Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião
Nas horas seguintes ao anúncio da abertura da via verde para Portugal, as reservas de ingleses ansiosos por vir aqui passar uns dias dispararam 500%. As companhias aéreas multiplicaram voos vindos de Londres para responder à procura. Só no primeiro dia de corredor aberto, 17 voos trouxeram 5500 britânicos para Faro, fora os que chegaram a outros pontos do país, prometendo estar próxima a recuperação num dos setores mais afetados pela pandemia. E que é fundamental para que a economia portuguesa volte a levantar-se.
Três semanas depois, veio o balde de água fria: o Reino Unido voltou a pôr-nos na lista dos países cuja visita obriga a quarentena. E naturalmente começaram os cancelamentos em catadupa, incluindo para a Madeira e os Açores, que também foram remetidos para essa lista de proscritos.
Portugal, com a habitual dureza dos nossos governantes para com quem vem de fora, "lamentou", "tomou nota" de uma "decisão cuja lógica não se alcança" e prometeu continuar a seguir o plano de desconfinamento traçado, mantendo mão pesada para incumpridores nacionais e as cuidadas restrições que ainda travam muitos negócios - dos restaurantes aos eventos, passando pelos bares e discotecas que ao fim de ano e meio de pandemia continuam sem data para retomar - para que os britânicos voltem a sentir-se seguros.
Uma semana depois do
comportamento descontrolado a que todos assistimos dos adeptos ingleses nos
festejos de uma final da Champions que só nós aceitámos receber; e no próprio
momento em que pela Marina de Vilamoura há cidadãos britânicos aos magotes a
passear livremente, sem máscaras e sem grandes restrições, é esta a reação de
quem nos governa: "toma nota" da decisão do Reino Unido, justificada
com a duplicação da taxa de contágios
O governo "toma nota" e fica à espera, a rezar para que a próxima revisão ainda possa salvar-nos o verão, esperando-os ansiosamente a partir de julho, quando talvez ainda possam ajudar a contrariar os efeitos catastróficos que os representantes do turismo português já apontam. Não se alarga em conclusões sobre o que poderá ser feito para compensar pelo menos mais três semanas sem chegadas deste que é o nosso maior mercado emissor de turistas. Nem faz questão de deixar uma palavra que seja sobre o que os especialistas antecipam ser causa principal da subida de casos - o triste espetáculo dos festejos no Porto e o consequente alívio nos comportamentos dos portugueses, cansados de proibições, depois de verem que, para os outros, as leis são mais brandas.
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