quarta-feira, 25 de agosto de 2021

“A crise climática é uma crise de direitos das crianças”

Pequenos demais para tão grandes problemas. Pela primeira vez as alterações climáticas serão analisadas, pela UNICEF, em função do risco que correm as crianças em todos os países do mundo.

Um relatório da UNICEF, «Index de risco climático para as crianças», desenvolvido em parceria com movimento juvenil Fridays for Future, chama a atenção para os riscos e vulnerabilidades a que as mais de duas mil milhões de crianças estão expostas, face aos impactos das alterações climáticas no mundo.

Com o objectivo de ajudar «à priorização da acção em prol daqueles que mais se encontram em situação de risco», o relatório tem por base a análise de dados geográficos, estabelecendo um ranking de países em função dos perigos que a sua população infantil enfrenta.

Os principais perigos provocados pelas alterações climáticas, identificados neste relatório, são as ondas de calor, ciclones, inundações fluviais ou costeiras (alterações repentinas); escassez de água e exposição a doenças (alterações lentas e a longo prazo); e a exposição à poluição do ar e da poluição com chumbo (degradação ambiental).

Metade da população infantil mundial (cerca de mil milhões de crianças), está directamente exposta, em razão do País em que habita, à influência de fenómenos climatéricos extremos. A grande maioria destes países «de maior risco, são os que menos contribuem para as causas das alterações climáticas». Os 33 países com risco extremamente alto «emitem menos de dez por cento do total dos gases de efeito estufa do mundo».

Maiores poluidores sofrem menos

Os dados apresentados traçam um cenário dramático. «820 milhões de crianças (mais de um terço do total de crianças no mundo) estão actualmente expostas a ondas de calor», ao mesmo passo que 920 milhões de crianças estão directamente expostas à escassez de água.

90% das crianças do mundo vivem em ambientes com um elevado grau de poluição do ar, enquanto mais de 800 milhões estão em contacto permanente com ambientes contaminados por chumbo, na água, ar, solo e na comida.

Um combate eficaz contra a pobreza, o investimento em infraestruturas de serviços de acesso a água, saneamento e higiene, a criação de estruturas de apoio médico e nutritivo e o combate ao analfabetismo poderiam diminuir significativamente o risco para centenas de milhões de crianças. Cada um destes progressos isoladamente significaria uma diminuição de 310, 415, 460 e 275 milhões de crianças, respectivamente, se focarmos individualmente cada uma destas áreas de intervenção. 

A República Centro Africana, o Chade e a Nigéria estão no topo da lista de países mais vulneráveis. Angola e Moçambique partilham, com Madagáscar e os Camarões a 10.ª posição do ranking. Os primeiros países Europeus na lista estão na posição 102, França, Itália e Roménia. Portugal está na posição 135, representando um risco médio-baixo para a sua população infantil.

Apenas seis países têm um risco baixo de sofrer consequências graves das alterações climáticas na sua população infantil: Suécia, Estónia, Finlândia, Nova Zelândia, Luxemburgo e, no fundo da tabela, a Islândia.

Estes dados não implicam que os efeitos do aquecimento global sejam neutros nos países com um risco baixo, ou médio-baixo, tão somente que estão melhor equipados economicamente e posicionados geográficamente para dar uma melhor resposta aos fenómenos que se agudizarão nas suas áreas geográficas.

AbrilAbril | Imagem: Crianças refugiadas brincam nos destroços de um carro no campo Khan Younis, Faixa de Gaza, PalestinaCréditosMohammed Saber / Agência Lusa

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