Sissoco Embaló: "O que os americanos disseram tem validade na América, mas aqui não"
A recusa do Presidente guineense em entregar aos EUA o ex-chefe de Estado Maior General da Forças Armadas, António Indjai, visa acalmar os ânimos, afirmam analistas. Mas há quem reprove parte das declarações de Sissoco.
Foi a primeira reação de uma autoridade guineense à oferta de cinco milhões de dólares, pelos Estados Unidos de América, para a detenção do antigo chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, António Indjai. O Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, afastou qualquer possibilidade de o oficial militar ser entregue aos norte-americanos, que o acusam de vários crimes.
Para o professor de relações Internacionais Fernando da Fonseca, o discurso do chefe de Estado foi bem contextualizado: "Eu acredito que seja mais um discurso mais de contenção, visando, na verdade, acalmar os ânimos internos", considera.
"Umaro Sissoco Embaló compreende a dimensão que António Indjai tem aqui dentro do país e usando um discurso que não vai ao encontro dos interesses de António Indjai, isso pode suscitar anomalias internas", argumenta.
Esta segunda-feira (23.08), momentos antes de partir para uma visita oficial ao Brasil, o chefe de Estado guineense fez conhecer a posição da Guiné-Bissau em relação ao caso Indjai: "Se António (Indjai) fez o que disseram que fez, se o provarem, podemos julgá-lo aqui. António Indjai é livre de se movimentar em todo o território nacional. O que os americanos disseram [mandado de detenção] tem validade na América, mas aqui não".
Discurso do PR muda alguma coisa?
"E não é só António Indjai, nenhum cidadão será capturado aqui para ser julgado noutro país", garantiu Sissoco.
Os Estados Unidos da América acusam António Indjai de conspiração de narcoterrorismo, conspiração para importar cocaína, conspiração para fornecer apoio material a uma organização terrorista estrangeira e conspiração para adquirir e transferir mísseis antiaéreos.
Perante as acusações, e depois das declarações de Umaro Sissoco Embaló, Fernando da Fonseca acredita que nada mudará.
"Os Estados Unidos da América, certamente, vão continuar a encaminhar este processo, tomando em conta os seus interesses. Eu acredito que este discurso [de Umaro Sissoco Embaló] não vai mudar muita coisa", prevê.
Risco de "caça ao homem"
Umaro Sissoco Embaló disse que já deu orientações ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau para se inteirar junto dos Estados Unidos da América, sobre o processo do antigo chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, reconhecendo ainda que são graves as acusações contra o oficial militar.
O jurista Suleimane Cassamá explica que a Constituição guineense não permite a extradição do cidadão nacional, mas reprova parte das declarações do Presidente da República.
"Ele [Umaro Sissoco Embaló] disse que António Indjai é livre de circular em todo o país, mas isso não é verdade, há que ter cuidados. Não se pode expor um conterrâneo nosso ou estimulando aqueles que podem ser caçadores do prémio a estarem atento ao nosso conterrâneo", alerta o jurista.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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