quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Partilha da liberdade de navegação

David Chan* | Plataforma | opinião

Recentemente, durante uma série de exercícios militares entre os EUA e a Austrália, um navio chinês aproximou-se das duas forças militares. Na sequência dessa aproximação foram enviados navios de combate. A chegada da embarcação chinesa, navio de reconhecimento eletrónico Tianwanxing, perto das águas onde estava a ser organizado o exercício, veio claramente interromper os planos dos dois países, da Austrália particularmente, que esperava através desta colaboração fortalecer os seus laços com os EUA. 

O lado americano, aconselhou o país a não responder, visto que ao longo dos últimos anos os dois têm não só procurado destruir a reputação chinesa, limitando as trocas comerciais do país, como também têm entrado em território do mar do Sul da China e violado a soberania territorial chinesa. Acrescenta-se ainda a perturbação de exercícios de força naval e aérea chinesas. O envio deste navio pela China é apenas cortesia, já a Austrália queria, sem perder a sua influência como grande potência, queixar-se do ocorrido à comunidade internacional, porém não conseguiu apanhar o navio chinês. O Tianwanxing (Urano), embora estivesse perto do exercício militar, nunca saiu de águas internacionais, mantendo uma distância considerável dos navios americanos e australianos. Nunca foram emitidos sinais eletromagnéticos, ou utilizado qualquer outro tipo de mecanismo eletrónico para influenciar os exercícios militares, não oferecendo qualquer argumento a explorar pelos EUA e Austrália.

Não houve intervenção direta do lado chinês, mas nunca deixou de ser observado com cautela pelos dois países, visto que qualquer revelação da sua força militar durante o exercício estaria a oferecer à China conhecimento sobre as táticas militares existentes entre os EUA e a Austrália. Além do mais, mesmo durante um período de silêncio eletromagnético, nada garante que os seus sinais não sejam intercetados pelos navios de espionagem chineses. Estes exercícios são quase sempre organizados com armas reais, e basta o radar ou equipamento de comunicação dos navios estar ativo para que as suas frequências sejam facilmente captadas por outros países que conseguem analisar o nível de armamento que possuem. A presença do navio Tianwanxing é, por isso, uma dissuasão maior do que um porta-aviões, pois não só perturba os exercícios militares EUA-Austrália, como mostra a outros países menos simpáticos que a China não é mais um país vulnerável.  

Todavia, existe outra razão para a presença de um navio Tianwanxing perto de águas australianas. A China tem organizado missões de lançamento espacial internas, que necessitam de monitorização marítima na região. O navio de reconhecimento eletrónico chinês foi avistado perto da costa australiana para medições de satélites chineses. Sendo assim, usufrui então do conceito ocidental de “liberdade de navegação”, e aproveita para observar os exercícios militares dos EUA e da Austrália que estavam dentro do espaço legal das leis internacionais.  

Editor Senior do PLATAFORMA* 

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