A Organização das Nações Unidas (ONU) lamentou na segunda-feira um "agravamento dramático" da fome mundial em 2020, devido à pandemia da covid-19, e pediu milhares de milhões de dólares para combater a desnutrição.
Um relatório emitido em conjunto por cinco agências da ONU esclareceu que a fome ultrapassou o crescimento populacional em 2020, com cerca de 10% da população mundial considerada subnutrida.
De acordo com o relatório, o maior aumento da fome ocorreu em África, onde 21% das pessoas - 282 milhões - estão subnutridas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, referiu que os novos "dados trágicos" revelam que entre 720 milhões e 811 milhões de pessoas passaram fome no ano passado, mais quase 161 milhões do que em 2019.
Mais de 2,3 mil milhões de pessoas - o que representa 30% da população global - não tiveram acesso a alimentação adequada durante o ano. Conhecido como prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave, o indicador saltou num ano o mesmo que nos cinco anteriores todos somados.
"Apesar de um aumento de
300% na produção global de alimentos desde meados dos anos de
Emily Farr, da organização humanitária Oxfam, afirmou que a pandemia foi a "gota de água para milhões de pessoas já vítimas de conflitos, de choques económicos e do agravamento da crise climática".
"Um total de três mil milhões de adultos e crianças permanecem sem dietas saudáveis, devido aos custos excessivos", pode ler-se no relatório.
O relatório estima que 149 milhões de crianças menores de cinco anos têm crescimento atrofiado, uma vez que são muito baixas para sua idade, e que mais de 45 milhões de crianças são demasiado magras para sua altura.
O documento adianta também que cerca de 39 milhões de crianças apresentam sobrepeso.
"Perturbadoramente, em
O relatório refere que cerca de 9,9% da população mundial foi considerada como desnutrida no ano passado, em comparação com 8,4% em 2019.
"[Os novos números] são um lembrete sombrio de como os nossos sistemas económicos e alimentares globais estão avariados. Mais de metade da população mundial não teve proteção social para lidar com os efeitos adversos da pandemia", disse Emily Farr.
A ONU realçou que a pandemia prejudicou a meta de erradicar a fome no mundo até 2030.
Com base nas tendências atuais, estima-se que o objetivo será "perdido por uma margem de quase 660 milhões de pessoas", e que cerca de 30 milhões "podem estar relacionados com os efeitos duradouros da pandemia".
António Guterres adiantou ainda que vai convocar uma Cimeira de Sistemas Alimentares, durante a reunião anual de líderes mundiais na Assembleia Geral, em setembro, "para fazer uma mudança com urgência".
O secretário-geral da ONU acrescentou que uma reunião a realizar-se em Roma, no fim do mês, procurará descobrir como se deve "enfrentar a fome, a emergência climática, a desigualdade, os conflitos, com transformação dos sistemas alimentares".
O economista-chefe da ONU para a Agricultura e Alimentação, Maximo Torero, explicou que para tirar 100 milhões de pessoas da desnutrição crónica são necessários 14 mil milhões de dólares (11,8 mil milhões de euros) por ano até 2030, e para atingir a fome zero na próxima década o esforço estimado é de 40 mil milhões de dólares (33,72 mil milhões de euros) anuais.
Jornal de Notícias com agências
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