque quando o documento chegou ao Parlamento já as referências aos titulares das contas estavam encriptadas. O que preocupa, então, os deputados? Cecília Meireles, que se absteve, não quis dar à instituição motivos para se vitimizar.

Segundo a deputada do CDS, o Novo Banco defende que poderão acontecer prejuízos por serem divulgadas perdas em ativos que estão em processo de venda. À falta do argumento do sigilo bancário - protegidos os nomes dos clientes, nunca estaria em causa -, lá apareceu este, como poderia ter aparecido outro qualquer. É caso para perguntar por onde andava este espírito tão zeloso na defesa dos interesses da instituição quando esta permitiu negócios que desaguaram em perdas de 225 milhões de euros com empresas de um só cliente, no caso, Luís Filipe Vieira.

É lamentável que os contornos destas operações ruinosas permaneçam na penumbra. Que a administração do Novo Banco assim as queira preservar, percebe-se. Mas o mesmo não é possível dizer em relação aos partidos, que continuam a atirar areia para os nossos olhos e os nossos impostos para um buraco cuja dimensão e origem continuam por esclarecer cabalmente.

*Editor-executivo

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