Autoridades de saúde previam mais de dois meses, mas números atualizados revelam um crescimento mais rápido da incidência da infeção
Portugal pode chegar em breve, possivelmente na próxima semana, à linha vermelha de incidência de Covid-19 anunciada pelo Governo, ou seja, 120 casos por 100 mil habitantes - muito mais cedo do que foi previsto, este fim de semana, pelas autoridades de saúde.
Recorde-se que a incidência da infeção é um dos dois principais indicadores - em conjunto com a taxa de transmissibilidade (Rt) - que podem fazer travar ou reverter as medidas de desconfinamento.
O boletim desta segunda-feira da Direção-Geral da Saúde (DGS) já revelava um aumento do Rt e da incidência, mas Carlos Antunes, perito da equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que tem colaborado com as autoridades de saúde, explica à TSF que o cálculo tem uma semana de atraso.
Oficialmente, segundo a DGS, numa semana, a incidência da Covid passou de 63 para 70 novos casos por 100 mil habitantes e o Rt de 0,98 para 1,04.
O especialista detalha que esses mesmos números revelam um "ritmo de aumento do Rt de uma centésima por dia e de dia 5 até dia 12 de abril serão sete centésimas".
"À data de hoje, 1,04+0,7 dará 1,11 o que confere com o valor que eu também estimo de 1,09, dentro da magnitude de 1,10 que será aquilo que estaremos a assistir atualmente", refere.
Na prática, a linha vermelha de 120 casos por 100 mil habitantes, que no fim de semana as autoridades de saúde disseram, num estudo, que podia demorar mais de 2 meses a ser atingida, arrisca-se a chegar muito mais cedo.
"O parâmetro está a evoluir muito rapidamente e cálculo à data de hoje com uma duplicação de casos a cada 20 dias", havendo mesmo a "probabilidade elevada de chegarmos aos 120 casos por 100 mil habitantes já na próxima semana", refere Carlos Antunes.
O Rt acaba por ser um indicador que mede a velocidade ou a aceleração do número de novos casos.
Conjugados, o Rt e a incidência da Covid-19 preocupam o perito da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que defende que pode ser altura de pensar se devemos ou não continuar no processo de desconfinamento do país.
"Começa a preocupar, primeiro porque a tendência está consolidada. Segundo porque para inverter essa tendência teria de acontecer algo para reduzir ou retrair esses contágios e o que acontece é exatamente o contrário: se estamos a desconfinar e a intensificar esse desconfinamento o número de contactos que cada pessoa tem diariamente aumenta, logo cada infetado vai estar em contacto com muito mais gente o que quer dizer que a taxa de transmissibilidade vai aumentar o número de contágios diários. Portanto, a tendência é de aumentar", conclui Carlos Antunes.
Nuno Guedes | TSF
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