domingo, 19 de setembro de 2021

Falta de recolha de lixo causa mais surtos de malária em Angola

Falta de recolha do lixo ganha contornos preocupantes em Ndalatanto

Os populares da cidade de Ntalatando mostram-se preocupados com a falta de saneamento básico. Os moradores acusam o poder local de se preocupar com o povo só quando vai receber visita do Governo central.

A população da capital provincial do Kwanza Norte, Ndalatando, acusa o poder local de limpar a cidade só quando recebe a visita de um governante ou dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder. De acordo com a comunidade local, durante esta semana as autoridades locais trabalharam arduamente na limpeza e manutenção da cidade só para receber a visita do Presidente de Angola, João Lourenço.

"Nos últimos dias trataram os jardins, pintaram os edifícios e fizeram manutenção nas principais vias só para tentar mostrar ao Presidente que estão a desenvolver a cidade", disse à DW um dos citadinos de Ndalatando, neste sábado (18.09), Dia Mundial da Limpeza.

Os amontoados de lixo em várias esquinas dos bairros de Ndalatando, que dista a 256 quilómetros de Luanda, está a preocupar os moradores. Em resposta, a administração municipal de Cazengo diz que o problema tem a ver com a falta de meios técnicos e humanos para a recolha de lixo.

Ouvido pela DW, João Pedro Miguel, morador do bairro Vieta, diz que os amontoados de lixo em Ndalatando, são "principais postais" de visita da cidade, o que desagrada os moradores que temem doenças e queixam-se de mau cheiro.

"Estamos a ver os amontoados de lixo a invadir as instituições públicas, o exemplo concreto é a escola do ensino primário número 50, no bairro Vieta e tantas outras, onde o lixo está em todo lado, as pessoas até já passam a rasca", disse o morador desapontando com a situação.

Constrangimentos nas linhas ferroviárias

Os populares queixam-se também de lixo na linha férrea do Caminho de Ferro de Luanda (CFL), ao ponto de impedir a passagem de comboios.

O ativista cívico Hélder Neto diz que o saneamento básico é um dos principais problemas da cidade capital do Kwanza Norte, tida como, uma das cidades mais pobres do país.

 "Estamos mal com a recolha tardia do lixo, principalmente nos bairros adjacentes à cidade. Muitas vezes os amontoados de lixos ficam muito tempo sem ser retirados e vão lá crianças brincar", disse o ativista.

Quem circula por Ndalatando facilmente vê os montes de lixo, no centro da cidade ou zonas periféricas, onde as bermas das estradas se transformam em lixeiras, que dificultam, em muitos casos, a mobilidade.

Neto diz que o mesmo cenário se regista nos bairros Vieta, Sassa Carreira de Tiros, Mahamba, Miradouro, Posse, Che Guevara, Kilamba Kiaxi, Tiro aos pratos.

"As consequências são grandes com o surgimento das chuvas aumentam os riscos de contrair doenças, como paludismo, as doenças diarreicas agudas", disse

Casos de malária

O fraco saneamento básico também permitiu o aumento de casos de malária no município de Cazengo, que tem uma população estimada em 257 mil habitantes e possui uma extensão de mil e 768 quilômetros quadrados.

Segundo, Gonçalves Tandala, responsável provincial do Programa de Controlo e Combate à Malária, o Cazengo é um dos mais afetados da província com 37.026 casos, durante os últimos 9 meses deste ano, números superiores ao mesmo período do ano 2020. ´

Grande parte das lixeiras a céu aberto, sobretudo nas vias principais e secundárias, não tem contentores de pequeno ou médio porte e os que ainda resistem estão a transbordar de tanto lixo.

Moradores, transeuntes, vendedoras e automobilistas lamentaram a atual situação e afirmaram recear doenças, sobretudo nesta época chuvosa, neste cenário pintado de cores tristes.

António Domingos (Ndalatando) | Deutsche Welle

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