Jorge Bom Jesus promete "lealdade e abertura" no relacionamento com o novo chefe de Estado de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, que venceu a segunda volta das últimas presidenciais, a 5 de setembro.
O primeiro-ministro são-tomense confirma que vai remodelar a atual estrutura governativa depois da saída, por razões de saúde, de Óscar de Sousa, anterior tutelar da pasta da Defesa e Ordem Interna.
Circulavam rumores
"No próximo ano, teremos as eleições legislativas. Faltará ao Governo, sensivelmente, um ano de governação até às eleições legislativas e vamos tentar modelar o Governo, talhá-lo para os próximos 12 meses e, em função disso, naturalmente a área da Defesa", prometeu.
Refrescar o MLSTP-PSDO partido no poder, MLSTP-PSD, dirigido por Bom Jesus, tem perdido alguma popularidade nos últimos quatro anos, como confirmam os resultados das últimas eleições presidenciais. E um dos seus objetivos é recuperar forças e eleitores.
"Também nesse sentido, incutir uma nova dinâmica, tirar ilações de tudo aquilo que correu menos bem agora - durante as últimas eleições presidenciais - e podermos fazer tudo", disse o primeiro ministro.
Bom Jesus acrescentou ainda que se pode "perder uma batalha sem se ter perdido a guerra política" e que por isso, falou em dar um "novo impulso ao Governo."
Nega que o seu Governo tenha posto polícias internacionais, como a Interpol, a perseguir Patrice Trovoada. Diz, por isso, que não receia um eventual regresso ao país de líder da ADI, seu provável e principal adversário.
"Muita gente tenta mistificar a situação do senhor Patrice Trovoada. Mas, como tenho dito, é um político como qualquer outro. É um cidadão como qualquer outro. Portanto, tem direito e tem deveres. Saiu de São Tomé e Príncipe voluntariamente e quando quiser, poderá regressar."
Ideais diferentes de mãos dadas pelo país
Depois da vitória de 2018, Bom Jesus está confiante numa boa prestação nas legislativas de 2022. Entretanto, confirmada a eleição de Carlos Vila Nova como novo Presidente da República, o chefe do Executivo são-tomense garante que está disponível para uma "coabitação saudável" entre todos os órgãos de soberania.
"Essa realidade de coabitação tem sido uma prática nos últimos anos. Eu próprio passei os últimos dois anos e meio em coabitação com o Presidente Evaristo Carvalho, que é oriundo das fileiras da ADI", diz.
E garante que "desta vez, também não será diferente. A Constituição tem balizas, dita as regras do jogo, e acho que, pelo menos no que me toca, tentarei estar disponível para cooperar no quadro da própria interdependência que existe entre os órgãos."
O primeiro-ministro são-tomense reforça ainda a ideia de união a afirmar que todos devem "remar no mesmo sentido, no sentido do desenvolvimento de São Tomé e Príncipe para a garantia do bem-estar das populações."
Bom Jesus concorda com o apelo do novo Presidente, de que é preciso coesão para unir os são-tomenses contra o ódio que marcou a vida política nacional nos últimos anos.
"Não podemos permitir que a politização excessiva nos possa separar. Acima de muita coisa que nos separa, eu acho que há muito mais coisas que nos unem e o desenvolvimento de São Tomé e Príncipe assim o reclama”, defendeu.
"Em 46 anos, falta fazer muita coisa", afirma Bom Jesus, que reconhece que "o país ainda acusa algum atraso em muitas áreas", sendo elevado o índice da pobreza. Em resposta às críticas "justas e injustas", sobretudo através das redes sociais, o primeiro-ministro admite que "faltou eficácia" do seu Executivo em muitos setores.
Jesus esclarece: "Eu não procuro sempre justificação na realidade pandémica, mas o que é verdade é que a pandemia, enfim, condicionou os programas de muitos governos pelo mundo fora. E São Tomé e Príncipe não é exceção".
Covid-19 bloqueou a "mina" do turismo
Nas últimas semanas, fruto dos
excessos do período eleitoral, têm aumentado os números de infetados no país,
mas o Governo são-tomense prevê medidas para conter a expansão da Covid-
Jesus lembra que "o país sobrevive do turismo" e justifica: "Durante este período tivemos os aeroportos praticamente fechados, os voos paralisados. Isto afetou bastante o setor turístico".
Os problemas de desemprego são notórios. Os indicadores de pobreza aumentaram ligeiramente, segundo o chefe do Executivo, "não obstante todos os programas de mitigação do impacto" da pandemia.
"Neste momento, urge revertermos a situação", assegura o primeiro-ministro.
João Carlos | Deutsche Welle
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