Mais de 2 mil apartamentos estão há cinco anos abandonados na centralidade do Capari. Autoridades explicam que questões técnicas estão a impedir que imóveis sejam habitados. Populares falam em "aproveitamento eleitoral".
Os munícipes que falaram à DW
dizem não entendem as razões que fazem com que, volvidos mais de cinco anos,
não se coloque à disposição da população a maioria das residências na
centralidade de Capari, a pouco mais de
Mateus Mbaxi é de opinião que se entregue os apartamentos à população e fala em falta de vontade política e coragem.
“Fala-se que uma boa parte destes apartamentos se encontra em estado de degradação, é só vermos o bloco oito que tinha sido vandalizado. Levaram janelas, portas, loiças sanitárias... Depois de algum tempo as pessoas ocuparam e o Estado as removeu à força”, lembra.
Numa altura em que está cada vez mais difícil a realização do sonho da casa própria e que Angola vive um expressivo défice habitacional, alguns cidadãos não compreendem por quê até agora o Governo não colocou os apartamentos à disposição.
O gestor de empresa Marcelino Silva já não está interessado em viver numa das centralidades do país e justifica. “Não é atraente pela qualidade das obras. Também, por questões pessoais, eu prefiro não viver nestes locais que chamam de centralidade, eu prefiro um ambiente mais ambulante ao ambiente da centralidade”, explica.
Ocupação ilegal
Passados cerca de sete anos desde a inauguração da centralidade, quase três mil habitações continuam desocupadas.
A morosidade na cedência destes apartamentos terá motivado centenas de famílias a ocupar de forma ilegal alguns edifícios centralidade do Capari. A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), por meio do seu secretário provincial, Armando Ndengue Mbuale, condena tal prática, mas pede celeridade ao Governo.
Mbuale esperava que o processo de cedência de casas fosse um pouco mais célere, mas está, na sua opinião, esta a levar muito tempo. “Diante de pessoas desoladas, pessoas sem casa, pessoas a passar mal, apanhar chuvas e tudo, e ao lado, casas ali, que custaram muito dinheiro aos cofres do Estado. Esse dinheiro investido ali é dos cidadãos”, lamenta.
Em nota enviada à DW, o diretor Nacional de Gestão Fundiária e Habitação do Ministério das Obras Públicas e Ordenamento do Território, Adérito Carlos Mohamed, avançou que o atraso na entrega dos apartamentos tem a ver com a “inexistência de infraestruturas externas”, como vias de acesso, estação de tratamento de águas residuais, subestações elétricas, entre outros itens.
Problemas de comunicação?
Por falta de informação oficial, nos últimos dias, os populares da província do Bengo levantaram a hipótese de que o Governo estaria a guardar os apartamentos para o período eleitoral. O politólogo Malunda Ntchima entende que o Governo angolano continua a comunicar mal.
“Tudo indica que esteja a esperar um momento para depois começar em massa essa chuva de maravilhas, o que é bastante negativo. Porque há projetos que devem ser disponibilizados, precisamente, para resolver os problemas do povo e não muito para colher objetivos políticos”, analisa Ntchima.
Em resposta a estes comentários, o Governo por meio do Ministério de Tutela reagiu dizendo que “o Estado não tem necessidade de fazer aproveitamento eleitoral com as restantes moradias e, se assim fosse, não se procederia a inauguração e comercialização de centralidades” em outras províncias, como: Zango 5 em Luanda, Faustino Muteka no Huambo, Quilemba, na Huila, Andulo no Bié.
Segundo Governo angolano escreve no comunicado, prevê retomar a comercialização das moradias da centralidade do Capari até março do presente ano, o dossiê das vendas de apartamentos neste projeto poderá estar concluído até ao fim do presente ano.
António Ambrósio (Caxito) | Deutsche Welle
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