Marrocos quer iniciar "etapa sem precedentes" nas relações com Espanha
O Rei de Marrocos, Mohammed VI, pretende alcançar um entendimento com Espanha e "inaugurar uma etapa sem precedentes nas relações entre os dois países", ultrapassando a crise diplomática bilateral devida à questão do Saara Ocidental (República Árabe Saauri Democrática).
No seu discurso anual por ocasião da Revolução do Rei e do Povo - que comemora o exílio do seu avô Mohammed V e a luta pela independência - o monarca abordou na noite de sexta-feira, pela primeira vez, a recente crise diplomática com Espanha, afirmando que o seu país está "empenhado em construir relações sólidas, construtivas e equilibradas, especialmente com os países vizinhos".
As relações entre os dois países, afirmou, "passaram recentemente por uma crise sem precedentes, que abalou a confiança mútua e levantou várias questões sobre o seu futuro".
Segundo Mohamed VI, Marrocos trabalhou com Espanha com "a máxima calma, total clareza e espírito de responsabilidade" e está empenhado em "reforçar as bases clássicas que subjazem a estas relações, através de uma compreensão conjunta dos interesses dos dois países vizinhos".
O rei acrescentou que seguiu "pessoal e diretamente o processo de diálogo, bem como o desenvolvimento das conversações", que tiveram como objetivo "não só encontrar uma saída para esta crise, mas também aproveitar a oportunidade para redefinir as bases e os parâmetros que regem estas relações".
"Com sincero otimismo, expressamos o nosso desejo de continuar a trabalhar com o governo espanhol e o seu presidente, Pedro Sánchez, a fim de inaugurar uma etapa sem precedentes nas relações entre os nossos dois países", afirmou.
O monarca adiantou que "a partir de agora, estas [relações] devem basear-se na confiança, transparência, consideração mútua e respeito pelos compromissos".
O facto de Espanha ter acolhido este ano o líder da Frente Polisário, Brahim Ghali, que foi internado num hospital espanhol com covid-19, provocou a fúria de Marrocos, que anexou o Saara Ocidental nos anos 1970, gerando uma crise entre os dois países.
O incidente culminou com a chegada, em junho, de milhares de migrantes ilegais - incluindo muitas crianças não acompanhadas - a Ceuta, enclave espanhol no norte de África, que faz fronteira com Marrocos.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, considerou na altura que era "absolutamente inaceitável" que Marrocos tenha conseguido "atacar as fronteiras" de Ceuta com o assalto de mais de 10.000 pessoas, como forma de protesto contra um problema de política externa.
Sánchez alertou então que Marrocos "não deve esquecer que não tem melhor ou maior aliado na UE do que a Espanha", que é um "interlocutor essencial e privilegiado" com a Europa.
Marrocos tinha divulgado pouco antes uma declaração oficial onde afirmava que a crise entre os dois países não se devia ao facto de o líder da Frente Polisário estar internado num hospital espanhol, mas sim à posição espanhola sobre o Saara Ocidental.
"A crise não está ligada ao caso de um homem (...). É, antes de mais, uma história de quebra de confiança e respeito mútuo entre Marrocos e Espanha. É um teste para a fiabilidade da parceria bilateral", de acordo com o texto publicado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros marroquino.
Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: O rei de Marrocos, ocupante tirano e ilegal do Sahara Ocidental - RASD / © Reuters
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