Algumas das medidas de confinamento já estão a voltar
A leste a situação é muito mais grave do que a ocidente com países como a Roménia e a Bulgária com sistemas de saúde já em colapso. Áustria, Alemanha e Países Baixos são os primeiros a voltar a impor algumas medidas de confinamento
Ao fim de semana, nestas primeiras semanas de novembro em que muitas pessoas já andam às compras para o Natal, é fácil esquecer que há um vírus altamente contagioso que continua a infetar centenas de pessoas todos os dias em Portugal e milhares em vários países europeus. A normalidade antiga, fora as máscaras que, por cá, ainda usamos bastante em espaços mais congestionados, voltou a ser o dia-a-dia mas em toda a Europa os governos estão a ter de rever as liberdades que foram dando aos seus cidadãos à medida que o processo de vacinação ia acelerando e protegendo cada faixa etária da população.
Nos Países Baixos o confinamento já regressou, este sábado, ainda que em moldes menos duros, e, na Alemanha, os responsáveis dos serviços de saúde dos vários estados mais afetados defendem que volte o controlo dos grandes ajuntamentos.
A partir de segunda-feira, em Berlim, apenas as pessoas vacinadas ou recuperadas recentemente poderão frequentar restaurantes, cinemas e cabeleireiros. O ministro federal da saúde, Jens Spahn, propôs na sexta-feira regras semelhantes para a entrada em eventos públicos.
A Áustria, que tem a taxa de vacinação mais baixa dos países da Europa Ocidental ( (62.8%) anunciou na sexta-feira que vai impor regras de confinamento para quem não está vacinado e a Alemanha também já disse que não só vai banir o acesso de pessoas não vacinadas a certos eventos e espaços como, numa nova lei sobre teletrabalho que deve entrar em vigor em breve, vai “aconselhar vivamente” os empregadores a pedirem ou testes ou vacinas a quem não quer continuar em teletrabalho.
O Natal, principalmente no norte e centro da Europa, onde a tradição dos mercados de Natal dá vida a vilas e aldeias durante mais de um mês e em pleno inverno, vai de certo perder uma parte do brilho e da diversão até porque, como disse o primeiro-ministro do estado da Saxónia, Michael Kretschmer, “não podemos imaginar estar a beber vinho quente na rua enquanto os hospitais entopem e esgotam recursos”.
A Organização Mundial da Saúde já avisou que o epicentro desta nova vaga é a Europa, e há números, da própria OMS, que o provam. As infeções aumentaram 7% na semana passada, e as mortes 10%, o que faz da Europa a única região do mundo onde os casos e mortes estão a aumentar de forma consistente, não acontece apenas num país nem é uma anomalia diária. Quase dois terços das novas infeções - cerca de 1,9 milhões - ocorreram na Europa o que faz desta semana que terminou a sexta semana consecutiva em que a disseminação do vírus aumentou no continente.
As medidas impostas pelos Países Baixos podem ser a antevisão daquilo que espera os restantes países, assim que as taxas de infeção atingirem níveis que coloquem em risco os serviços nacionais de saúde. Os primeiros confinamentos não serão provavelmente tão restritivos como os que nos foram impostos em 2020 mas lojas não essenciais e restaurantes encerrados mais cedo (18h e 20h respetivamente, no caso holandês) e o regresso dos limites aos ajuntamentos em casa serão essenciais para reduzir os contágios dos meses mais críticos.
Os países com maior vacinação, como Portugal, Espanha e Malta, têm somatórios mais baixos de casos, internamentos e mortes mas ainda assim os números estão a subir aos poucos. Nada comparado com a situação bastante grave que já se vive a leste, por exemplo na Bulgária, Servia ou Roménia, onde há já quase dois meses os médicos batalham contra a persistência desta quinta vaga.
A vacinação é mais baixa do que nos países mais ocidentais da Europa e alguns líderes não querem voltar aos dias do confinamento. A primeira-ministra da Sérvia, Ana Brnabic, disse no mês passado que não acredita em restrições espartanas. “Não acredito em medidas como as que existiam antes das vacinas. Para que é que temos vacinas então?”, disse, citada pela agência Associated Press.
Os médicos pensam de outra forma, porque nunca viram a vacina como o fim da pandemia. Ao diário “The Guardian”, o diretor para a Europa da OMS, Hans Kluge, insurgir-se contra a ideia de liberdade plena passada pelos políticos, uma vez conquistada a vacina: “A mensagem sempre foi: podem fazer tudo. As vacinas estão a fazer o que prometeram que é prevenir formas severas da doença, especialmente mortes mas elas são apenas a nossa arma mais forte se forem usadas ao mesmo tempo que impomos medidas preventivas”. A Bulgária e a Roménia são membros da União Europeia e as taxas de vacinação de ambos os países não conseguem impedir o caos dos hospitais: apenas 23% dos búlgaros têm a vacinação completa, um número que sobe um pouco entre os romenos passando para os 35%. Na Roménia, há recolher obrigatório das 22h às 5h mas as infeções baixaram muito pouco.
Ana França | Expresso
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