Balão de oxigénio para o setor durou apenas 22 dias. A partir de terça-feira o país passa para lista amarela, obrigando os turistas britânicos a quarentena de dez dias no regresso. Portugal diz que "lógica" da decisão "não se alcança".
oi sol de pouca dura. O que parecia ser a grande alavanca para a retoma do turismo em Portugal desapareceu ao fim de 22 dias. O Reino Unido anunciou ontem a exclusão de Portugal da "lista verde" dos destinos seguros a partir das 04h00 da próxima terça-feira e os efeitos não se fizeram esperar. Raul Martins, o presidente da Associação de Hotéis de Portugal confirmou ao DV que ontem já havia "cancelamentos de reservas em catadupa", principalmente nas unidades do Algarve, onde "a situação é dramática. O nosso representante na região está a acompanhar a situação e diz que está a ser dramático".
O responsável admite que esta decisão de Londres "vai afetar muito o turismo nacional, porque os britânicos são uma percentagem muito grande de turistas na região e nas próximas três semanas vamos ter perdas muito elevadas, em especial no Algarve. A perspetiva é muito má, voltámos agora, não à estaca zero, mas à estaca um". Sobre o que pode acontecer daqui a três semanas, quando houver nova revisão da lista verde, Raul Martins sublinha que "se não fizermos nada, a situação pode não melhorar. Não fizemos tudo bem, as questões ligadas aos festejos do Sporting e do futebol não foram boas e as autoridades deviam ter tomado outras decisões. Mas se não fizermos nada nestas três semanas, não vamos melhorar".
Lógica "não alcançável"
A decisão foi um "balde de água fria" para os operadores e motivou reações pouco amistosas para com o governo britânico. A começar pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. Numa publicação na rede social Twitter, Augusto Santos Silva fez saber que Portugal "tomou nota", mas sublinhou que é "uma decisão cuja lógica não se alcança". O responsável pela diplomacia acrescentou que Portugal tem um plano de desconfinamento "prudente e gradual, com regras claras para a segurança" dos residentes e dos turistas.
Raul Martins, da AHP, sublinha que considera esta uma "decisão que parece excessiva, não se justifica. Os britânicos argumentam com a importação de variantes do vírus, em especial a da Índia, mas temos poucos casos desses, eles é que têm uma percentagem alta. Parece-me uma decisão mais política. Perguntem-lhes porque é que Alemanha e França decidiram agora não deixar entrar os britânicos. É uma decisão pouco séria e parece mais uma cambalhota política".
Uma posição acompanhada pela Confederação do Turismo de Portugal (CTP) que fala de uma situação "desastrosa". O Presidente da CTP antecipa uma travagem na retoma iniciada há poucas semanas. "A retoma que se iniciou nas últimas semanas com a chegada dos turistas ingleses, o nosso principal mercado, vai ser abruptamente interrompida durante, pelo menos, três semanas", aponta Francisco Calheiros, admitindo que todo o investimento com a contratação de pessoal e o reforço da oferta "será perdido".
O governo de Boris Johnson justificou a exclusão de Portugal com dois argumentos: a duplicação da taxa de positividade e o surgimento de uma nova mutação da chamada variante indiana. O ministro britânico dos Transportes, Grant Shapps, reconheceu tratar-se de uma "decisão difícil", mas quer manter o calendário de desconfinamento definido no país. "Não queremos arriscar", afirmou o responsável, pedindo "paciência" para não pôr em causa o calendário de reabertura do país, com a quarta fase a iniciar-se no dia 21 de junho.
O presidente executivo da companhia aérea britânica easyJet, Johan Lundgren, considerou a decisão "chocante" e "com números semelhantes nos dois países, é uma decisão sem base científica".
Os países na "lista amarela" estão sujeitos a restrições mais apertadas, nomeadamente uma quarentena de 10 dias na chegada ao Reino Unido e dois testes PCR, no segundo e oitavo dia. Portugal era até agora o único país da União Europeia (UE) na "lista verde", que isenta os viajantes de quarentena no regresso a território britânico, em vigor desde 17 de maio.
Travão à retoma?
A inclusão de Portugal na "lista verde" de destinos seguros era vista como o início da retoma da atividade turística, tendo em conta que o Reino Unido é o principal emissor de turistas, sobretudo para o Algarve. Em 2019, o mercado britânico foi responsável por 2,1 milhões de hóspedes, 9,4 milhões de dormidas e quase 3,3 mil milhões de euros em receitas turísticas, de acordo com os dados do Turismo de Portugal. O Algarve é um dos principais destinos destes turistas, seguido da Madeira.
Quando foi anunciada a inclusão na "lista verde" em maio, logo no primeiro dia, a 17, aterraram em Faro cerca de 5500 turistas. Agora será necessário esperar mais três semanas para nova atualização da lista de países.
Paulo Ribeiro Pinto, Filipe Morais | Diário de Notícias
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