Um coletivo de associações de africanos em França convocou para este sábado, 5 de junho, na cidade de Saint-Étienne, uma manifestação contra o racismo.
Yusufa era um jovem gambiano, de 26 anos, que nos finais de maio foi morto à facada na cidade de Saint-Étienne, no centro-leste de França.
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram um grupo de pessoas a atacar o jovem. Segundo informações da imprensa francesa, três homens, de origem arménia, foram detidos, e são acusados de "homicídio com armas, em grupo".
Suspeita-se que o ataque tenha motivações racistas.
A DW África conversou com o ativista angolano Virgílio Domingos, que faz parte de um coletivo de associações africanas em França, que marcou para este sábado (05.06) um protesto contra o racismo no país. No passado, houve casos semelhantes de agressões a cidadãos negros.
DW África: Como aconteceu a agressão ao jovem Yusufa?
Virgílio Domingos (VD): Yusufa era um jovem gambiano, de 26 anos. Vivia aqui na cidade de Saint-Étienne, numa residência para as pessoas que solicitam asilo em França.
No dia 26 de maio, depois de praticar desporto, de regresso a casa, debaixo do seu prédio, havia um grupo de arménios que estavam a beber, e, segundo testemunhas, o Yusufa cumprimentou-os. Os arménios interpretaram mal e pensaram que ele estava a gozar com eles.
Daí, houve uma luta, e ele foi agredido por um grupo de cinco ou seis pessoas, que o esfaquearam. Sofreu entre quatro a cinco facadas.
Já com ele caído no chão, o grupo continuou com as agressões e insultos, até que mais tarde foi levado para o hospital, onde viria a falecer.
DW África: O jovem já havia sido vítima de outras agressões, mesmo não sendo agressões físicas?
VD: Segundo as pessoas mais próximas dele, ele era um jovem sem problemas com ninguém. Era um jovem simples, desportista e pai de uma filha. Acho que foi mesmo vítima de um crime racista, não temos outra explicação para o que aconteceu.
DW África: Como é que as autoridades francesas estão a conduzir o caso?
VD: Tiveram uma boa reação. Já há três pessoas detidas, dos quais um pai e filho de 62 e 32 anos de idade respetivamente, e o outro detido tem 28 anos. E já há um juiz de instrução que está a trabalhar no caso.
DW África: O que se sabe sobre a vida do jovem Yusufa em França?
VD: Yusufa já vivia aqui há quatro anos. Ainda estava à espera da resposta ao seu pedido oficial de asilo. Portanto, não tinha direito a trabalhar, mas se ocupava. Conheceu uma parceira aqui e juntos tiveram uma filha de dois meses. Era uma pessoa que estava a preparar o seu futuro.
DW África: Há casos semelhantes de agressão a negros em França, alguns dos quais muito recentes. Como é a realidade vivida pela comunidade negra em França?
VD: Eu falo da cidade de Saint-Étienne, que é uma pequena cidade próxima de Lyon, onde nos últimos 15 anos podemos contabilizar quatro casos de ataques racistas, mas nunca houve registo de mortes.
DW África: Mas em cidades maiores estes casos são mais frequentes?
VD: Exatamente. Por isso é que estamos a organizar uma grande manifestação, para denunciar essa atitude criminal e para que seja a última vez que este tipo de crime acontece aqui em Saint-Étienne contra a comunidade africana e negra. Depois haverá uma luta jurídica, em que a Justiça francesa deve demonstrar que protege a comunidade afrodescendente.
Thiago Melo | Deutsche Welle
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