segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Assange e a miséria do jornalismo

José Goulão | AbrilAbril | opinião

O silêncio guardado pela comunicação social corporativa em relação ao linchamento judicial de Julian Assange e da liberdade de informação que está a decorrer em Londres testemunha o estado de miséria a que chegou o jornalismo dominante, capturado pelos grandes interesses minoritários e elitistas que controlam o mundo.

Perante a mascarada de justiça que prossegue num tribunal de Old Bailey para crucificar o homem que contribuiu para demonstrar alguns dos mais incontestáveis crimes contra a humanidade que têm vindo a ser cometidos em nome da democracia, das liberdades e dos direitos humanos, evaporam-se os mais básicos princípios deontológicos e as mais elementares normas éticas de uma profissão que é essencial para a dignidade de qualquer ser humano, sob qualquer sistema político e em qualquer lugar do mundo. O martírio de Assange é relatado e desmontado apenas por jornalistas e comentadores submetidos a uma espécie de clandestinidade mediática, barrados pelo muro espesso de silêncio, manipulação e mentira montado pelos proprietários dos meios de informação dominantes e alimentado pelas suas hierarquias de mercenários.

Vingança e intimidação

Em termos formais, o que está em causa no julgamento do fundador do website WikiLeaks em Londres é um pedido de extradição apresentado pela justiça norte-americana para que Assange venha a ser julgado nos Estados Unidos por uma panóplia de supostos crimes, os mais sonantes dos quais são a espionagem e a conspiração. A seriedade do processo é tal que a sentença do julgamento em território norte-americano é conhecida por antecipação: 175 anos de reclusão. Sem dúvida, um caso de viciação em que o resultado é divulgado antes de se iniciar o jogo.

Na prática, estamos perante a um assalto vingativo contra alguém que expôs os crimes e os métodos de propaganda suja praticados pelos Estados Unidos e muitos dos seus aliados – designadamente através das guerras sem fim – para gerirem a pretendida globalização imperial e neoliberal; e testemunhamos um assalto desapiedado contra a liberdade de informação através da intimidação dos jornalistas que levam a sério o seu ofício, doa a quem doer.

O julgamento do pedido de extradição apresentado pelos Estados Unidos é mais uma etapa de um caminho repleto de atrocidades processuais contra Assange, a começar por um caso de alegado assédio sexual praticado na Suécia e que foi – como está hoje provado – totalmente montado pela polícia sueca, certamente não apenas por iniciativa própria. Um percurso que prosseguiu com o penoso refúgio de anos na Embaixada do Equador em Londres, a traição do governo deste país chefiado pelo colaborador da CIA Lenin Moreno e o posterior internamento, em condições insalubres, na prisão de Belmarsh na capital britânica, por suposta falta a uma audiência de um tribunal. Uma prisão onde Julian Assange é submetido a «tortura psicológica», como denunciou o relator especial das Nações Unidas sobre a tortura, Nils Metzer – sem que isso tenha sido suficiente para soltar a verve do secretário-geral da organização sobre a gravidade do assunto.

Eleições EUA 2020: o que dizem as sondagens


Nos estados que podem vir a ser decisivos para a eleição do próximo Presidente dos EUA, Joe Biden leva vantagem sobre Donald Trump. Mas os especialistas chamam a atenção para a pouca frequência das sondagens e para as amostras reduzidas nos sítios mais importantes.

O campeonato das sondagens nos EUA já era difícil de ganhar antes das eleições presidenciais de 2016, mas a aparente hecatombe nas previsões desse ano afectou ainda mais a credibilidade das empresas que se dedicam a essa tarefa.

De pouco vale recordar que a maioria das sondagens nacionais, há quatro anos, acertou quase em cheio: a média apontava para uma vantagem de 3,3 pontos percentuais de Hillary Clinton sobre Donald Trump na contagem do voto popular, e a candidata do Partido Democrata obteve mais quase três milhões de votos do que o seu adversário do Partido Republicano – o equivalente a 2,2 pontos percentuais.

New York Times: Trump não pagou impostos em 10 dos últimos 15 anos

O jornal norte-americano teve acesso ao historial fiscal de Donald Trump ao longo de mais de duas décadas e revela que o atual presidente dos EUA tem centenas de milhões de dólares em dívidas a vencer e durante muitos anos não pagou impostos por declarar mais perdas que ganho

A investigação revelada este domingo pelo New York Times refere que o presidente dos EUA pagou 750 dólares em impostos federais no ano em que venceu as eleições (2016) e outros 750 dólares no primeiro ano na Casa Branca. Em 10 dos 15 anos anteriores, Donald Trump não pagou qualquer imposto ao governo federal, principalmente porque declarou ter perdido muito mais dinheiro do que aquele que ganhara.

O jornal norte-americano teve acesso aos dados tributários de mais de duas décadas do presidente, colocados em sigilo durante anos. O levantamento não inclui impostos entregues por Trump em 2018 e 2019, mas os documentos - que o magnata tentou arduamente manter em privado - são suficientes para lhe traçar um perfil completamente diferente daquele que foi vendido aos americanos, bem longe do empresário multimilionário de sucesso.

Início da pandemia em Portugal teve origem genética no Norte de Itália

O arranque da pandemia em Portugal foi marcado por uma variante genética com origem no norte de Itália, que deu origem a 3800 infeções no Norte do país.

A informação foi revelada pelo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, esta segunda-feira, na conferência de imprensa sobre a evolução da covid-19 em Portugal, com base nos primeiros resultados do estudo genético que está a ser desenvolvido pelo Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA).

João Paulo Gomes, coordenador do estudo, acrescentou que esta "variante genética é proveniente da região da Lombardia, terá entrado em Portugal no dia 20 de fevereiro na região Norte/Centro, na zona industrial e se terá disseminado de uma forma não passível de ser detetada pelas autoridades de saúde pública durante dez dias".

Eram já "3800 casos a meio de abril", revelou. Nesta altura, "um em cada quatro casos foram causados por esta variante genética específica", explicou João Paulo Gomes.

Os resultados completos do "Estudo da diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal", que já analisou 1785 sequências do genoma do novo coronavírus, serão divulgados dentro de duas a três semanas.

Portugal | Mais quatro mortos e 425 novos casos de covid-19


Nas últimas 24 horas, Portugal ultrapassou os 74 mil casos de covid-19, com 425 novas infeções. Há mais quatro óbitos e mais 24 doentes internados. Mais 237 doentes recuperaram.

Portugal regista, esta segunda-feira, um total de 1957 mortes de covid-19 e 74029 casos positivos, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde. Doentes recuperados são agora 47884.

Três dos quatro novos óbitos assinalados ocorreram na região Norte e um na região de Lisboa e Vale do Tejo - são três mulheres com 80 ou mais anos e um homem entre 70-79 anos.

A região de Lisboa contabiliza mais 188 infeções e a região Norte tem 168 novos casos. O Centro contabiliza mais 43 casos, o Alentejo mais sete e o Algarve mais 19. Açores e Madeira não registam novas infeções.

Nas últimas 24 horas foram internados mais 24 doentes com covid-19 (659 no total) e há mais nove em unidades de cuidados intensivos (98).

Há 44171 contactos sob vigilância das autoridades de saúde (menos 103) e 24188 casos ativos (mais 184).

Na comparação semanal dos novos casos por concelhos, destaque para o aumento de 467 casos em Lisboa (6517 no total), de 339 casos em Sintra (5441), de 179 em Loures (3092), de 124 na Amadora (3038) e 121 em Vila Nova de Gaia (2275).

Sandra Alves | Jornal de Notícias | Imagem: Pedro Correia/Global Imagens

Portugal | Um juiz vendido é pior do que cem políticos corruptos

Pedro Marques Lopes | Diário de Notícias | opinião

Paulo Rangel, no Público, foi lapidar: "Para a democracia e para a sociedade é bem mais perigoso que se suspeite dos juízes do que dos políticos." Não posso concordar mais.

Comecemos pelo princípio. Os arguidos do processo Lex, nomeadamente juízes e desembargadores, são inocentes até ao trânsito em julgado da sentença. E aqui é especialmente importante referir isto, porque está agora a acontecer a uma classe profissional o que uma parte dessa mesma classe promove em conluio com alguns órgãos de comunicação social: julgamentos na praça pública criadores de um clima que depois serve para condicionar sentenças e acórdãos.

Aliás, essa é uma das doenças graves da nossa justiça. Outras há e são bem conhecidas, destaco desta vez os absurdos megaprocessos.

Estes merecem uma atenção especial porque têm um efeito especialmente devastador no nosso edifício judicial e em todo o sistema. Por hoje, servem sobretudo para que se venda uma ideia de que há uma sempre uma espécie de conspiração global. Condenar os eventuais criminosos por crimes concretos é pormenor.

Monta-se um processo sem fim (Sócrates, Salgado ou Oliveira Costa são bons exemplos), os arguidos são cozidos em lume brando, dá-se todos os argumentos e mais alguns para os vendedores do produto "isto anda tudo a gamar" ganharem clientes e oferece-se de bandeja aos populistas um maná que estes aproveitam para declarar o fim do regime por podridão. Da possibilidade de se condenar ou absolver os arguidos de crimes concretos ninguém no sistema parece muito interessado.

Portugal | PR e AR? "Misturar as duas coisas pode ser a receita para o desastre"

No entender de Vital Moreira, "dificilmente haverá pior sistema de governo do que aquele em que o poder governativo é compartilhado pelo PR e por um governo". Aliás, "misturar as duas coisas pode ser a receita para o desastre", defende.

Oconstitucionalista Vital Moreira discorda do politólogo Adelino Maltez que, numa entrevista ao Diário de Notícias, afirma que ter sido um erro diminuir os poderes presidenciais na revisão constitucional de 1982, defendendo que "devíamos ter mantido mais presidencialismo". 

Num artigo de opinião publicado no blogue Causa Nossa, o antigo eurodeputado explica por que razões não subscreve a tese do investigador. 

Vital Moreira defende, ao contrário do politólogo, que passados 40 anos, "foi oportuna" e "certeira" a decisão de "abandonar o sistema de governo semipresidencialista da versão originária da Constituição, em que o governo dependia cumulativamente da confiança política do PR e da AR, podendo ser demitido por ambos, e em que o Presidente acumulava a chefia do Estado com a presidência do Conselho da Revolução e com a chefia do Estado-Maior-General das Forças Armadas". 

No centro de Lisboa ainda há quem não tenha luz e despeje dejetos na rua

Na Quinta do Ferro, no coração de Lisboa, o cenário é descrito pelos moradores como "assustador" e "uma miséria". Neste bairro, há quem viva sem luz e ainda despeje os dejetos na rua como em séculos passados.

Se há prédios que estão com bom aspeto, outros estão completamente degradados, ainda que tenham inquilinos a morar.

A agência Lusa constatou no local moradores a despejar dejetos numa fossa, ou mesmo para a rua, uma vez que as suas casas não reúnem as condições básicas de saneamento.

"Isto é uma miséria. Há pessoas que não têm água, há muita gente a viver com mais dificuldades. E eu tenho medo [...]. Temos aqui um chafariz ao pé e as pessoas vêm aqui despejar tudo e mais alguma coisa", conta à Lusa Lina Silva, de 44 anos, a morar na Quinta do Ferro há oito anos.

Os moradores sentem-se abandonados e esquecidos, apesar de estarem na freguesia de São Vicente, uma zona central situada perto do Bairro da Graça e de Santa Apolónia.

"A câmara não se lembra que isto aqui existe. Nós estamos no meio de uma cidade. O que é mais triste é que nós estamos no meio da cidade de Lisboa e não há meio de termos uma solução", lamenta Lina.

Ataques racistas da extrema-direita em Portugal são notícia lá fora

The Guardian abordou o tema do racismo em Portugal, recordando vários episódios recentes como o caso de Cláudia Simões, agredida por causa de um bilhete de autocarro, e o homicídio de Bruno Candé, baleado em plena luz do dia em Moscavide.

O jornal britânico The Guardian dedica esta segunda-feira um artigo ao tema do aumento da violência racial em Portugal, associado ao fenómeno da ascensão da extrema-direita. No artigo em  em causa são recordados vários episódios que levaram a Rede Europeia contra o Racismo (ENAR) a apelar, no início deste mês, a uma "resposta institucional urgente". 

Um dos exemplos destacados é a própria experiência de Mamadou Ba que, conta ao jornal, este verão recebeu uma carta onde se podia ler: "O nosso objetivo é matar os estrangeiros e antifascistas e tu estás entre os nossos alvos". Semanas depois, relatou o líder da SOS Racismo, fora-lhe enviada uma mensagem dizendo-lhe para deixar Portugal, caso contrário a sua família iria sofrer as consequências. 

O artigo recorda também o caso de Bruno Candé, o ator de origem guineense assassinado em julho em plena luz do dia, em Moscavide, assim como o caso de Cláudia Simões, agredida por causa de um bilhete de autocarro, ou ainda os insultos racistas proferidos ao jogador de futebol Marega. 

"Nos últimos meses, tem havido um aumento muito preocupante de ataques racistas de extrema-direita em Portugal, confirmando que as mensagens de ódio estão a alimentar táticas mais agressivas que visam os defensores dos direitos humanos de minorias raciais", alertou a Rede Europeia Contra o Racismo.

Cooperação sino-europeia para prevenir uma nova Guerra Fria

David Chan* | Plataforma | opinião

Uma videoconferência entre os líderes da China e da Europa no início da semana passada marcou um momento importante na história da relação das duas regiões e deu início a uma nova fase dos respetivos laços. Neste segundo semestre do ano é a Alemanha que assume a presidência rotativa da UE, mas já antes Angela Merkel tinha deixado bem claro que se iria focar na relação com a China, e agora cumpre a promessa.

Na reunião virtual foram discutidos temas como as alterações climáticas e o investimento. As negociações sobre o Acordo de Investimento China-UE, importante para ambas as partes, deverão ficar concluídas o mais rápido possível, idealmente até ao final do ano, ainda sob a presidência alemã.

Em junho, Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, deixaram claro num encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, que aquele acordo deveria ser rapidamente concluído, vontade reafirmada pelas partes em setembro. 

A assinatura do Acordo de Indicações Geográficas China-UE iniciou uma nova fase de cooperação bilateral, e com o próximo acordo de investimento e um novo acordo comercial também iminente, esta “cimeira” virtual foi de grande importância.

A decisão alemã de reforçar a cooperação entre a UE e a China é altamente estratégica, especialmente depois de chegar a um impasse com os EUA. O desenvolvimento destes laços é uma necessidade para evitar uma nova Guerra Fria, assim como uma forma de promover a paz a nível regional.

Para conseguir manter a hegemonia global, os EUA têm posto em causa os interesses de todo o mundo, promovido uma nova guerra entre o Ocidente e o Oriente.

Todavia, esta nova Guerra Fria, embora benéfica para a hegemonia americana, será prejudicial para qualquer outro país, e a única forma de a prevenir é através do reforço da cooperação entre a China e a Europa.

*Editor Senior do canal chinês do Plataforma (na foto)

Este artigo está disponível em: 繁體中文

China soma 43 dias sem casos locais

Pequim, 28 set 2020 (Lusa) - A China atingiu hoje 43 dias consecutivos sem infeções locais de covid-19, mas registou 21 casos oriundos do exterior nas últimas 24 horas.

A Comissão de Saúde da China indicou que os casos importados foram diagnosticados nos municípios de Xangai e nas províncias de Guangdong, Mongólia Interior, Fujian e Shanxi.

As autoridades disseram que, nas últimas 24 horas, 12 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infetadas ativas no país asiático se fixou em 185.

Desde o início da pandemia, a China registou 85.372 infetados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.

As autoridades chinesas referiram que 831.369 pessoas que tiveram contacto próximo com infetados estiveram sob vigilância médica na China, das quais 7.020 permanecem sob observação.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão de mortos e mais de 33 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

JPI // MIM

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